31/Oct/2025
Erra quem imagina que (apenas) aumentamos a expectativa máxima de vida do ser humano. O que realmente conquistamos foi o direito de mais pessoas envelhecerem. Os dados mostram que, em apenas um século, a população mundial passou de 2 bilhões para 8 bilhões de pessoas, e a expectativa média de vida saltou de menos de 50 para mais de 80 anos. Essa conquista exige uma nova forma de organização coletiva. Afinal, estamos colocando novos elementos dentro do ciclo da vida. Nós não prolongamos a gestação, não prolongamos a infância, não prolongamos a adolescência, mas prolongamos o envelhecimento. Segundo a Universidade de São Paulo (USP), estamos diante de uma revolução silenciosa. Pela primeira vez, há mais pessoas vivendo o envelhecimento de forma ativa, produtiva e conectada, algo impensável há poucas décadas.
O envelhecimento ativo vem mudando a percepção social da idade. Isso reflete a própria visão da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, desde 2015, define o envelhecimento saudável como a capacidade de “manter o bem-estar físico, mental e social ao longo da vida”, e não apenas a ausência de doenças. Durante a pandemia de Covid-19, um estudo no InCor analisou mais de cinco mil pacientes acima de 50 anos internados com o vírus. O estudo mostrou que o fator determinante para a sobrevivência não era a idade cronológica, e, sim, a idade funcional (medida pela capacidade de realizar atividades cotidianas e de manter a autonomia). Pacientes idosos com boa funcionalidade tiveram mortalidade semelhante à de adultos mais jovens. Por outro lado, pessoas da mesma faixa etária, mas já com perda funcional, apresentaram mortalidade muito mais alta.
Os resultados reforçam que o envelhecimento é um processo individual e, para o médico. Nós nos tornamos cada vez mais diferentes um do outro na medida em que envelhecemos. Envelhecer na Amazônia é diferente de envelhecer em São Paulo ou em Porto Alegre ou em qualquer outro local. O envelhecimento populacional traz ganhos civilizatórios incontestáveis, mas também desafios econômicos e de sustentabilidade. Enquanto países desenvolvidos, como Suécia e Inglaterra, levaram cerca de um século para duplicar sua população idosa, outros como Brasil e China farão isso em menos de 20 anos, o que cria uma pressão inédita sobre os sistemas de saúde, previdência e cuidados. Entre os novos desafios da longevidade, há também um fator muitas vezes negligenciado: o impacto das mudanças climáticas sobre o envelhecimento.
Ondas de calor extremo afetam diretamente a saúde de pessoas idosas, especialmente nas grandes cidades, onde há menos árvores, sombra e ventilação natural. Um estudo de longo prazo realizado em Taiwan acompanhou 25 mil pessoas durante 15 anos e mostrou que as ondas de calor aceleram o envelhecimento biológico tanto quanto fumar ou levar uma vida sedentária. As transformações demográficas alteraram ainda a estrutura familiar. Antes, as famílias tinham um idoso, dois adultos e quatro crianças. Hoje, muitas têm quatro adultos e uma criança. Esse novo arranjo redistribui o cuidado e amplia o papel das mulheres, que continuam sendo as principais cuidadoras de idosos, muitas vezes em prejuízo da própria saúde, renda e carreira. O etarismo (discriminação por idade) é uma forma de violência silenciosa, mas com alto custo social e econômico.
O etarismo reduz a expectativa de vida em até sete anos e meio e aumenta os gastos com saúde. Um estudo norte-americano estima que US$ 1,00 em cada US$ 7,00 gastos em saúde nos Estados Unidos está relacionado a comportamentos e efeitos do preconceito etário. Além de viverem menos, as pessoas discriminadas por idade vivem pior e gastam mais com doenças evitáveis. Por isso tudo, é preciso que a educação para o envelhecimento saudável comece ainda na infância. Crianças e adolescentes devem entender que envelhecer faz parte da vida, e que viver mais é uma conquista coletiva, não um fardo individual. A abordagem deve ser multissetorial e sustentável, baseada em planejamento de longo prazo e solidariedade social. Se trata do interesse coletivo. É preciso sustentabilidade social e econômica para envelhecer com dignidade. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.