24/Nov/2025
A considerar pelos números de três dos principais bancos privados, o setor financeiro brasileiro vem num processo de aceleração na agenda de sustentabilidade. As instituições estão atingindo e superando suas metas de financiamento verde e social antes dos prazos determinados e, diante disso, têm optado por subir a régua. A percepção dos profissionais que trabalham com essa agenda é de que a transição climática deixou de ser vista apenas como uma gestão de risco e começou a ser encarada como uma agenda de negócios. E isso está impulsionando o desenvolvimento de produtos e parcerias, sendo um dos fatores que levou o mercado financeiro a participar ativamente da COP30.
O Bradesco acabou de bater a meta de R$ 350 bilhões para negócios sustentáveis firmada em 2021. O objetivo era alcançar esse montante em dezembro deste ano. No Itaú BBA, o compromisso é de atingir R$ 1 trilhão em financiamento para transição climática até 2030. A carteira já alcançou R$ 522 bilhões. A meta era menor, de R$ 400 bilhões para dezembro, mas foi impulsionada pela grande demanda dos clientes. Para o banco, financiar a transição é 'negócio da veia', e não financiá-la representa um risco muito grande. O Santander tem uma meta comparável às duas outras instituições em termos globais, de 100 bilhões de euros, em 2025, que já foi atingida.
Para Brasil, no entanto, o objetivo era menor, de R$ 30 bilhões. Como alcançou antecipadamente a meta global, o Santander definiu um novo alvo, de 230 bilhões de euros para 2030. A concessão de incentivos de preço é crucial para o cliente se engajar na agenda de transição. O principal incentivo para o cliente aceitar metas ambientais numa operação é a redução de taxa que ocorre se as metas forem atingidas. Um dos consensos entre as instituições é a importância do papel catalisador do governo. O Itaú e o Bradesco, por exemplo, participaram dos leilões do Ecoinveste, um programa governamental que combina capital público e privado (blended financing) para fomentar projetos.
O Santander, por sua vez, atua como repassador de funding diferenciado oferecido pelo governo, como o Fundo Clima. Esta aliança é extremamente relevante para que a gente fomente cada vez mais a agenda da sustentabilidade e para que ela olhe a economia real. As instituições ressaltam também a necessidade de levar o conhecimento sobre sustentabilidade e transição para boa parte dos clientes. Nesse sentido, todas relatam ações que vão desde difusão de informações a consultoria e orientação sobre, por exemplo, mensuração de emissões. Apesar da transição econômica fazer parte das estratégias das instituições, os especialistas relatam desafios principalmente em relação à escalabilidade e aos custos de monitoramento das operações.
O Itaú BBA avaliou que há uma demanda superior à atual disponibilidade de recursos financeiros para o investimento em projetos de caráter sustentável. O banco vê com "bons olhos" a forma como está sendo estruturado o Eco Invest Brasil, que busca atrair capital externo para projetos de longo prazo utilizando instrumentos de proteção contra a volatilidade do câmbio. O volume de emissões do banco, por exemplo, a mercado, de operações sustentáveis, está crescendo dois dígitos esse ano contra o ano passado. Assim como outras instituições financeiras, o Itaú Unibanco e o Itaú BBA estavam com representantes em Belém (PA) ao longo da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).
Sobre o 4º leilão do Eco Invest Brasil, recentemente anunciado, é preciso aguardar maiores detalhes. Para o novo leilão, as instituições financeiras interessadas terão prazo no início de 2026 para a apresentação de propostas. No geral, haverá fomento a projetos em três setores. O primeiro é a bioeconomia, em todo o território nacional e mínimo de 25% na Amazônia Legal. O segundo é turismo ecológico sustentável em todo território nacional, com foco na Amazônia Legal, repetindo o mínimo de 25%. O terceiro é em infraestrutura, incluindo o setor aquaviário, portuário e infraestrutura habilitante, apenas na Amazônia Legal.
O Itaú avaliou que a necessidade de financiamento verde é algo posto, independente de posições ideológicas. A consciência "chega pela dor e pela perda", em referência aos efeitos econômicos nocivos com eventos climáticos extremos, ao lado das consequências sociais. Os fenômenos climáticos estão afetando tudo. Da geração de energia à produção de alimento, ao custo de irrigação na Região Centro-Oeste que está altíssimo, transporte e logística, linhas de transmissão que sofrem apagão por conta de evento climático. As empresas que estiverem preparadas para as mudanças climáticas estarão mais bem posicionadas. O tema da adaptação passa, por exemplo, pelo tipo de material que será mais forte durante um vendaval ou o tipo de tecnologia no solo necessária para evitar maior insolação de culturas agrícolas.
Um eventual cenário geopolítico refratário às práticas ESG (Environmental, Social and Governance) não muda o fato de que há materialização da mudança do clima. Não é por orientação política. É pelo clima, que não olha para qual é a cor do partido no poder. Ele se materializa. O cenário 1,5ºC (limite do aquecimento) é real e está se materializando cada dia mais frequentemente. No caso do Itaú BBA, o compromisso é de atingir R$ 1 trilhão em financiamento para transição climática até 2030. Um dos pontos centrais na negociação da COP30 é o avanço no tema do financiamento de ações climáticas em países em desenvolvimento, a partir de diferentes fontes de recursos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.