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24/Nov/2025

Mercosul-UE: exigência vira vantagem estratégica

O desafio é transformar rigor em oportunidade real. Estou na Europa esta semana, entre agendas na Itália, Suíça e Portugal, e o tema que domina muitas das conversas institucionais por aqui é o acordo Mercosul-União Europeia. Em cada encontro, fica evidente que esse debate vai muito além de tarifas ou burocracias. Ele marca a forma como países se reposicionam nas cadeias globais de valor. E há um ponto adicional neste momento. As pautas de debate da COP30 estão, em parte, conectadas a algumas discussões do acordo Mercosul-UE. Sustentabilidade, rastreabilidade, carbono, governança e boas práticas ambientais aparecem como critérios centrais de competitividade e influenciam diretamente a forma como o Brasil será percebido no comércio internacional. Nas agendas desta semana, acompanho discussões técnicas e institucionais que envolvem lideranças europeias do setor público e privado.

Esses diálogos ajudam a compreender com mais precisão o rumo das negociações, as expectativas dos mercados e as tendências que devem influenciar diretamente o agro nos próximos anos. O acordo abre espaço para ampliar o acesso a mercados de alto valor. A Europa, reconhecida por sua exigência e pelo rigor regulatório, pode destravar oportunidades importantes para carnes, frutas, café industrializado, açúcar, etanol e produtos premium. Trata-se menos de vender volume e mais de vender valor, com margens superiores e uma narrativa de qualidade que acompanha o produto. Ao mesmo tempo, a sustentabilidade se coloca como um diferencial competitivo. Muito do debate europeu gira em torno de certificações, rastreabilidade, governança ambiental e controle de emissões.

E o Brasil já opera sob bases extremamente sólidas: monitoramento remoto contínuo, Código Florestal único no mundo, preservação extensa de biomas e sistemas produtivos de baixas emissões que, quando bem-posicionados, convertem exigências em vantagem real. Há ainda o componente estratégico da previsibilidade. Acordos estruturantes reduzem riscos e favorecem investimentos em bioenergia, logística, industrialização e integração entre campo e indústria. A diversificação de parceiros também é decisiva, especialmente em um cenário marcado por tensões geopolíticas, guerras tarifárias e oscilações de demanda concentrada em poucos compradores. Tornar-se menos dependente de mercados específicos amplia competitividade e protege margens em um ambiente global volátil. Ao circular pela Europa e observar o ambiente de negócios, a percepção é clara. O Brasil está diante de uma janela relevante de reposicionamento global.

Quando combinamos sustentabilidade, escala, tecnologia e estratégia, ampliamos nossa capacidade de ocupar novos espaços no comércio internacional. Mas isso exige comunicar amplamente o que já fazemos, com dados consistentes, narrativa sólida e presença ativa nos mercados que mais valorizam critérios ambientais e de governança. O debate agora precisa evoluir. Não basta discutir o acordo. É preciso transformar exigências em vantagem competitiva, comunicar melhor o que já fazemos e consolidar uma percepção global coerente com a qualidade real do nosso agro. E num momento em que houve uma evidente desidratação dos trabalhos ligados à COP30, reforçar narrativa, dados e estratégia deixa de ser opcional e passa a ser determinante para proteger competitividade, margens e acesso a mercados exigentes como o europeu. A janela existe. A estratégia também. O momento é de liderança. Estar aqui acompanhando estas discussões reforça meu compromisso com análise profunda, clareza técnica e presença ativa nos espaços onde o futuro do agro é desenhado. Fonte: Andrea Cordeiro. Broadcast Agro.