15/Dec/2025
O número de brasileiros pobres ou miseráveis caiu para o menor patamar histórico em 2024, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se de notícia indiscutivelmente positiva. No entanto, é preciso cautela: nada sugere que esse contingente de cidadãos tenha conseguido deixar de vez a pobreza, porque o motivo que os tirou de lá é circunstancial, e não estrutural. Ou seja, trata-se de uma população vulnerável, que a qualquer momento, a depender dos ‘sacolejos’ da economia, pode voltar à condição de pobreza, porque sua situação segue sendo intrinsecamente precária. No ano passado, 48,9 milhões de brasileiros (23,1% da população) viviam abaixo da linha da pobreza, isto é, sobreviviam com R$ 23,13 por dia. Em 2023, esse contingente era de 57,6 milhões de pessoas.
O número de miseráveis, ou seja, os que sobrevivem com menos de R$ 7,27 por dia, equivalia a 3,5% da população em 2024, ou 7,4 milhões de brasileiros, ante 4,4% (9,3 milhões) em 2023. Mesmo no menor patamar histórico, o número de brasileiros abaixo da linha da pobreza ou em situação de miséria segue inaceitavelmente elevado. Mais de um quarto dos mais de 200 milhões de brasileiros vive em situação de vulnerabilidade ou extrema vulnerabilidade. Mas, além de o Brasil ainda ter pobres e miseráveis demais, a queda no percentual daqueles que deixaram tão infame condição dependeu do aquecimento circunstancial do mercado de trabalho e dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Em outubro, a taxa de desemprego no Brasil caiu para 5,4%, a menor já registrada no País. Ou seja, vive-se hoje uma situação de pleno emprego.
Tal quadro, porém, dificilmente se sustentará, uma vez que o choque de juros promovido pelo Banco Central já provoca a desaceleração do PIB. No terceiro trimestre, por exemplo, o produto interno brasileiro teve expansão anêmica, de 0,1%. Mesmo com a desaceleração encaminhada da economia, a inflação, que vem caindo lentamente, segue muito elevada, bastante acima da meta do Banco Central, de 3% ao ano. Isso significa que a taxa básica de juros, atualmente em 15% ao ano, seguirá acima de dois dígitos ainda por um longo período. Nesse cenário, é improvável que os indicadores de desemprego se mantenham tão favoráveis como agora. E há ainda a questão fundamental da natureza do emprego. Apesar dos recordes positivos, o grau de formalização do trabalho no Brasil é muito baixo.
O número de funcionários com carteira assinada era de menos de 50 milhões em outubro, num contingente de 102,6 milhões de trabalhadores. A grande massa de trabalhadores no Brasil é aquela que vive de bicos. São os inúmeros brasileiros que vendem toda sorte de produtos pelas ruas das grandes cidades ou que, graças ao advento dos aplicativos de entrega e de transporte, conseguem gerar alguma renda para sua família. Ocorre que essa grande massa não apenas mascara a realidade do emprego no Brasil, como também é extremamente vulnerável à desaceleração econômica em curso. São pessoas que, em razão da baixa escolaridade e da falta de habilidades técnicas, só não estão em situação de desemprego graças à chamada ‘uberização’ da economia. Para o governo, a queda nos indicadores de pobreza mostra que o Brasil vive uma nova realidade, com mais oportunidades, melhora da renda e redução da desigualdade.
Embora a fotografia de momento até apoie tal celebração, a realidade é que o Brasil segue longe de oferecer à sua população condições reais de prosperar e superar as desigualdades, de modo que a pobreza não seja uma constante ameaça. Enquanto o governo seguir gastando muito e não promover melhora efetiva na qualidade da educação, o Brasil seguirá sendo uma nação dependente de programas como o Bolsa Família e de trabalho precário para aliviar um pouco o fardo de milhões de brasileiros para os quais o Estado sempre esteve de costas. Sem educação de qualidade, inovação e aumento da produtividade, o Brasil não só arrisca ver os números de pobres e miseráveis diminuir ou aumentar circunstancialmente, como transforma programas de transferência de renda em um fim, desvirtuando completamente o caráter de políticas públicas que deveriam funcionar como paliativos temporários. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.