05/Jun/2019
Os últimos indicadores de atividade em diversos países elevaram o temor de que a economia mundial está se desacelerando em um ritmo mais forte do que previamente imaginado, com a escalada da tensão entre os Estados Unidos e seus principais parceiros comerciais, como a China e o México, derretendo a confiança de empresários e consumidores ao redor do globo. Por enquanto, em termos de mercado externo, a economia brasileira sofreu um impacto direto mais visível da recessão que abate a Argentina, resultando num tombo das exportações de veículos produzidos no País. Mas, com a perspectiva de uma desaceleração maior global no segundo semestre deste ano, existe dúvida se chegarão finalmente sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro os efeitos da fraqueza econômica mais pronunciada na zona do euro, nos Estados Unidos, na China, no Japão e em outras grandes economias. Em maio, o nível de atividade da indústria global entrou para o território negativo, de contração: o índice de gerentes de compra (PMI) do setor industrial global caiu de 50,3 em abril para 49,8, seu pior resultado desde outubro de 2012.
Resultados abaixo de 50 mostram recuo da atividade. Na zona do euro, o setor industrial já se encontra em recessão. Em maio, o PMI industrial caiu pelo quarto mês consecutivo, para 47,7. Nos Estados Unidos, esse índice registrou em maio seu menor nível desde setembro de 2009. A situação tornou-se mais preocupante até em mercados emergentes que vinham apresentando uma expansão acelerada. Na semana passada, a Índia divulgou seu PIB do primeiro trimestre deste ano: cresceu 5,8%, pior resultado em 5 anos, enquanto as estimativas apontavam para uma expansão de 6,3%. Em abril, as vendas no varejo da China cresceram a uma taxa anual de 7,2%, abaixo dos 8,8% projetados. A produção industrial chinesa subiu 5,4%, aquém dos 6,6% estimados pelo mercado. E já há temores de que o crescimento do PIB chinês possa cair abaixo de 6% neste ano, uma barreira psicológica importante.
Não à toa, o banco americano JPMorgan elevou de 25% para 40% o risco de uma recessão na economia global no segundo semestre deste ano. O Brasil foi relativamente poupado de maiores preocupações relativas à desaceleração do crescimento global nos últimos 12 meses em grande parte porque se beneficiou do desvio de comércio da China, que reduziu importações dos Estados Unidos e passou a importar mais do País (principalmente soja e petróleo) por causa das ameaças de guerra comercial. Havendo uma desaceleração mais acentuada, tal efeito (desvio) possivelmente não será mais suficiente para deixar o Brasil imune. Isso deverá ocorrer, primeiramente, pela deterioração do ambiente internacional por conta de um crescimento global menor, mas também com a possível queda efetiva em exportações mais adiante, além de fluxos menores de investimento estrangeiro direto. A ameaça de novas tarifas por parte dos Estados Unidos ao México, se somando aquelas à China, pode vir a ter um impacto relevante no crescimento norte-americano e, por consequência, em seus parceiros comerciais.
O Barclays revisou sua projeção de crescimento do PIB norte-americano deste ano de 2,8% para 2,5% e rebaixou a estimativa em 2020 de 2,1% para expansão de apenas 1,4%. São mudanças relevantes em se tratando da maior economia do planeta. Em relação à Argentina, a expectativa é de que o pior da recessão está ficando para trás. Para o Brasil, o Barclays projeta um crescimento de 1,2% do PIB em 2019. Enquanto pairar sobre empresários e consumidores globais a ameaça de uma guerra comercial total, a economia mundial deve seguir perdendo fôlego. Até agora, o peso da tensão comercial tem sido mais sobre o sentimento dos agentes econômicos. O impacto direto da adoção das tarifas foi de 0,1% sobre o PIB global, enquanto o efeito indireto (via confiança e investimentos) foi de 0,2%. Sem perspectiva de um fim à guerra comercial, a economia global seguirá patinando. O risco de uma desaceleração mais forte é palpável. E o estrago sobre o PIB brasileiro ainda não foi totalmente dimensionado pelo mercado. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.