14/Jun/2019
A deterioração dos conflitos comerciais internacionais, sobretudo entre os governos dos Estados Unidos e da China, pode levar os principais bancos centrais do planeta a um ciclo de medidas monetárias acomodatícias, como a redução de juros, para evitar que suas respectivas economias ingressem em uma perigosa espiral de forte desaceleração. Nos Estados Unidos, especialistas ponderam que tais movimentos dos bancos centrais poderão até ser coordenados entre seus dirigentes pelo mundo caso ocorra o que todos temem: um grande choque provocado por uma guerra aberta de tarifas para importados de diversos países. Não há um cenário claro sobre os desfechos das disputas comerciais entre Estados Unidos e China, cujo próximo capítulo deve ser a reunião dos presidentes Donald Trump e Xi Jinping na cúpula do G-20 no final deste mês.
Se de um lado os mercados ainda sinalizam que algum tipo de acordo ou trégua entre os dois líderes poderá ser firmado no curto prazo, há também uma percepção de que as incertezas e tensões que envolvem as duas principais economias do mundo não serão dissipadas tão cedo. As disputas comerciais podem se estender por muito tempo, pois o governo Donald Trump acredita que os Estados Unidos só têm a ganhar ao impor tarifas para viabilizar melhores negociações e reduzir o déficit nesta área internacional. Essas tensões devem demorar anos, pois no aspecto político o presidente norte-americano tem o apoio de seus eleitores, dado que boa parte deles acredita que seus empregos foram muito prejudicados com o fluxo internacional de mercadorias importadas de outras nações. Para os apoiadores de Trump, mesmo que as disputas comerciais elevem os preços de várias mercadorias, isso é visto como um mal temporário e eles estão dispostos a tolerar suas consequências imediatas, como alta de preços de produtos, tais como carros ou eletroeletrônicos.
O grande fator que poderia deflagrar uma onda de medidas monetárias acomodatícias pelo planeta, eventualmente no segundo semestre, seria o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) decidir baixar os juros com base na certeza de que as tensões comerciais já afetam de forma expressiva o consumo, a geração de empregos e, de forma indireta, a estabilidade financeira nos Estados Unidos. Neste contexto negativo, o banco central norte-americano poderia até baixar os juros uma ou duas vezes neste ano como uma espécie de seguro para combater riscos de acontecer uma excessiva e prolongada volatilidade nos mercados com a piora das tensões comerciais. Com o Fed cortando os juros, o que poderia ser interpretado por investidores de que o ele está preocupado com a elevação das possibilidades do surgimento de uma recessão nos Estados Unidos em 2020, haveria um grande incentivo para vários bancos centrais pelo mundo para adotar ações de afrouxamento quantitativo, com destaque para o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ), dado que as taxas básicas nominais estão em 0% na zona do euro e, no país asiático, as taxas de depósito de curto prazo estão em -0,1%.
Os mercados emergentes também acompanhariam estas ações de corte de juros pelo globo, sobretudo as autoridades monetárias da Índia, Indonésia, Cingapura e Brasil. O Banco Central brasileiro deve cortar os juros em um 1% até o final do ano devido não somente às reduções dos Fed Funds nos Estados Unidos, mas sobretudo em função da fraca recuperação do nível de atividade do País. O Bank of America estima que o Fed reduzirá as taxas em setembro, dezembro o no começo de 2020, o que seria uma redução total de 0,75%. Mesmo que os Estados Unidos e a China acertem uma trégua nas suas disputas, é praticamente um consenso entre especialistas que as tensões comerciais continuarão, inclusive por fatores eleitorais.
Eles consideram que para o presidente Donald Trump é vantajoso ter uma postura dura nesta área, pois seria favorável às suas intenções de vencer novamente a corrida à Casa Branca em novembro de 2020. Um dos principais focos do governo norte-americano, depois de resolver seus contenciosos com a China, seriam tarifas sobre carros importados da Europa e do Japão. Este cenário de muitas incertezas comerciais, com impactos em investimentos e criação de empregos em nível global, levaria os bancos centrais a tentar evitar uma grave crise, o que poderia no limite gerar um movimento coordenado de políticas monetárias acomodatícias pelo planeta. Caso surja um choque internacional muito intenso com o risco sério de levar o mundo à recessão, seria desejável que as autoridades dos bancos centrais adotassem uma postura de sincronia de seus movimentos, como ocorreu após a Grande Recessão de 2008. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.