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02/Ago/2019

Amazônia: alta no desmatamento está equivocada

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o aumento de 88% do desmatamento da Amazônia em junho deste ano ante igual mês de 2018 não condiz com a realidade. Segundo ele, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) não afirmou que havia ocorrido esse aumento e quem interpretou esses dados foram as pessoas que os coletaram e analisaram de maneira equivocada. Ele afirmou que “as pessoas” são jornalistas, técnicos e ditos especialistas. Ele reafirmou que quem interpretou os dados não foi o Inpe, que faz um trabalho técnico. Dentro das informações publicadas no site do Inpe sobre o desmatamento no mês de junho, no entanto, há um gráfico que compara o desmatamento do mês, de pouco mais de 920 Km², com o do mesmo mês nos três anos anteriores. Em 2018, o desmatamento registrado em junho foi de cerca de 488 Km² (88% de crescimento na comparação entre os períodos).

Em 2017, também em junho, o desmatamento havia sido de pouco mais de 600 Km². E apenas o dado de junho de 2016, que também está no gráfico apresentado pelo Inpe, mostra um número maior do que o deste ano, de ao redor de 950 Km². Segundo o ministro, no entanto, esse percentual de crescimento que compara uma área desmatada de 488 Km² em junho de 2018 com 920 Km² em junho de 2019, foi criado para produzir "um impacto midiático". Ele afirma que há áreas que estão sendo creditadas como agora e que não são de agora, são do ano passado. Portanto, deduzindo essas áreas, esses porcentuais interpretativos cairão. O ministro explicou que, para poder desconsiderar as áreas que não são de agora, é preciso pegar cada um dos polígonos. Questionado se acha se o desmatamento está aumentando ou não, o ministro admitiu que há crescimento. O desmatamento vem aumentando desde 2012 e é preciso coibir. O ministro afirmou que há sobreposição de alertas nos dados do Inpe.

Questionado, o ministro disse que foi verificado que há um espaço muito grande para melhoria do trabalho de investigação do desmatamento e que essa melhoria se dará em trabalho conjunto com o Meio Ambiente e Inpe. O trabalho precisa ser aprimorado com monitoramento diário, alertas diários contra desmatamento ilegal. Ele afirmou que o desmatamento da Amazônia precisa ser contido. Ele disse ainda que os dados disponíveis hoje não são suficientes para prover as equipes de fiscalização em campo. Diversos dados de desmatamento que chegam às equipes são de 2017 e 2018. Ele acrescentou que irá lançar licitação para melhoria do sistema de fiscalização. O ministro também afirmou que o governo vai usar informações do Deter, sistema de detecção do desmatamento em tempo real, aliadas com o novo sistema de monitoramento que deve ser criado para combater o desmatamento.

De qualquer maneira, depois de passar quase duas semanas dizendo que os dados de desmatamento da Amazônia são mentirosos, o governo reconheceu que a taxa está em alta, mas afirmou que os números que vieram à tona foram uma interpretação equivocada. O período em que a taxa anual do desmatamento é medida se encerrou no dia 31 de julho (o período vai de 1º de agosto de um ano a 31 de julho do ano seguinte), e dados de alertas disponíveis no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que a perda da vegetação neste ano pode ter sido bem maior que no ano anterior. O agregado de alertas feitos pelo Deter aponta uma alta de 40% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Os satélites observaram uma perda até esta quarta de 5.879 Km² da floresta, ante 4.197 Km² entre 2017 e 2018. Os valores começaram a subir mais do que nos últimos anos a partir de maio.

Julho, de acordo com o Deter, trouxe a maior perda em um mês desde 2015. Até o dia 31 de julho, o desmatamento observado foi de 1.864,2 Km², valor 212% mais alto que julho de 2017. É mais do que a área da cidade de São Paulo, que tem cerca de 1.500 Km². Os números acendem um sinal vermelho. O Deter fornece dados diariamente para o Ibama e para secretarias estaduais de Meio Ambiente para ajudá-las na fiscalização. Ele observa desmatamento com solo exposto, desmatamento com vegetação, limpeza para mineração, degradação. Considerando os três primeiros pontos, que realmente indicam a perda da floresta, o chamado corte raso, chega-se aos números citados. Mais rápido, porém com resolução menor, o Deter funciona como um indicador do que um outro sistema, o Prodes, vai mostrar até o fim do ano. Este sim é o monitoramento que fornece a taxa anual oficial da Amazônia.

Nas últimas semanas, a gestão Bolsonaro, repercutindo análises de junho, começou a criticar o instituto e chegou a dizer que os dados são mentirosos, que o diretor do Inpe estaria “a serviço de alguma ONG” e a divulgação prejudica o País. Mas, o Ministro do Meio Ambiente reconheceu que o desmatamento está em alta. Segundo o Inpe, todos os dados apresentados por Ricardo Salles foram contra-argumentados pelos técnicos. O instituto reconheceu que às vezes um alerta pode não se confirmar depois como um real desmatamento, mas que, em geral os sinais demonstrados pelo Deter são confirmados depois pelo Prodes. Se um aponta alta, o outro provavelmente vai confirmar a mesma alta depois. Não significa que os 40% de alta vistos pelos alertas vão depois ser uma alta de 40% no Prodes. Os sistemas são diferentes. Mas, há uma correlação em torno de 82%. A previsão é de que vai ter alta neste ano com o Prodes. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.