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02/Ago/2019

Conectividade: ampliação da cobertura no campo

Queixa recorrente do agronegócio, a falta de conectividade no campo começa a receber mais atenção das grandes operadoras. Tendo à disposição o que é de mais moderno, como máquinas agrícolas autônomas, sensores, drones, aviões de pulverização, softwares, aplicativos, Internet das Coisas (Iot), os produtores rurais ainda não conseguem receber e transmitir em tempo real os dados coletados no campo. Segundo informações da Tim, apenas 10% de área produtiva do País tem conexão com internet. Todo esse potencial acordou as quatro maiores operadoras do País. Tim, Vivo, Claro e Oi estão ampliando investimentos e reforçando equipes, e se dizem preparadas para levar não só conexão de qualidade aos rincões produtores como soluções abrangentes, especialmente de IoT (dispositivos conectados entre si que enviam e captam informações). A estratégia adotada com o campo, contudo, é diferente da usada com o cliente urbano. Ao invés de aumento massivo da cobertura, a ordem é expandir o alcance conforme demanda específica de produtores ou empresas do setor.

Segundo a Vivo, levar conectividade ao campo é foco para a companhia, mas o desenvolvimento das soluções será feito em conjunto com os fazendeiros. A conectividade é um pedaço da solução. Segundo a Oi, a entrega não é só de conectividade, mas de IoT e outras soluções de big data (coleta e armazenamento de dados). A limitação atual existe porque nas últimas décadas as operadoras priorizaram a instalação nas cidades de torres que utilizam altas frequências, de 1.800 megahertz (MHz) e 2.600 MHz, por exemplo, com raio de alcance limitado, mas grande capacidade de tráfego de dados, necessária para atender a um amplo número de usuários. No campo, a demanda é inversa: há poucos usuários, mas a cobertura precisa se estender às extensas áreas de lavouras onde se encontram máquinas, equipamentos e armazéns. A conectividade é necessária para a transmissão de dados coletados no campo. A solução tecnológica para o impasse existe. O uso de frequências mais baixas, de 450 MHz, 700 MHz (até então usada para transmitir o sinal da TV analógica) ou 850 MHz viabiliza a transmissão de dados em raios de alcance maiores, de 35 quilômetros ou mais, dependendo da topografia e vegetação do terreno.

A liberação da faixa de 700 MHz, com o fim da TV analógica, é um estímulo às operadoras, por estar disponível em cidades e exigir investimentos menores. A Tim tem apostado na frequência de 700 Mhz. No lançamento da iniciativa ConectarAgro, no fim de abril, durante a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), a empresa informou que é ofertada conexão de internet 4G. A ação envolve também a montadora Agco, Bayer (por meio de seu braço de agricultura digital, Climate, que possui a plataforma Climate FildView, de monitoramento das lavouras), CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec e Trimble. Vivo e Oi, por outro lado, têm buscado explorar também a frequência de 450 Mhz que, de acordo com a Vivo, amplia a cobertura em 2,5 vezes em relação à faixa de 700 Mhz. Em abril, junto com Raízen, Ericsson e EsalqTec (incubadora de tecnologias para o agronegócio da Esalq), a Vivo fez uma demonstração de soluções de startups selecionadas para mostrar a eficácia da frequência de 450 Mhz. Outra questão que parece estar equacionada é o tipo de rede utilizada para transmitir dados.

As principais apostas existentes no mercado são a Narrow Band, que permite um tráfego limitado por uma área mais extensa, e a Cat-M, com alcance mais curto, mas quantidade de dados trafegados superior, incluindo imagens, áudio, voz e informações coletadas por equipamentos instalados em máquinas agrícolas. Com a Narrow Band, por exemplo, não é possível fazer uma chamada de voz, mas podem ser conectados sensores de irrigação. Segundo a Claro, existem modelos diferentes de conectividade. São dois tipos de redes novas que ampliam drasticamente a cobertura no campo, maior do que a de uma rede 4G. As operadoras concordam que só faz sentido levar tais estruturas para o campo (instalação da rádio-base, frequência, rede e energia elétrica) quando houver demanda efetiva dos clientes rurais. O agronegócio reclamava que não havia soluções de conectividade. Agora, segundo a Claro, tem oferta. Mas, a demanda precisa ser efetivada, pois o potencial é enorme. Apesar de não conseguir estimar a velocidade com que a procura por internet e soluções de IoT aumentará nos próximos anos, a Claro prevê que a receita total com soluções de IoT da empresa aumentará 300%. Neste pacote, estará o agronegócio.

Para a Vivo, a demanda já existe. Os primeiros clientes começaram a apresentar necessidades específicas no ano passado e hoje há procura do Brasil inteiro, do setor de grãos e da pecuária. O que era expectativa virou realidade, haverá um crescimento gradativo em três a cinco anos. A Tim também está confiante. Desde sua estreia na Agrishow, a empresa observou uma procura muito grande não só de grandes, mas de médios e pequenos produtores. Até junho, a Tim contabilizava 700 mil hectares cobertos com 4G, especialmente na Bahia, em Mato Grosso do Sul e em Goiás, mas a meta para este ano é bem maior, 5 milhões de hectares cobertos. Desde a Agrishow, a empresa deu início a vários projetos e pode atingir a meta. O objetivo é aumentar esse número exponencialmente nos próximos três anos. Há procura de produtores da Região Sul, do interior de São Paulo e do Pará. Nesses 5 milhões de hectares necessariamente estarão pequenos e médios produtores, que tendem a contratar a cobertura em grupo, para reduzir os custos.

A empresa já está cotando projetos como esses e buscando linhas especiais junto aos bancos para financiá-los. Dos grandes clientes, a Tim destaca a Amaggi, empresa produtora e exportadora de grãos e derivados. A empresa iniciou no mês passado um projeto-piloto em sua fazenda Água Quente, em Sapezal (MT), que conectará cerca de 700 equipamentos agrícolas e outros dispositivos por meio da rede 4G da Tim, através da frequência de 700 MHz. A estrutura instalada na propriedade também permitirá o uso da internet por moradores e funcionários locais. A Amaggi mantém parceria também com a Oi. Firmado em fevereiro, o acordo prevê que a operadora forneça e gerencie a conectividade de dispositivos que transmitem dados do campo à sede de outra fazenda em Sapezal, a Tucunaré, de 87,6 mil hectares. Neste caso, a frequência adotada é de 450 Mhz. Assim como a Tim, a Oi participou pela primeira vez da Agrishow neste ano. Os gastos que o produtor terá para ter conectividade em uma ou mais fazendas dependerão da quantidade de dados desejada. Segundo a Claro, quanto maior o consumo, menor o investimento do cliente.

Se for necessário conectar centenas de máquinas agrícolas e diferentes dispositivos, se os funcionários da propriedade e moradores da região também utilizarem os serviços, será possível levar a cobertura àquela área e o cliente só vai pagar pelo consumo; se for solicitada a coberta de uma grande área onde haverá pouco consumo de dados, o investimento poderá ser maior. A Oi recorre a estratégia semelhante: quando um grande cliente demonstra interesse é feito um levantamento de outras fazendas na região que poderiam se interessar em usar a estrutura e dividir custos. O que uma fazenda deixa de gastar em insumos, por ano, em três colheitas, paga o custo dela para ter conectividade. A Tim concorda que a conta feita pelas operadoras para o cliente rural tem de ser diferente da usada para as cidades, pois não é um número 'X' de pessoas comprando tantos pacotes, é o produtor agrícola que paga pelo serviço e tem um retorno rápido daquele recurso investido.

Uma antena com frequência de 750 Mhz permite cobertura com conectividade em cerca de 35 mil hectares, a um custo de aproximadamente 0,5 saca de 60 Kg de soja por hectare. A produtividade média das lavouras de soja de Mato Grosso na safra 2018/2019, por exemplo, foi de 56,04 sacas de 60 Kg por hectare, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). A Vivo também defende a customização. É senso comum que o cliente urbano quer usar o celular o tempo todo na cidade. Com o fazendeiro, é preciso debater sobre o que ele precisará: sensores de umidade de solo ou de ar, hardwares, análise de dados e assim por diante. Tem agricultor sem qualquer tecnologia na propriedade, enquanto outros têm instalado um parque de sensores muito forte. Nesse caso, a empresa apenas integra esses sistemas, por isso o atendimento tem de ser por demanda. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.