29/Ago/2019
Novo Progresso, sul do Pará. Esse município volta e meia aparece nas manchetes do agronegócio brasileiro. Manchetes negativas. Em época de chuva, se torna um desafio para caminhões cheios de grãos, que enfrentam um trecho local, de terra, da BR-163. Em época da seca, como agora, volta ao noticiário, neste caso porque fazendeiros e grileiros formaram grupos em redes sociais para combinar o “Dia do Fogo”, em 10 de agosto. A ideia era atear fogo em pastagens às margens da mesma BR-163. O incêndio chegaria a áreas da Floresta Nacional do Jamanxim e seria um prato cheio para mais desmatamento, avanço da pecuária e, posteriormente, da agricultura. O Ministério Público soube antes da combinação. Denunciou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que nada fez.
Enquanto o fogo avançava nessa e em outras florestas, o governo brasileiro atacou críticos, entre eles líderes de nações desenvolvidas europeias. O antigo discurso de que os países do Velho Continente destruíram, em quase um milênio, suas e nossas florestas, foi retomado. Mas, como dizem na roça, “água morro abaixo e fogo morro acima, ninguém segura”. Os incêndios se tornaram centro de uma crise internacional. Um embate evitável se o discurso inicial do governo fosse substituído por medidas de enfrentamento e combate ao caos ambiental. Ações que surgiram somente na última sexta-feira, 23 de agosto, com o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para o envio de equipes à região. Mas, o presidente Jair Bolsonaro continuou atacando os críticos e os europeus, principalmente ao presidente francês, Emmanuel Macron, seguiu atirando. E o próprio Bolsonaro aproveitou uma reunião com governadores da Amazônia Legal que discutiu a crise local para defender maior exploração de terras indígenas.
Enquanto Bolsonaro falava no Palácio do Planalto, ali perto representantes do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) protocolavam, no Ministério do Meio Ambiente, uma carta. No documento informaram que 18 grandes marcas mundiais de calçados e roupas suspenderam a compra o couro brasileiro. “Esse cancelamento foi justificado em função de notícias relacionando queimadas na região amazônica ao agronegócio do País”, relatou o CICB, porta-voz de uma indústria capaz de gerar US$ 2 bilhões por ano em divisas para o Brasil. Nesta quarta-feira (28/08), o CICB recuou, relatou que houve um “equívoco” e que as empresas solicitaram informações, apesar de a carta ser explicita e falar em “suspensão” e “cancelamento”. Equívoco, ou não, o novo progresso defendido pelo governo federal caminha para dar os primeiros resultados econômicos. E as consequências são imprevisíveis para o País. Fonte: Gustavo Porto. Agência Estado.