14/Out/2019
Mais uma colheita recorde, estimada em 245,81 milhões de toneladas de grãos, está sendo preparada, segundo a primeira sondagem de plantio da safra 2019/2020. Se confirmada, a produção será 1,6% maior que a da temporada anterior, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O aumento decorrerá principalmente da cultura da soja, com volume previsto de 120,39 milhões de toneladas, 4,7% superior ao da safra 2018/2019. Esse é o principal produto de exportação do agronegócio brasileiro, um item fundamental para o sucesso do comércio exterior. O volume exportado de soja em grãos deverá passar de 70 milhões de toneladas para 72 milhões de toneladas. Também se espera expansão das vendas externas de dois derivados, o farelo e o óleo. Mas, há sinais de perigo no mercado internacional. Há pressões no exterior contra a importação de produtos do agronegócio brasileiro, como carnes, couro e soja.
Além de grupos ambientalistas, grupos industriais, comerciais e de investimento têm ameaçado bloquear compras de produtos do Brasil por causa das queimadas na Amazônia e, sobretudo, das palavras e atitudes do presidente Jair Bolsonaro e de seus ministros. A França deixará de ratificar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, enquanto se mantiverem as condições atuais, afirmou na semana passada a ministra francesa do Meio Ambiente, Elisabeth Borne, repetindo as críticas feitas pelo presidente Emmanuel Macron. Em setembro, com a mesma justificativa, parlamentares da Áustria haviam aprovado moção contra o acordo comercial entre os dois blocos. A resistência ao acordo, especialmente na França, na Áustria e na Irlanda, tem como principal motivação o velho protecionismo agrícola, muito forte em vários países europeus. Mas, o dano às exportações brasileiras será obviamente o mesmo, pouco importando a motivação dominante, se protecionismo comercial ou genuína preocupação com o meio ambiente. Em qualquer caso poderão perder-se bilhões de dólares.
O presidente Jair Bolsonaro e os ministros do Meio Ambiente e de Relações Exteriores parecem dar pouca ou nenhuma importância a esse risco. Não se trata só de sua preferência pela diplomacia do confronto, mas de atitudes concretas, tomadas internamente, contra políticas de preservação e organismos envolvidos na defesa ambiental, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ameaças ao agronegócio brasileiro envolvem muito mais que a soja. Deve-se pensar em todos os produtos, embora com atenção especial ao complexo soja, às carnes e ao couro. São os mais citados quando a produção brasileira é vinculada, no imaginário estrangeiro, à destruição da Amazônia. Neste ano, até setembro, o agronegócio brasileiro faturou US$ 71,98 bilhões com suas vendas externas e acumulou superávit de US$ 61,70 bilhões. Graças a isso, o Brasil conseguiu em todo o comércio externo de bens, nesse período, um saldo positivo de US$ 33,79 bilhões. A União Europeia se manteve, de janeiro a setembro, como o segundo destino regional das vendas do agronegócio brasileiro, tendo absorvido produtos no valor de US$ 12,76 bilhões.
Esse montante correspondeu a 17,7% da receita proporcionada pelas exportações do setor. A Ásia, por causa das compras da China, permaneceu em primeiro lugar, comprando mercadorias brasileiras no valor de US$ 35,13 bilhões. O mercado chinês continuará sendo muito importante. Mas, os negócios com o Brasil poderão ser afetados, embora de forma limitada, por acertos com o governo norte-americano, na tentativa de encerrar a guerra comercial entre China e Estados Unidos. O presidente Bolsonaro já criou dificuldades com parceiros do Oriente Médio, ao anunciar a transferência da embaixada em Israel para Jerusalém. O movimento só envolveu, enfim, um escritório comercial, porque alguém deve tê-lo dissuadido da imprudência. Mas, a lição teve efeito limitado. Exportações do agronegócio são essenciais para a importantíssima segurança das contas externas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.