24/Jan/2020
Segundo a Academia Brasileira de Ciências, em sessão especial sobre como garantir um futuro sustentável à Amazônia no Fórum Econômico Mundial, conservar a floresta é muito mais lucrativo do que substituir a floresta por monocultura ou pecuária. A crise ambiental é o grande tema do Fórum de Davos neste ano, com mais discussões que as dedicadas a assuntos tradicionais, como as condições do comércio internacional, as mudanças tecnológicas e as perspectivas da economia global. Segundo a Comissão Europeia, os riscos econômicos principais estão atualmente associados à emergência ambiental. Questões ambientais têm destaque, há algum tempo, nas pautas do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e de bancos centrais, mas são tratadas como irrelevantes, ou até negadas, pelo governo brasileiro. Mas, a Academia Brasileira de Ciências diverge do governo ao reconhecer a mudança climática e sua importância para todo o mundo. As advertências vão até detalhes da atividade econômica.
Ao apontar a exploração do açaí como dez vezes mais lucrativa que a pecuária em zonas desflorestadas, foi usado um argumento com tradução imediata em dinheiro. Porém, o argumento dramático foi outro: se o ponto de virada for atingido, a devastação terá chegado a 50%, talvez 60%, e a floresta será incapaz de se recompor. Nesse caso, grande parte da Amazônia se converterá numa savana seca. Desflorestada, a Amazônia deixará de funcionar como fonte de chuvas para outras áreas. Essa é uma das funções das florestas tropicais. Secas prolongadas, um dos efeitos da mudança climática, já são um sinal de alerta em várias partes do mundo. Uma campanha de plantio de um trilhão de árvores em dez anos é uma das marcas principais da reunião do Fórum Econômico neste ano e é também parte da celebração de seu 50º aniversário. Ao anunciar, na terça-feira (21/01), apoio a essa campanha, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mais uma vez pode ter surpreendido seu mais importante seguidor na América Latina, o presidente Jair Bolsonaro.
Donald Trump rejeitou as advertências sombrias sobre o clima global, mas se declarou empenhado em preservar e elogiou a iniciativa do Fórum Econômico Mundial. O presidente da Colômbia também aderiu à campanha e informou sobre o plano do país, já em andamento, de plantar 180 milhões de árvores até 2022. A Colômbia, esclareceu, tem 35% de seu território na Amazônia, e seu governo já tem um programa de preservação florestal. O Brasil apareceu mal desde o começo do debate sobre a sustentabilidade da Amazônia. Ao abrir a sessão, a apresentadora lembrou os incêndios do ano passado e citou, sem falar seu nome, o ministro da Economia, Paulo Guedes. No dia anterior, ele havia estabelecido, sem se explicar, um vínculo entre pobreza e desflorestamento. Com o governo brasileiro fora dos debates sobre o ambiente, e até em posição de vilão, sobrou amplo espaço para o presidente da Colômbia se destacar. A Comissão Europeia apresentou um panorama dos desafios e das metas dos 28 países-membros da comunidade regional.
Lembrou como é difícil, para a maioria das pessoas, acompanhar a velocidade das mudanças econômicas. Lembrou as tensões internacionais e a importância de buscar o equilíbrio e a cooperação no campo geopolítico. Valorizou o multilateralismo, um tema importante do Fórum e também depreciado pelo atual governo brasileiro. Realçou o peso econômico dos riscos ambientais e lembrou a importância, para a União Europeia, de ter parceiros comerciais engajados na preservação do meio ambiente. Não mencionou o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, ainda pendente de aprovação pelos Estados envolvidos, nem os desentendimentos motivados pela política ambiental do governo Bolsonaro. Mas, o tema poderia estar contido nas referências às parcerias comerciais. O acordo com o Mercosul foi classificado como uma questão ainda aberta. Ausente de Davos, o presidente Jair Bolsonaro pode ter-se livrado de conversas incômodas sobre a Amazônia. Presente, o presidente colombiano lucrou. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.