29/Jun/2020
O Fundo Monetário Internacional (FMI) destaca o fato de que a América Latina e o Caribe tornaram-se o epicentro global da Covid-19. A atualização da Perspectiva Econômica Mundial publicada na semana passada pelo Fundo projeta contração econômica de 9,4% em 2020 na região, com recuperação moderada e crescimento de 3,7% em 2021. A taxa de casos e mortes per capita da América Latina e do Caribe se aproxima daquelas da Europa e dos Estados Unidos, com o número total de casos da região representando cerca de 25% do total global. Nesse quadro, os países devem ser muito cautelosos ao considerar reabrir suas economias e permitir que a ciência e os dados guiem esse processo. O fato de que a pandemia continua a se disseminar rápido indica que as medidas de distanciamento social terão de ser mantidas por mais tempo, deprimindo a atividade econômica no segundo semestre de 2020 e deixando mais cicatrizes adiante.
Apesar da perspectiva "difícil", as condições financeiras externas relaxaram um pouco nas últimas semanas, graças em grande medida a ações fortes de bancos centrais de nações desenvolvidas. Porém, as condições financeiras seguem mais restritas do que antes da pandemia e devem permanecer voláteis adiante. Há riscos elevados, pois a emergência de saúde pode demorar mais e ainda piorar. Por outro lado, surpresas positivas poderiam acontecer, como um crescimento global melhor do que o esperado, apoiando as exportações, os preços das commodities e mesmo o turismo. A prioridade da política fiscal agora deve ser proteger vidas. Com o espaço fiscal limitado da região, isso significa rever a prioridade dos gastos e aumentar sua eficiência. De qualquer modo, o cenário aumentará preocupações sobre a sustentabilidade da dívida no médio prazo em vários países. Compromisso com um plano de médio prazo de consolidação fiscal e reformas estruturais para permitir o crescimento serão cruciais para mitigar essas preocupações.
A política monetária, por sua vez, deve seguir acomodatícia, diante do quadro de inflação contida e elevado desemprego. São importantes medidas para manter as relações empregatícias, como apoio ao pagamento de salários, a fim de evitar o fechamento de negócios viáveis, reduzir o desemprego de longo prazo, apoiar a recuperação e reduzir as cicatrizes e aumentar o crescimento potencial. Para o Brasil, especificamente, uma política monetária acomodatícia será essencial para apoiar a recuperação econômica. A projeção é de que o Brasil deve sofrer contração de 9,1% em 2020, em um quadro de alta incerteza, com crescimento de 3,6% em 2021. O FMI considera que as autoridades locais têm respondido de maneira forte à pandemia, com cortes decididos nas taxas de juros e pacotes fiscais e de liquidez significativos, incluindo transferências diretas de dinheiro direcionadas para grupos vulneráveis A retirada de estímulo, contudo, pesará sobre o crescimento em 2021, em uma economia que ainda se recuperava de uma recessão em 2015-2016.
Sobre a Argentina, a previsão é de contração de 9,9% em 2020 (e crescimento de 3,9% em 2021), com riscos elevados ao quadro. A demanda externa muito mais fraca e a piora nos preços das commodities mais que superam o pacote fiscal de apoio local. Incertezas relacionadas ao processo de reestruturação da dívida continuam a pesar na confiança. No caso do México, influencia a piora nos preços do petróleo, entre outros fatores. A projeção é de um recuo de 10,5% na economia mexicana em 2020, com crescimento de 3,3% em 2021. O apoio fiscal no México é o mais baixo entre os países do G20 e isso gera o risco de uma contração mais profunda e uma recuperação lenta, com significativas cicatrizes econômicas. O México deveria aumentar seus gastos agora, para proteger vidas e a subsistência e elaborar uma reforma fiscal digna de crédito no médio prazo, que forneça mais espaço político no curto prazo e feche as lacunas fiscais. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.