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21/Ago/2020

Preços dos alimentos poderão elevar a inflação

Sustentados pelo câmbio depreciado e pelo aumento de exportações de commodities, os preços domésticos no atacado têm superado as estimativas a cada divulgação dos Índices Gerais de Preços (IGPs), que podem fechar este ano com a maior taxa desde 2004 (12,41%), considerando o IGP-M. O salto nos últimos meses acende um alerta para a inflação ao consumidor, principalmente em relação aos preços de alimentos, que já têm elevado as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano. Mas, mesmo assim, prevalece a avaliação de que a ociosidade elevada deve conter os repasses para o varejo, mantendo o cenário para 2021 ainda bem aquém do centro da meta (3,75%). No período de um mês entre os dias 15 de julho e 14 de agosto, a mediana das estimativas do Focus para o IGP-M de 2020 saltou de 6,25% para 8,94%. E já é mais provável que o índice encerre o ano mais próximo da maior estimativa do levantamento, de 12,17%, quase duas vezes acima do consenso de mercado de 30 dias atrás.

No mesmo período, a mediana para o IPCA de 2020 passou de 1,73% para 1,67%, ainda que tenha chegado ao piso de 1,62% no início de agosto. Para 2021, se manteve em 3,0%. Neste ano, o descompasso entre os IGPs e o IPCA deve ser recorde. As principais fontes de pressão sobre os preços no atacado não dão sinais de ceder. Os preços do minério de ferro, de grãos, como soja e milho, e de proteínas (em especial as bovinas) devem continuar a pressionar o indicador nas próximas divulgações, impulsionados pela demanda da China e pelo dólar alto. De acordo com os indicadores em reais do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o boi gordo acumula alta de 17,5% em 2020, negociado a R$ 226,83 por arroba na média de agosto. O indicador Cepea/BM&F Bovespa de soja teve alta de 42,6% no ano e o de milho subiu 5,67% no período. O minério de ferro, uma das principais fontes de pressão sobre o IPA de produtos industriais, foi negociado a US$ 129,32 por tonelada no porto chinês de Qingdao nesta quinta-feira (20/08). O preço em dólares está mais de 40% acima do registrado na primeira sessão do ano, em 2 de janeiro.

No mesmo período, o dólar avançou 36% sobre o Real, de R$ 4,02 para R$ 5,49, segundo a taxa Ptax do Banco Central (BC). Se o IGP-M fechar agosto na mesma taxa do segundo decêndio (2,34%) e subir 0,5% em média de setembro a dezembro, vai chegar ao fim do ano com alta de 11,41%. Mas, isso é uma estimativa muito conservadora. A alta de 0,5% é a média mensal de longo prazo do IGP-M. Mas, é quase duas vezes inferior à média do índice em 2020, de 0,94%. A tendência é que os IGPs continuem pressionados nas próximas divulgações, com variações acima da casa de 2,0%. A demanda chinesa por minério e soja ainda não dá sinais de trégua, e o encarecimento desses itens tende a pressionar o restante da cadeia de preços. A siderúrgica CSN, por exemplo, já anunciou reajuste de 10% a 12,5%, a depender do produto, e analistas especulam um aumento de 10% na tonelada do aço da Usiminas. O aumento da soja vai pressionar o preço da farinha de soja e a escassez de oferta e a alta demanda chinesa não vão desaparecer, porque a China não vai reconstituir seus estoques no curto prazo. O elemento central nesse comportamento é a desvalorização cambial, que tornou os preços das commodities brasileiras, em dólar, atrativas, impulsionando as exportações.

O câmbio parece ser o grande elemento para explicar a situação: o dólar subiu, e os preços domésticos dos produtos agrícolas subiram e não arrefeceram depois. Além disso, a pandemia mudou o padrão de consumo, aumentando a demanda doméstica e global de alimentos. A previsão é de continuidade das pressões que têm puxado as fortes altas mensais do IGP-M. Os preços da soja estão altos por causa da demanda chinesa e de uma restrição de oferta. Apesar de em setembro ter início a colheita da soja e do milho norte-americanos, que pode ajudar a normalizar os preços, há uma possibilidade relevante de que o fenômeno La Niña entre no cenário em outubro de 2020 e prejudique o período de engorda do boi, que pode contrabalançar esse efeito. A recomposição do rebanho na China após a destruição por causa da peste suína africana (PSA) no ano passado também é outro fator que tem pressionado o atacado. É consenso que o hiato do produto muito aberto no País e o grau de ociosidade da economia devem impedir que o aumento dos preços ao produtor se traduza em alta da inflação de produtos industriais, por exemplo.

Como canal de transmissão, sobram os alimentos, pressionados pelo aumento de demanda durante a pandemia. Essa alta forte em preços primários, como soja e milho, acende um alerta na projeção do IPCA de alimentação e bebidas. Os grãos são usados, por exemplo, na ração de animais e na produção de outros alimentos e pode haver espaço para repasses. Qualquer repasse deve ficar mais concentrado na inflação de 2021, também pelo canal dos alimentos. A grande dúvida é se a inflação está sendo subestimada. Em 2021, os efeitos temporários do auxílio emergencial e da mudança de padrão de consumo devem perder efeito e a safra deve voltar a ser grande. É importante reforçar que, mesmo com pressão maior nos alimentos não muda o cenário benigno para o ano, a inflação ainda deve ficar abaixo do piso da meta e os núcleos bem baixos (1,5%), por causa dos preços de serviços. É baixa a probabilidade de repasse dos IGPs para o IPCA mesmo no ano que vem. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.