08/Mar/2021
Atualização feita pela Austin Rating no seu ranking de desempenho das principais moedas do mundo mostra o Real subindo para se tornar a 4ª moeda mais desvalorizada no planeta. No fechamento de 2020, o Real havia encerrado o ano na 6ª posição. A atualização contempla os dados de fechamento da Ptax até o dia 05/03/2021, com uma amostra com 120 moedas. Os motivos que têm feito o Real perder valor sobre o dólar norte-americano são, em essência, o efeito carry trade, que é basicamente o diferencial da taxa de juros pagas nos títulos norte-americanos e as taxas de juros pagas nos títulos brasileiros de mesmo vencimento, a situação fiscal do país ainda fortemente fragilizada e a ausência da tramitação das reformas estruturais no Congresso Nacional. A recente interferência na gestão das estatais federais gera perda de confiança nos investidores globais em relação ao programa de privatizações e concessões, com efeito sobre a perspectiva negativa da capacidade do Brasil em equilibrar as contas públicas no médio prazo.
Em outro estudo elaborado pela Austin Rating, que compara o desempenho do Real frente a uma cesta de moedas de 16 países emergentes (EM16C), considerando o início de 2018 até 05/03/2021, a moeda brasileira anotou forte desvalorização de 42,5%, enquanto a cesta EM16C apurou desvalorização mais branda, de 8,8%, e isso considerando que algumas moedas registraram desvalorizações relevantes como o rublo da Rússia (23%), o rand da África do Sul (19,5%), o Peso Colombiano (19,0%) e o Peso Chileno (17,2%). Se for comparado somente o período em que a pandemia atingiu o Brasil, no início de março do ano passado, a moeda brasileira registrou desvalorização de 21,0% e a cesta EM16C teve trajetória contrária e anotou valorização de 0,3%, com destaque para o fortalecimento do peso Chileno em 10,6% e do Renminbi Chinês, com alta de 7,2%. Essa cesta foi elaborada a partir da variação nominal da moeda de cada país, sem atribuir quaisquer ponderações. Esse grupo de 16 países responde por 30,1% do PIB global e é uma amostra com efeitos relevantes sobre a dinâmica da economia global.
Nesse exercício comparativo, se aplicar o mesmo desempenho da cesta de moedas EM16C no período do início da pandemia no Brasil para a cotação do Real, o valor atual estaria em R$ 4,46 por dólar e não em R$ 5,69 como no fechamento da Ptax de 05/03/2021. Ou seja, uma perda de valor da moeda nacional em 21,6% provocada por fatores estritamente domésticos, segundo a Austin Rating. É fato que o Real desvalorizado contribui muito para as exportações e, por conseguinte, para a melhora das contas externas, com destaque para o resultado das Transações Correntes. Porém, por outro lado, o ônus é maior, visto que os preços no atacado, medido pelos IGPs, acumularam alta acima de 30% em 2020 e estão gerando inércia inflacionária nos IPCs mesmo em período de letargia econômica. Esse movimento de alta dos preços no atacado deve reforçar a postura preventiva da autoridade monetária e realizar o início do processo de aperto monetário ainda neste primeiro semestre de 2021, com grandes chances de ocorrer já na reunião de março, do Copom. Neste sentido, a Austin Rating reforça seu cenário de elevação gradual da taxa Selic para ao menos 4,75% no final de 2021. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.