21/Set/2020
Já bastante afetado pelo isolamento social com a pandemia, que eliminou três meses de vendas, o setor de vestuário não consegue agora operar por falta de matéria-prima, fragilizando ainda mais sua retomada. O Grupo Pacífico Sul, indústria têxtil de Blumenau (SC) fabricante de roupas, enviou comunicado a seus representantes alertando que encerrou as vendas para entrega este ano no dia 20 de setembro. A Marisol Malhas informou que suspendeu as vendas de todas as linhas de produtos até segunda ordem, assim como a fabricante de elásticos Zanotti. A situação remete a dificuldades ainda maiores além daquelas que o setor de vestuário foi exposto, aumentando o fardo para a recuperação de receitas, uma vez que o desabastecimento na cadeia torna os custos ainda mais altos do que já vinham por conta da valorização do dólar.
A cadeia de algodão aumentou preço, as fiações não produziram fios e a situação desandou. O impacto é no atraso da coleção vendida, perda de venda, prejuízo ao franqueado e risco de ter seu produto trocado nas multimarcas. Como também a indústria chinesa de tecidos está com sua produção comprometida, para agilizar a importação, alguns fabricantes estão trazendo mercadorias de avião, o que tem um custo mais elevado do que o transporte marítimo. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) vê tensão na indústria, uma vez que os preços sobem e os produtos faltam pelo fato de que todos estão buscando produtos ao mesmo tempo. Mas, considera que este é um reflexo natural e um problema conjuntural ao fato de que boa parte da indústria brasileira esteve parada por entre 90 a 100 dias. Não é possível religar a economia de imediato. Antes de ter sido decretada a pandemia do novo coronavírus não havia desabastecimento.
Serão necessários aproximadamente 90 dias para regularizar fluxo da cadeia de produção e distribuição. A indústria têxtil e de confecção é de concorrência perfeita, o que regula preços e segura historicamente a inflação do ramo. Ainda assim, os preços têm sido influenciados por um fator que vai além da produção que ficou parada: o problema está na desvalorização do Real. Boa parte (70%) da indústria têxtil está atrelada a moedas estrangeiras. O algodão é dolarizado, as máquinas são dolarizadas. Mais de 70% das máquinas são importadas. Produtos químicos da produção também são importados. Isso causa um reequilíbrio dos preços relativos, que futuramente vão se reacomodar. O aumento surpreendente da demanda interna, motivada pelo auxílio emergencial, também contribuiu para o desabastecimento pontual. No entanto, quando se observa um País que vai terminar o ano mais pobre e uma alta taxa de desemprego, a tendência é de um reequilíbrio não só das atividades produtivas, mas também da demanda.
Lojistas de São Paulo já sentem os efeitos da crise. Segundo a Associação Comercial de São Paulo, o setor têxtil vem sentindo várias intempéries relacionadas à alta do dólar e falta de insumos, com tendência a piorar ao longo do ano se a equipe econômica não providenciar um apoio mais incisivo às áreas produtivas e geradoras de emprego. Muitas companhias do setor de vestuário já operavam no limite financeiro, rolando dívidas e renegociando com bancos e fornecedores para evitar um processo de recuperação judicial. Donas de grandes marcas do segmento de "vestuário de luxo", como Restoque, Inbrands e Valdac estão tentando negociações há meses. A Restoque, dona da Le Lis Blanc, já passa por uma renegociação extrajudicial. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.