30/Out/2020
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a importação de algodão norte-americano pelo Brasil foi um caso pontual e, por enquanto, não está nos planos da indústria têxtil pedir redução de tarifa para importação de fora do Mercosul, a exemplo do que aconteceu com soja, milho e arroz. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) confirmou nesta quinta-feira (29/10), em seu relatório semanal de exportação, que os Estados Unidos venderam 400 fardos de algodão para o Brasil com entrega prevista no ano comercial 2021/2022, que vai de agosto de 2021 a julho de 2022. Essa importação de algodão é pontual. Algodões importados muitas vezes são de um tipo mais fino, uma fibra mais longa, para atender a necessidades específicas. O histórico do Brasil nunca foi de importar grandes volumes da fibra. Essa importação de 400 fardos não indica, pelo menos neste momento, uma tendência, está dentro da normalidade.
Por enquanto, a entidade não vê necessidade de pedir ao governo para zerar temporariamente tarifas de importação de países de fora do Mercosul, a exemplo do que ocorreu nas cadeias de soja, milho e arroz, porque considera que há oferta suficiente de algodão para atender ao consumo interno e ao mercado externo, apesar das recentes altas de preços da fibra. O que não pode é faltar algodão no Brasil com uma safra recorde, que é a expectativa do setor. Caso haja um quadro de escassez, entretanto, um pedido do tipo não está descartado. Se começar a embarcar grandes volumes para o exterior e faltar algodão no mercado local, será necessário pedir algum tipo de redução. O maior comprador de algodão do Brasil não pode ficar sem algodão. O Brasil colheu uma safra de quase 3 milhões de toneladas, mas se transformou no segundo maior exportador do mundo, tendo enviado para o exterior 2 milhões de toneladas nos últimos 12 meses.
Assumindo que o País vai exportar outros 2 milhões de toneladas no ano-safra (que no Brasil vai de julho a junho), significa que haveria algodão para atender ao mercado interno. Historicamente, a indústria brasileira consome 720 mil toneladas por ano, mas o uso caiu neste ano por causa da pandemia do novo coronavírus, que levou à paralisação de fábricas. Para os próximos 12 meses, a previsão é de um consumo na faixa de 600 mil a 650 mil toneladas. Em tese, esse volume estará disponível. Mas, existem fluxos e às vezes maiores volumes são exportados e a oferta interna fica reduzida. Isso é motivo de preocupação. O aumento do preço interno da pluma também preocupa o setor têxtil. Nesta semana, o Indicador Cepea/Esalq, com pagamento em 8 dias, bateu recorde nominal, superando R$ 4,00 por libra-peso. Entre abril e maio, o algodão estava custando cerca de R$ 2,80 por libra-peso, e agora está na faixa de R$ 4,05 por libra-peso.
Isso significa um impacto muito forte nos custos da indústria brasileira. O algodão represente cerca de 60% dos custos das fiações e isso impacta toda a cadeia produtiva. A taxação, pela China, do algodão da Austrália, problemas climáticos na safra norte-americana e a recuperação rápida da economia chinesa ajudaram a levar os futuros na Bolsa de Nova York para a faixa de 70,00 a 72,00 centavos de dólar por libra-peso. No Brasil, a desvalorização do dólar ante o Real contribui para a alta dos preços da fibra. O problema não é a cotação na Bolsa de Nova York e sim o câmbio. A avaliação do setor é de que o dólar está acima de um patamar compatível com os fundamentos do País, como taxa de juros, inflação e saldo da balança comercial. A indústria está atenta ainda a eventuais atrasos ou revisões de intenção de plantio de algodão em 2ª safra por causa da falta de chuvas que atrasou a semeadura da soja.
Já houve uma indicação de que, por conta da rentabilidade de soja e milho este ano, haveria uma redução de 12% na área plantada de algodão para a safra 2020/2021, então isso está sendo monitorado, porque, dependendo da situação de plantio das outras culturas que vêm antes do algodão, pode ensejar alteração nesse quadro. A entidade defende a retomada de uma política de estoque regulador no País. O Brasil não tem estoque regulador, mas seria bom que tivesse, das principais commodities, para acomodar eventuais tensões. Porém, o estoque regulador de modo geral é feito quando há sobras, formar estoque agora é colocar mais um agente comprando, elevando ainda mais a demanda. De todo modo, seria importante o governo pensar, porque o mundo está muito instável. Outros países que competem com Brasil têm procurado formar estoques para evitar desabastecimento ou muita volatilidade de preço. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.