11/Jan/2021
A queda na área plantada com algodão 2020/2021 deve fazer com que a produção no Brasil recue após quatro safras seguidas de expansão. Ainda que o consumo global tenha reagido nos últimos meses, a decisão de plantar menos foi influenciada pelo baque da pandemia do novo coronavírus, que pressionou os futuros do algodão na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), enquanto culturas que concorrem por área com a fibra, caso da soja e milho, apresentaram maior potencial de rentabilidade aos produtores. O atraso no plantio da oleaginosa, que encurtou a janela para a semeadura do algodão em segunda safra no principal Estado produtor, Mato Grosso, também contribui para uma menor intenção de plantio. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou que o plantio da fibra deve alcançar 1,53 milhão de hectares, queda de 8,1% ante o ciclo anterior. A Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) prevê uma redução do plantio ainda maior, de 16% ante 2019/2020, para 1,35 milhão de hectares. Conforme a Abrapa, para o biênio 2021-2022, os produtores já haviam tomado a decisão de reduzir a área de algodão em virtude do efeito da pandemia do novo coronavírus sobre a demanda pela fibra.
Antes da pandemia, o mundo consumia 27 milhões de toneladas de algodão, em determinado momento chegou-se a projetar queda para 22 milhões de toneladas e agora a expectativa é de 25 milhões de toneladas. Os preços do algodão em Nova York haviam caído bastante. Isso trouxe um problema de rentabilidade para a lavoura do algodão, e a soja estava com uma rentabilidade melhor. Então, os produtores definiram que iriam diminuir a área de algodão e passar para a soja. A migração para a oleaginosa ocorreria principalmente em áreas onde a fibra é plantada em primeira safra e concorre com a soja por espaço, como no Matopiba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). O movimento foi reforçado pela irregularidade de chuvas no País, que provocou atraso no plantio e replantio de áreas de soja, principalmente em Mato Grosso, o que pode causar atrasos na semeadura de algodão de segunda safra ou migração para o milho, cuja janela de plantio é mais longa no Estado, se estendendo até o fim de fevereiro. Houve muito replantio de soja em Mato Grosso, onde tem a maior área de algodão 2ª safra.
Em setembro, a previsão era de queda de 12% na área no Brasil ante 2019/2020, quando foi semeado 1,6 milhão de hectares no País. O plantio de algodão em 2ª safra tende a sair da janela ideal no Estado, até 30 de janeiro, se estendendo até fevereiro. A elevação dos custos de produção do algodão, principalmente ante culturas concorrentes, contribuiu para a perspectiva de recuo da área plantada. Há um consenso do mercado com relação a isso e a menor área deve influenciar o resultado em 2021 em termos de oferta. A previsão é de uma queda de 10% na área de plantio em Mato Grosso. No Estado, onde mais de 80% do algodão é plantado em 2ª safra, a tendência é de migração para o milho 2ª safra, que, além da possibilidade de plantio até o fim de fevereiro, tem custo de produção menor do que o da fibra. O milho se mostrou mais atrativo este ano para alguns produtores, aqueles que não conseguiram travar preços e custos dentro de um quadro ideal para garantir uma rentabilidade maior. Ainda assim, algumas áreas de soja que não puderam ser replantadas ou tiveram perdas em Mato Grosso podem migrar para o algodão, cujo plantio ocorre a partir de dezembro.
Deverá haver um leve incremento no algodão de 1ª safra. Do lado da produtividade do algodão, ainda é cedo para dizer se haverá quedas. Há receio sobre os efeitos do clima na produtividade. Houve esse estreitamento da janela de plantio, e algumas lavouras podem entrar no período de seca ainda em fase de desenvolvimento reprodutivo, o que influencia na formação dos capulhos. Apesar das chuvas irregulares no Centro-Oeste até o momento, previsões indicam a possibilidade de um prolongamento das precipitações até maio. A Abrapa prevê que, em virtude da redução de área, a safra brasileira tende a ficar em 2,4 milhões de toneladas, ante uma safra de 2,9 milhões de toneladas em 2019/2020. A Conab prevê uma colheita de 2,67 milhões de toneladas, queda de 11% ante o ciclo anterior e o primeiro recuo desde 2015/2016. Para a Abrapa, matematicamente faria sentido para produtores reduzirem mais a área plantada de algodão do que os 16% projetados, mas o investimento em estrutura produtiva e a perspectiva de ganhar espaço na exportação limitaram esse movimento.
A Abrapa estima que 50% da safra 2020/2021 foi comercializada, ante a média histórica de 40% para o atual período. As quedas dos futuros de algodão em Nova York com o baque da pandemia chegaram a tornar as vendas antecipadas mais lentas, mas a comercialização foi retomada em agosto, quando os preços internacionais atingiram a faixa de 65 a 68 centavos de dólar por libra-peso. O setor não esperava recuperação tão rápida no consumo da pluma. A perspectiva para o começo de 2021 é de que o mercado se mantenha no intervalo de 65 a 75 centavos de dólar por libra-peso na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). Toda a questão da pandemia foi bastante precificada, principalmente no primeiro semestre, e agora as vacinas têm dado um fôlego para a pluma. A produção 20% menor nos Estados Unidos em relação ao ano passado e a expectativa de que outras regiões produtoras, como o próprio Brasil, colherão safra menor também oferecem suporte aos preços.
É um mercado de estabilidade, com leve tendência de recuperação. Nos Estados Unidos, a produção foi prejudicada por intempéries, com a seca no Texas ao longo do ano. Furacões atingiram diferentes áreas de cultivo entre junho e outubro, e algumas regiões tiveram chuvas acima do ideal, como aquelas banhadas pelo Rio Mississippi e afluentes. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o país produziu 3,47 milhões de toneladas em 2020/2021, ante 4,33 milhões de toneladas no ciclo anterior. Além disso, a expectativa durante o inverno do Hemisfério Norte é de acentuação do quadro da seca nos EUA, principalmente no Texas, o que pode afetar a safra 2021/2022. Se isso se confirmar, os EUA vão precisar de chuvas bastante significativas durante a primavera para conseguir elevar a umidade do solo para o próximo ciclo.
Do lado da demanda global, a expectativa é de reação nos principais importadores e consumidores da pluma. O consumo ainda deve ficar aquém do observado em 2019, mas haverá uma recuperação em relação a 2020, principalmente pelo maior otimismo sobre aumento de circulação de pessoas. Apesar da tendência de intensificação das compras online, em termos de roupa ainda há um certo tradicionalismo de compra em lojas físicas. A segunda onda da Covid-19 não deve paralisar fábricas têxteis da mesma forma que a primeira, em virtude das adaptações realizadas na produção e da possibilidade de vacinação ao longo deste ano de 2021. Em países como a China, que estão fazendo investimento em pesquisa e desenvolvimento de vacinas e campanha de vacinação, a tendência é de certa normalização das questões produtivas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.