11/Jan/2021
A queda no consumo no primeiro semestre de 2020 contribuiu para a elevação dos excedentes domésticos e internacionais de algodão em pluma. Entretanto, o ritmo acelerado de consumo no segundo semestre criou um cenário de otimismo aos setores agrícola e industrial. Os preços internacionais são considerados atrativos, e os bons volumes de contratos já realizados apontam que as exportações da pluma podem manter em 2021 o ritmo recorde observado no final de 2020. A grande questão fica por conta da paridade de exportação, influenciada de forma mais intensa pela taxa de câmbio. No geral, os agentes devem continuar monitorando atentamente a pandemia, o avanço das vacinas para a imunização da Covid-19 e os desdobramentos da retomada da economia no Brasil e no mundo. Do lado da indústria, a preocupação está atrelada às incertezas quanto à sustentação/crescimento da demanda ao longo de toda a cadeia, dado o alto nível de desemprego, o receio de novas restrições para conter uma outra onda de Covid-19 no País e o, até então, fim do auxílio emergencial. Dessa forma, uma diminuição na renda pode levar consumidores a darem preferência aos bens essenciais, limitando a demanda nacional por produtos têxteis. Agentes também devem se atentar aos preços do petróleo e à competividade do poliéster frente à fibra natural.
Os contratos a termo entre 2019 e 2020 com entregas para 2021 apontam para média de preço à vista em R$ 3,67 por libra-peso para a safra 2019/2020 e em R$ 2,96 por libra-peso para 2020/2021. Também há volumes expressivos já comprometidos para entrega ao longo de 2021, considerando-se como base o Indicador CEPEA/ESALQ. Depois de subir por quatro safras consecutivas, a produção nacional deve somar 2,670 milhões toneladas na temporada 2020/2021, queda de 11% frente à anterior, mas, ainda assim, a terceira maior da história. A expectativa é de que a área semeada se reduza em 13%, para 1,5 milhão de hectares. Após a forte queda no consumo doméstico na temporada 2019/2020, influenciado pelo avanço da pandemia no País, a projeção é de um aumento em 2020/2021, para 690 mil toneladas. Instituições e associações brasileiras têm buscado promover o algodão no mercado internacional, na tentativa de diversificar importadores e aumentar o market share –, fortalecendo relações especialmente com países asiáticos. O Brasil já se mostrou capaz de embarcar bons volumes ao longo de todo o ano, ofertando pluma de qualidade e com rastreabilidade, sustentabilidade e preços competitivos.
O Brasil deverá continuar como o segundo maior exportador mundial de pluma, com 2,2 milhões de toneladas na safra 2020/2021, atrás apenas dos Estados Unidos, que deve embarcar 3,27 milhões de toneladas. As negociações para exportação com embarques durante 2021 apresentam média de 63,56 centavos de dólar por libra-peso – a menor desde 2008 –, considerando-se os valores FOB Porto de Santos (SP). As entregas programadas para o primeiro semestre de 2021 registram média de 68,11 centavos de dólar por libra-peso e as para os últimos seis meses de 2021, de 62,95 centavos de dólar por libra-peso. Considerando-se a movimentação ao longo de toda a safra 2019/2020, a média está em 69,21 centavos de dólar por libra-peso, e para a temporada 2020/2021, em 62,94 centavos de dólar por libra-peso. Também já houve comercialização de 2020/2021 com entrega para o início de 2022, com média de 61,50 centavos de dólar por libra-peso. Já para 2021/2022, as médias de negociações estão em 70,19 centavos de dólar por libra-peso (com entregas de agosto a dezembro de 2022). Também há contratos com os prêmios de exportação pré-fixados sobre os contratos da Bolsa de Nova York (ICE Futures). Para 2020/2021, foram firmados fechamentos especialmente sobre o contrato dezembro/2021, ficando entre 214 pontos acima e 165 pontos abaixo para o produto FOB Porto de Santos (SP), no caso do tipo 31-4 fibra 36.
De acordo com dados da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), ao menos 38% da safra brasileira 2019/2020 e 21% da 2020/2021 foram comercializados. Considerando-se que nas últimas cinco temporadas foram registrados, em média, 74% da produção nacional, isso pode indicar que 51% da produção atual e 28% da próxima já teriam sido negociados. Sendo que a maior parte de ambas as safras é direcionada ao mercado externo. Para o maior produtor nacional, o Mato Grosso, 86% da produção 2019/2020 e 52% da safra 2020/2021 já teriam sido comercializados. Se considerada a compra de insumos para a safra 2020/2021 entre setembro e novembro/2020, e a realização de contratos FOB também nesses meses, para entrega da produção em 2021 (soja vencimento em março/2021, milho e algodão vencimentos em setembro/2021), o sistema produtivo soja + algodão 2ª safra se mostra o mais atrativo, dentre outras alternativas em Mato Grosso, gerando um retorno próximo a R$ 5 mil por hectare, e um retorno por Real investido de 33,4%. Entretanto, o sistema soja + milho 2ª safra gera maior retorno por Real investido, de 51,6% (uma vez que detém custos de produção menores em relação ao algodão), e ainda com capacidade de geração de caixa por volta de R$ 4,3 mil por hectare. No caso de compra dos insumos e venda da produção no mesmo mês, as rentabilidades em Mato Grosso estiveram consideravelmente elevadas no final de 2020, atingindo por volta de R$ 7,75 mil por hectare, parelho para ambos os sistemas analisados.
Em termos de retorno por Real investido, o sistema soja + milho 2ª safra superou os 90% na média entre os meses, o dobro em relação ao outro sistema concorrente em área. Chama atenção o elevado retorno em R$/ha do cultivo de milho 2ª safra em sequência à soja, uma vez que historicamente o cultivo de algodão em 2ª safra se mostra mais rentável. O preço recorde de comercialização de grãos no 2ª semestre de 2020 é o principal fator de impulso desses resultados econômicos. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que a produção mundial da safra 2020/2021 deve somar 24,8 milhões de toneladas (-6,7% frente à temporada anterior), pressionada pelos Estados Unidos (-20%), Brasil (-13%) e Paquistão (-27%). Já o consumo global pode aumentar 13%, para 25,1 milhões de toneladas. A comercialização deve totalizar 9,4 milhões de toneladas, com avanço de 7,4% nos embarques frente aos da safra anterior. O estoque mundial foi estimado pelo USDA em 21,2 milhões de toneladas em 2020/2021, recuo de apenas 1,9% sobre a safra anterior. Nesse cenário, a relação estoque/consumo está estimada em 84,3%, sendo que, para o Brasil, a relação estoque/consumo está em 103,2% – a menor em cinco temporadas. Quanto aos preços, a estimativa de dezembro para o final da safra 2020/2021 indica média do Índice Cotlook A de 69,40 centavos de dólar por libra-peso. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.