22/Jan/2021
A indústria têxtil tem de lidar neste início de ano com o encarecimento de um de seus principais insumos, o algodão, que acumulou alta de mais de 40% nos últimos 12 meses. Essa escalada dos preços embute a desvalorização do Real no período. Em dólares, a alta ficou na casa dos 14%. Com a demanda do mercado externo por essa matéria prima aquecida, os produtores de vestuário nacionais encontram menos oferta e, consequentemente, têm um custo de produção maior. E, se num dos lados da margem de ganho já há toda essa pressão, na outra ponta também não resta espaço para repasse nos preços, com o varejo de moda em meio a promoções de início de ano ainda mais agressivas que o usual, dadas as vendas mais fracas no final de 2020. O Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP) afirma que o resultado do fim do ano foi abaixo do esperado.
O setor esperava aumento do consumo de Natal, mas o consumidor foi mais cauteloso do que o previsto. Soma-se à alta do algodão e menor oferta do insumo a retirada parcial da isenção de ICMS para o setor têxtil em São Paulo. O algodão era cotado em média a R$ 5,89 por Kg em janeiro de 2020. Em dezembro do ano passado, a média de preços ficou em R$ 8,46 por quilo, uma alta de 43,6%. Em dólares, o salto foi de US$ 1,43 em janeiro para US$ 1,64 em dezembro/2020, alta de 14,6%. O setor conseguiu a manutenção parcial desse subsídio, que mantém o benefício às empresas do Simples Nacional, o que é muito importante. Mas, as demais empresas terão de lidar com esse custo em um momento em que não há espaço para aumento de preços. O setor como um todo terá de apertar mais as margens. Estima-se que, em 2020, o setor de vestuário tenha produzido 24% a menos do que no ano anterior, enquanto em 2021 a expectativa é de alta de 12%.
Nesse início de ano, porém, a piora da pandemia e o movimento de frustração em relação aos programas de vacinação já parecem reduzir o otimismo do setor. O quarto trimestre de 2020 foi mais desafiador para o setor de vestuário. Enquanto o terceiro trimestre de 2020 melhorou as expectativas das empresas de moda, os três meses seguintes reduziram esse otimismo, visto que o recrudescimento da pandemia no País barrou as vendas de fim de ano. As grandes varejistas não esgotaram seus estoques de inverno e, assim, conseguem mitigar os custos de novas coleções para a próxima estação. O setor de calçados e vestuário está entre os que mais devem sofrer no curto prazo, já que o País vive um momento de redução de renda pelo alto índice de desemprego e o fim do auxílio emergencial. Nesse contexto, os gastos não essenciais continuam a ser preteridos pelos consumidores.
Assim como as empresas de vestuário, a indústria de calçados estima que houve aumento nos custos de produção. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) afirmou que os preços dos calçados para as novas coleções do setor carregam cerca de 10% de aumento. A corrida por insumos industriais vivida em 2020 também ainda tem sequelas sobre o setor calçadista. O maior problema hoje é a falta de previsibilidade de preços destes materiais. Os próximos meses devem mostrar uma desaceleração do consumo de produtos e uma retomada por parte dos serviços. Com a inflação alta e sem auxílio emergencial, houve queda no varejo, enquanto há um retorno do setor de serviços. O mercado não precifica a aprovação de uma continuidade ao auxílio emergencial, ainda que isso signifique um impulso maior ao varejo. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.