05/Ago/2022
A comercialização de algodão no mercado interno evolui pouco no mercado spot. Mesmo com a entrada da safra nacional, a oferta de lotes beneficiados, classificados e prontos para negociação ainda é pontual. Fora isso, tanto compradores quanto vendedores priorizam a entrega de contratos fechados antecipadamente. O apetite das fábricas domésticas também está limitado, dados os estoques alongados de pluma, as dificuldades permanentes de repasse do custo para o preço final dos fios e tecidos e vendas de manufaturados desaquecidas. O Indicador do algodão do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) com pagamento em oito dias segue abaixo dos R$ 6,00 por libra-peso, patamar considerado atrativo para vendedores firmarem novos acordos. Na semana, o Indicador cedeu 0,52% e em julho, recuou 5,55%. O preço no Brasil ficou, em média, 2,2% inferior à paridade de exportação em julho.
É destaque a baixa liquidez do mercado com o cumprimento dos contratos a termo em detrimento de negócios no spot. Os agentes estão retraídos porque a maioria desses contratos foi realizada acima dos valores praticados no spot nacional. Na última semana de julho, a movimentação até chegou a melhorar no mercado da pluma, devido ao aumento da disponibilidade de lotes; porém, as negociações seguiram limitadas diante da dificuldade de acordar preço e qualidade. Parte das indústrias está fora do mercado, lançando mão do uso de estoque ou de matéria-prima contratada, com algumas trabalhando com capacidade reduzida. Os comerciantes estão preferindo fazer negócios “casados” e/ou adquirem a pluma para atender às programações. Tradings, por sua vez, estão mais focadas nos contratos para os mercados interno e externo. Um dos motivos que ditam o ritmo lento do mercado spot é o baixo volume de algodão da safra nova disponível nas mãos dos produtores já beneficiada.
Dados mais recentes da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) indicam colheita de 48,54% da área plantada no País e beneficiamento de 15% da safra 2021/2022, estimada em 2,610 milhões de toneladas de algodão em pluma. Em Mato Grosso, maior produtor nacional, onde os trabalhos de campo estão mais adiantados, com metade da área colhida, o beneficiamento alcançou apenas 8% da pluma. Há apenas reportes pontuais de novos acordos no disponível. Na região de Primavera do Leste, não há relatos de novos negócios no disponível nos últimos dias, em virtude do baixo volume disponível de algodão para negócios. O mercado está lento com a colheita ainda em andamento e beneficiamento incipiente. Os compradores estão voltados no recebimento dos contratos fechados antecipadamente e os vendedores estão focados na entrega destes contratos. Saem negócios na região que se destinam, sobretudo, àquelas indústrias domésticas que estavam com estoques mais curtos.
Os exportadores estão pouco ativos no spot. As tradings estão embarcando os contratos anteriores e fechando os da próxima safra. Os negócios giram em torno de R$ 150,00 por arroba CIF indústria, para entrega imediata e pagamento em oito dias, abaixo da referência do Indicador Cepea/Esalq para spot (de R$ 197,47 por arroba). Na região, os valores pagos pela pluma se mantêm estáveis nos últimos sete dias, mas ainda são pouco atrativos para os vendedores, que indicam em torno de R$ 200,00 por arroba nas mesmas condições. Os preços caíram por várias semanas, em queda brusca, pressionados pelo mercado internacional e pela entrada da safra, mas agora parecem estar em acomodação. Além da disparidade entre o preço pedido e ofertado, os produtores estão focados na finalização da colheita e no beneficiamento da fibra já retirada das lavouras, o que os afasta da negociação. O período é de colheita e é típico que os produtores se dediquem aos eventuais problemas como quebra de equipamentos e outras tarefas operacionais.
O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) reduziu em 1,14% sua estimativa de produção na safra 2021/2022 no Estado, para 4,69 milhões de toneladas de algodão em caroço e 1,93 milhão de toneladas de pluma. O corte deve-se ao ajuste na produtividade para 265,29 arrobas por hectare, 1,14% menor que o estimado em julho. O Imea atribuiu o cenário de menor rendimento para a temporada às adversidades climáticas que afetaram algumas lavouras de Mato Grosso, sobretudo no centro-sul e oeste do Estado. Além disso, 44,79% da área total aguardada para o ciclo já foi colhida, e os registros de rendimento dessas áreas vem confirmando os impactos na produtividade esperada para a temporada. A área cultivada com a fibra foi mantida em 1,18 milhão de hectares em 2021/2022, aumento de 22,43% ante o ciclo 2020/2021. Em São Paulo, a oferta restrita de lotes da nova safra e a retração das fábricas travam a negociação. Ao longo desta semana, apenas negócios pontuais de pequeno volume giram no spot acima do Indicador Cepea/Esalq.
Fábricas com necessidade de abastecimento imediato adquirem lotes em torno de R$ 6,50 por libra-peso CIF indústria, para entrega imediata e pagamento em oito dias. No geral, o mercado é apenas pontual no spot. As fábricas estão muito retraídas porque os preços começaram a cair e elas querem ver até onde o preço cede ou se estabiliza para começar a rodar volumes maiores. Para a safra 2022/2023, não há relatos de novos acordos nem indicação de preço de compra ou venda, em virtude da falta de visibilidade dos agentes quanto ao comportamento das cotações futuras. Em Mato Grosso a comercialização antecipada da safra 2022/2023, que será plantada no fim deste ano e colhida a partir de julho do ano que vem, está em ritmo pouco mais acelerado que as vendas no spot. Na região de Primavera do Leste, a movimentação para a próxima safra evolui, mas ainda está devagar na comparação com as temporadas anteriores, os exportadores estão ativos. Os produtores, como os preços recuaram bastante, perceberam que era melhor não esperar o retorno dos níveis vistos antes. Até mesmo porque os valores não devem voltar aos níveis de seis meses atrás.
Tradings indicam entre R$ 130,00 e R$ 140,00 por arroba CIF Porto de Santos (SP), para entrega entre setembro e dezembro de 2023. A ideia da maioria dos produtores varia em torno de R$ 200,00 por arroba nas mesmas condições. Estima-se que cerca de 40% da safra 2022/2023 já está vendida no Estado. Na Bolsa de Nova York, os contratos internacionais de algodão registram recuo de 1,85% nos últimos sete dias, e em um mês, há queda de 3,24%, em meio aos receios de recessão global, o que pode afetar o consumo mundial da pluma. O Conselho Consultivo Internacional do Algodão (Icac) projetou que o consumo mundial da fibra na temporada 2022/2023, que começou oficialmente nesta semana, deve diminuir 0,11% ante o ciclo anterior, para 26,11 milhões de toneladas. A produção deve somar 25,81 milhões de toneladas, aumento de 1,45% ante a estimativa para a temporada 2021/2022. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.