17/Nov/2022
A indústria da moda planeja investir mais na compra de fibras recicladas como parte do movimento para promover fornecedores inovadores e de baixo carbono. Redes como H&M, Zara, Gucci e Stella McCartney foram algumas das empresas que anunciaram, na segunda-feira (14/11), a compra combinada de 550 mil toneladas métricas de fibras alternativas para fabricar têxteis e embalagens, como as feitas de resíduos agrícolas ou materiais reciclados. A compra planejada representa apenas uma pequena parcela da produção total dessas redes e nenhum prazo foi definido, em grande parte devido à atual escassez dos materiais. O plano foi anunciado no momento em que a conferência climática das Nações Unidas (COP-27) entra em sua segunda semana. Cada vez mais, os líderes empresariais procuram formas de trabalhar em parceria para cumprir as metas de zerar as emissões líquidas em meio à crescente fiscalização de consumidores, reguladores e investidores.
A First Movers Coalition, fundada na conferência climática da ONU no ano passado em Glasgow, é outro grupo global de 65 empresas que usa seu poder de compra para promover fornecedores inovadores de baixo carbono em áreas consideradas difíceis de atingir as metas, como cimento, aço e aviação. O grupo cresceu este ano e planeja investir US$ 12 bilhões na compra de produtos e serviços mais limpos. Como outros setores, a indústria da moda enfrenta crescente fiscalização de consumidores e reguladores sobre a origem dos tecidos utilizados e os resíduos que produz. Nos Estados Unidos, os resíduos têxteis destinados a aterros sanitários crescem desde 1960 e atingiram 11,3 milhões de toneladas em 2018, de acordo com os últimos dados da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
O setor da moda também se prepara para as regulamentações da União Europeia, cujo braço executivo publicou um plano em março segundo o qual as peças devem ser "duráveis e recicláveis, em grande parte feitas de fibras recicladas" até 2030. A crescente pressão para que a indústria da moda reduza sua pegada ambiental resultou em alternativas de fibras mais conscientes, com rápida aceitação pelas marcas tradicionais", segundo a Edited, que fornece dados e análises sobre o setor de varejo. Entre as redes de vestuário do Reino Unido e da Europa, o total de novos produtos lançados online anunciando materiais mais ecológicos cresceu 21% na comparação ano a ano até o momento e já são mais de três vezes o total de 2019. O uso de fibras têxteis recicladas reduz a necessidade de cortar árvores e resulta em menos emissões de gases de efeito estufa, de acordo com a Canopy (organização sem fins lucrativos que atua junto a empresas para trazer materiais mais ecológicos para o mercado, e, assim, preservar as florestas).
Madeireiros cortam cerca de 3,2 bilhões de árvores por ano para produzir matérias-primas para têxteis e embalagens, segundo a Canopy. Migrar para fibras de última geração pode evitar a emissão de quase 1 bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono até 2030. Mesmo assim, a compra planejada de 550 mil toneladas pelo grupo representaria apenas uma fração dos cerca de 7,5 milhões de toneladas métricas das chamadas fibras celulósicas artificiais produzidas por ano, quase que exclusivamente a partir da madeira, de acordo com a Canopy. Os consumidores geralmente veem essas fibras em etiquetas de roupas como rayon, viscose e lyocell. As empresas afirmam que a compra prevista ajudará a estimular a produção de fibras celulósicas a partir de resíduos agrícolas e têxteis reciclados, que têm oferta limitada e custos mais altos, em grande parte por ainda não serem produzidos em larga escala. Segundo a Canopy, as compras devem apoiar investimentos na construção de mais 10 a 20 fábricas de celulose para produzir os materiais.
Esses investimentos são fundamentais para montar a indústria nascente e alcançar economias de escala para reduzir os custos. Isso mostra a importância de as marcas líderes e produtores convencionais se comprometerem com volumes comerciais de produtos ao longo de vários anos. A H&M Group não informou quanto a empresa investiria na compra ou com qual parcela das 550 mil toneladas métricas arcaria. O uso atual de fibras recicladas pela empresa é pequeno. Depois do algodão e das fibras sintéticas à base de petróleo, as fibras celulósicas artificiais são a terceira maior fonte de matéria-prima para roupas da rede H&M Group. Até 2025, a empresa pretende utilizar apenas fibras celulósicas artificiais certificadas pela Forest Stewardship Council (organização sem fins lucrativos que supervisiona o manejo florestal responsável) ou substituí-las por fibras de fontes como tecidos reciclados e resíduos agrícolas.
A falta de uma infraestrutura para a reciclagem de fibras sintéticas à base de petróleo também representa um desafio para a indústria do vestuário. Em julho, a startup francesa Carbios informou ter assinado acordos de dois anos com Patagonia, Puma, On Holding e Salomon para acelerar a comercialização da tecnologia de bio reciclagem, que utiliza enzimas para quebrar o poliéster e permitir a reutilização em novos produtos. Enquanto isso, uma safra de startups vem surgindo para atender à crescente demanda por material reciclado de marcas como a H&M. A Renewcell, na qual o Grupo H&M investe desde 2017, abriu, na semana passada na Suécia, sua primeira fábrica em escala comercial para reciclagem de resíduos têxteis para produção de novos tecidos. A indústria da moda tem sido uma indústria muito linear, em que pega a matéria-prima, faz algo com ela e, mais cedo ou mais tarde, aquilo se torna lixo. Todo o sistema da moda precisa se tornar circular. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.