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21/Jul/2023

Brasil: maior oferta impõe desafio de exportação

A safra maior de algodão em 2022/2023, que já está sendo colhida, e novo crescimento previsto na produção brasileira para 2023/2024 apresenta aos exportadores o desafio de igualar o recorde de embarques ao exterior da pluma, de 2,4 milhões de toneladas, e, no ano que vem, se aproximar da marca de 3 milhões de toneladas, dada a relativa estabilidade do consumo interno da fibra. Apesar do esforço na promoção do algodão brasileiro junto a importadores, a demanda ainda lenta pela pluma no exterior pode limitar esse crescimento. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), com consumo interno estável e importação praticamente inexpressiva, à medida que a produção aumentou nos últimos 10 anos, as exportações também tiveram que aumentar na mesma proporção. Nos próximos dois anos, o Brasil poderá superar os Estados Unidos como maior exportador de algodão. Na temporada de julho de 2021 a junho de 2022, as exportações brasileiras ficaram em 1,395 milhão de toneladas, mas no acumulado de julho até o dia 14 já saíram do País 31.500 toneladas.

Se continuar neste ritmo, é possível chegar às 70 mil toneladas no mês. As notícias são que os portos estão lotados. O Brasil tem o estoque de passagem se somando com a safra nova. Com a projeção da Agroconsult, de uma de safra 3,11 milhões de toneladas, o Brasil precisaria exportar entre 2,4 milhões e 2,6 milhões de toneladas de julho de 2023 a junho de 2024. A Anea ainda não tem uma previsão fechada para a temporada que começou neste mês. O País tem condições físicas e logística, e daria para fazer esse volume. A dificuldade é conseguir vender todo esse algodão, porque o mercado está retraído em função da recessão mundial. Alguns mercados tradicionais como Turquia, Paquistão e Bangladesh estão comprando alguns lotes pontuais, o mercado que voltou a comprar nas últimas semanas é China, mas é preciso que continue comprando, mas isso é uma coisa difícil de prever. O setor gostaria de bater o recorde de 2020/2021, de 2,4 milhões de toneladas, mas ainda não dá para afirmar se será possível conseguir isso.

A China é o principal mercado para o algodão nacional depois da indústria brasileira. Nos últimos anos, a Austrália praticamente desapareceu do mercado chinês em função de questões geopolíticas. Esse espaço foi ocupado pelos Estados Unidos e pelo Brasil. Onde o País tem que crescer para poder atingir essa meta de exportação é no mercado chinês. Quanto aos preços, os futuros têm oscilado ao redor de 80,00 centavos de dólar por libra-peso nos últimos meses e tendem a continuar nessa faixa, e o basis do algodão brasileiro segue pressionado. O Brasil, nos últimos anos, se mantinha próximo do basis norte-americano e australiano, mas, nesses últimos meses, pela pressão da oferta, da safra velha e nova, o basis está 400 pontos abaixo dos principais concorrentes. Os preços da negociação interna estão em torno de 300 pontos abaixo dos futuros na Bolsa de Nova York. A indústria está com muita cautela, comprando pouco. A Associação Brasileira das Indústrias Têxteis e de Confecção (Abit) destacou a meta do setor de recuperar o consumo de algodão.

Há problemas a resolver não só internamente como na questão da agenda macro, mas a indústria nacional continuará sendo o maior cliente da cotonicultura brasileira. A meta é sair de 700 mil para 1 milhão de toneladas para reduzir o esforço exportador que vai ter de ser feito para vender esse excedente e agregando valor dentro do Brasil. A indústria já consumiu esse 1 milhão no passado, mas este patamar ainda não será alcançado neste ano, no qual o consumo deve ficar em 680 mil toneladas. Sobre as perspectivas da indústria, a Abit considera que o Brasil está bem posicionado para atender à demanda externa do segmento de têxteis e confecções. O acordo Mercosul-União Europeia concluído teria grande valor para a expansão da capacidade exportadora do setor. Contudo, no primeiro semestre, as vendas internas caíram, ao passo que as importações cresceram. Está sobrando mercadoria no planeta, as economias centrais reduziram o consumo, consequentemente é uma busca de mercados.

Existe uma perspectiva de retomada do consumo local no segundo semestre que tende a ajudar na recuperação da indústria nacional. Com relação ao capital de giro para o setor têxtil, o mercado de crédito ficou escasso e caro. Com a expectativa de redução da taxa de juros a partir de agosto, será uma nova situação. 66% das indústrias de têxteis e confecções pretendem fazer investimentos em 2023. Dentre as propensas a investir, 72% o farão com recursos próprios. Em um País que estruturalmente tem taxas de juros elevadas, o empresário tem muito receio de se endividar e acaba trabalhando às vezes aquém da potencialidade. Isso é algo que retarda um pouco o ritmo do investimento e do crescimento. Entre as soluções apontadas para ampliar o consumo de uma produção crescente está a promoção dos atributos de sustentabilidade e responsabilidade social da produção brasileira de algodão.

O trabalho que vem sendo feito pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) no mercado brasileiro, já com reflexos positivos, se o País conseguir, da mesma forma, ir levando a mensagem desse produto para o mercado internacional, o apelo de sustentabilidade do consumidor internacional é ainda maior do que o do consumidor brasileiro. A forma mais fácil de colocar a produção nacional no exterior não é só deslocando os concorrentes, mas ampliando mercado. E os atributos que o algodão brasileiro tem são capazes de ampliar mercado e conquistar novos consumidores para a fibra natural, especialmente para o algodão do Brasil. O maior acesso do algodão brasileiro ao mercado internacional é uma combinação de vários fatores. A estratégia tem sido de valorizar a fibra nacional e divulgar para todos os mercados que são clientes e, cada vez mais, mostrar o que é o Brasil, o que é a produção do algodão brasileiro e as qualidades que ele tem.

O Brasil produz um algodão bom, mas precisa divulgar isso aos clientes. A rastreabilidade do algodão à peça de roupa que hoje já é feita no Brasil precisa ser levada também para o exterior. Hoje em dia, uma fiação compra o algodão brasileiro, mas na hora em que mistura com o algodão norte-americano ou africano, perde a identidade. A Abrapa esteve na Holanda há algumas semanas falando sobre isso e conhecendo sistemas e softwares que já existem onde é possível levar essa rastreabilidade para fora. Para a indústria consumir mais algodão, o mercado brasileiro e mundial de têxteis precisa crescer, uma vez que isso puxa a procura tanto por fibras naturais quanto sintéticas. A tendência do setor é a mistura de fibras para melhorar performance industrial, selecionando entre os atributos disponíveis o melhor, e as novas máquinas exigirão fibras naturais com qualidade ainda maior. A Abit esteve na Índia e pode observar máquinas rodando a 1.000 a 1.100 rotações por minuto, isso exige do material que vai ser processado resistência e qualidade muito grandes. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.