29/Sep/2023
Considerada uma das mais poluentes do mundo, a indústria da moda tenta encontrar caminhos para entrar na rota da descarbonização e reduzir suas emissões. Uma das iniciativas que vem sendo colocada em prática é o projeto The Jeans Redesign, criada pela Fundação Ellen MacArthur, com sede na Inglaterra, que trabalha com empresas e educação na transição para uma economia circular, contrapondo-se à chamada economia linear, que se baseia em retirar materiais da natureza para fazer algo que será usado por curto período de tempo e depois jogado fora. Criado em 2019, o projeto conta com cerca de 100 organizações, como Blue Design America, C&A, Primark, Zara e Guess. Juntas, elas já “reciclaram” mais de 1,5 milhão de pares de jeans, transformadas em peças duráveis, fáceis de ser recicladas e produzidas com materiais e processos seguros. A indústria da moda responde por 8% das emissões de gás carbônico na atmosfera, perdendo apenas para a indústria do petróleo.
O poliéster, uma das fibras mais usadas no vestuário, é responsável pela emissão anual de 32 milhões de toneladas das 57 milhões de toneladas globais produzidas pelo setor. O projeto estabelece um padrão mínimo para que a indústria crie e produza peças alinhadas aos princípios da economia circular. O principal objetivo é redesenhar o jeans, desde o tecido até o material dos botões e os químicos da lavagem. Os critérios como durabilidade, reciclabilidade e utilização de materiais e processos mais seguros também são partes importantes. A iniciativa de Moda da Fundação Ellen MacArthur explica que essas diretrizes foram desenvolvidas sob orientação de 80 especialistas da indústria, academia e ONGs, para incentivar marcas, fábricas e líderes da indústria a transformarem a maneira como os jeans são projetados e fabricados. Cerca de 100 organizações de mais de 25 países, incluindo marcas, fabricantes de vestuário e tecelagens, redesenharam jeans, indo além de discussões teóricas, aprendendo na prática, testando novas soluções e superando lacunas de inovação.
Em julho deste ano, as marcas participantes lançaram suas peças no mercado. Desde o início do projeto, cerca de 1,5 milhão de pares de jeans foram redesenhados, transformados em peças de vestuário mais duráveis, fáceis de reciclar e feitas com matérias e processos seguros. A Blue Design, empresa do Paraguai que desenha, desenvolve, fabrica e comercializa jeans, participou do The Jeans Redesign e atingiu a maioria das diretrizes opcionais e todas as diretrizes obrigatórias, como a inclusão de no mínimo 98% de fibras à base de celulose, em peso, na composição têxtil total e um mínimo de 5% de conteúdo reciclado em média (por peso) na composição têxtil total de cada peça de roupa. Os jeans que eram produzidos antes já estavam livres de permanganato de potássio, alvejante, entre outras coisas. A empresa sabia que a lavagem convencional não era o caminho a seguir e, com a introdução do The Jeans Redesign, foi possível inovar em detalhes removíveis, fios biodegradáveis, tecidos com certificados orgânicos e introdução de 5% de reciclagem na composição têxtil.
Um dos feitos notáveis do processo foi adquirir informações sobre estratégias para reduzir o consumo de água e o uso de produtos químicos. Em termos comerciais, o principal desafio foi produzir uma coleção verdadeiramente sustentável. O custo é um pouco elevado e nem todas as marcas têm como arcar com ele. A Fundação Ellen MacArthur conta que a taxa média de venda dos produtos circulares foi de 78% nas marcas, o que, segundo especialistas, é maior do que a linha de base do setor. Isso demonstra o poder de moldar o desejo de uma economia circular para a moda. Os fabricantes também relataram uma alta demanda por seus jeans redesenhados, com uma taxa de venda até 35% maior do que os não circulares do catálogo. No Brasil, a C&A lançou, em 2020, a coleção Ciclos, uma linha de shorts, calças, saias e jaquetas jeans, certificada mundialmente pelo Cradle to Cradle, um selo de sustentabilidade. Isso significa ter condutas justas com trabalhadores e meio ambiente.
As peças não podem ter poliéster, que foi trocado por algodão; as etiquetas são feitas em silk, com tinta sustentável; o zíper não tem banho de níquel; e as peças não têm tachinhas em volta dos bolsos. Atualmente, a rede tem urnas em 200 lojas para recolher peças usadas. Isso vale para jeans e outros tecidos. Todo o material recolhido é enviado para um centro de triagem. Peças boas, em condições de uso, são doadas para o Instituto C&A. As roupas não aproveitáveis vão para reciclagem e se transformam em telhas, tapetes e cobertores. Já o jeans é recolhido e reciclado. As peças são desmontadas, passam por um processo de retirada das fibras e viram novas peças da coleção Ciclos. A Fundação Ellen MacArthur acredita que para criar uma indústria da moda próspera e positiva para a natureza é necessária uma transformação radical na forma como os produtos são projetados, fabricados e usados. É preciso transformar o sistema da moda de forma fundamental e isso é um desafio, mas também é uma oportunidade empolgante. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.