08/Dec/2023
A ameaça de cobrança de impostos para itens de baixo valor nos Estados Unidos e no Brasil pode ser uma pedra no caminho da Shein, um dos maiores nomes da moda fashionista, para colocar os pés em Wall Street. A companhia acaba de entrar com um pedido confidencial para uma oferta pública inicial de ações (IPO) nos Estados Unidos, que pode envolver US$ 90 bilhões, na maior abertura de capital esperada para 2024. Enquanto isso, varejistas em diferentes países da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil cobram regras mais duras para a taxação de produtos de baixo valor vendidos por plataformas estrangeiras. A justificativa é a mesma: o avanço da varejista chinesa pelo mundo vendendo peças de US$ 5,00 pode ser o caminho para a morte de negócios tradicionais e a destruição de empregos em seus respectivos países. No Brasil, toda a cadeia, incluindo a indústria e o varejo têxtil e de confecções, emprega 1,7 milhão de pessoas. A Shein já ultrapassou marcas poderosas como Zara e H&M.
Além dela, sites como o chinês Temu, de baixo custo nos moldes do Aliexpress, têm crescido em larga escala nos Estados Uniso. Como resposta à pressão do varejo, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu voltar a taxar produtos importados que custam menos de US$ 50,00 até o fim do ano. O movimento ocorre na esteira da criação de um novo programa pela Receita Federal, batizado de Remessa Conforme, e que estabelece uma nova forma de tributação de importação para empresas de comércio eletrônico cadastradas. Aquelas que aderiram deixaram de ser taxadas. Há uma expectativa do varejo de uma decisão ainda no início de dezembro para que possa impactar positivamente o evento mais importante do varejo nacional que são as vendas de fim de ano, de Natal, afirma a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX). No dia 5 de dezembro, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o governo já tem uma solução de isonomia tributária pronta para ser aplicada. De acordo com estudo do Bradesco BBI, para que varejistas locais, como Renner, igualem a concorrência com a Shein, seria necessário um imposto de importação de 60%.
O cenário é considerado como "possível", mas não "provável" pelo banco. O atual ambiente de preços/impostos já incorpora o pior cenário para os varejistas locais. Quanto mais alto e mais cedo for implementado um imposto, melhor para os estoques de vestuário. Nos Estados Unidos, o cerco também está se fechando. Tal como no Brasil, varejistas norte-americanas fazem lobby por mudanças em uma antiga regra, conhecida como 'de minimis'. Do latim, o termo é usado para se referir a algo pequeno demais para se preocupar. Em vigor há cerca de 100 anos, essa política permite que encomendas de até US$ 800,00 (cerca de R$ 3.920,00) entrem no país sem cobrança de impostos. O limite para remessas 'de minimis' foi aumentado em 2015 de US$ 200,00 para US$ 800,00 e empresas como Temu e Shein foram beneficiadas, pois suas remessas diretas não estão sujeitas a tarifas, afirma o Bank of America.
O Congresso norte-americano tem monitorado o assunto bem de perto, a exemplo do movimento que ocorre no Brasil. O governo precisará usar sua autoridade executiva para tirar todos os envios de comércio eletrônico do tratamento 'de minimis'. A Shein parte para o IPO após resultados recordes neste ano. Depois de registrar US$ 24 bilhões em vendas globais em 2022, a empresa indicou como meta receita de US$ 60 bilhões em 2025, conforme reportagem do britânico Financial Times. Como comparação, a gigante do varejo norte-americano Target prevê US$ 108 bilhões em vendas no ano fiscal de 2024. A questão tributária, porém, é considerada uma ameaça para os resultados futuros. O tema preocupa os investidores e deverá ser um dos pontos abordados durante a jornada da Shein para emplacar o seu IPO nos Estados Unidos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.