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25/Mar/2025

Brasil: desafios e oportunidades com guerra comercial

Uma nova versão da guerra tarifária promovida pelos Estados Unidos contra alguns de seus parceiros comerciais terá impactos consideráveis para alguns setores do agronegócio, e a cadeia do algodão não está imune a esses efeitos. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o tema tem sido o foco das atenções de produtores, exportadores e indústria. Durante a reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, do Ministério da Agricultura, a Abrapa destacou os efeitos positivos e negativos com as tensões comerciais envolvendo as principais economias do mundo. De positivo para o Brasil, a guerra comercial pode promover a melhoria dos prêmios do algodão na Ásia, uma maior competitividade no mercado chinês e a possibilidade de aumento das exportações no curto prazo.

No entanto, há desafios, como a queda nas cotações da Bolsa de Nova York, maior concorrência em outros mercados e o fato de que o Brasil já ampliou significativamente sua participação na China, reduzindo o espaço para novos ganhos expressivos. Além disso, como o algodão importado pela China é majoritariamente usado para exportação de produtos têxteis, a taxação sobre esses bens pode limitar a demanda. Com as novas tarifas anunciadas para 2025, os Estados Unidos podem perder ainda mais participação na China, consolidando o Brasil como principal fornecedor, mas sem a mesma intensidade da primeira fase da guerra comercial, num primeiro momento. O fim da isenção fiscal "De Minimis" (que permitia importações de até US$ 800,00 sem tributação, nos Estados Unidos), também pode afetar o consumo global, reduzindo a competitividade dos produtos têxteis chineses à base de poliéster e contribuindo para o aumento da demanda por produtos de maior qualidade, feitos de algodão.

Isso pode significar menor demanda por produtos sintéticos de baixa qualidade via correios e maior importação de produtos de algodão via os canais convencionais. De acordo com os números apresentados pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), de julho de 2024 até março de 2025, o Brasil já embarcou 2,2 milhões de toneladas de pluma, enquanto no último ano comercial (jullho 2024/junho2025), o volume exportado foi de 2,5 milhões de toneladas. O cenário global é de preços reprimidos, devido a uma demanda internacional enfraquecida, influenciada por fatores como inflação e altas taxas de juros. A China segue sendo um destino importante para o algodão brasileiro, mas a concorrência dos Estados Unidos deve se intensificar em mercados onde o Brasil tem se consolidado nos últimos anos, como Índia, Egito, Paquistão, Bangladesh, Vietnã e Turquia.

Os Estados Unidos, por sua vez, estão negociando um acordo de livre comércio com a Índia para isentar 60 mil toneladas de algodão da tarifa de importação, o que pode impactar a participação brasileira nesse mercado. A logística de exportação tem se destacado, permitindo que o Brasil bata recordes no escoamento do algodão. A logística não deve ser um grande problema, desde que haja disponibilidade de navios, contêineres e rotas de transporte, atualmente, cerca de 50% da safra já foi vendida. Na avaliação da Anea, não haverá grandes mudanças para os preços da pluma nos próximos meses, já que a oferta mundial ainda é maior que o consumo. A demanda também está abaixo do esperado, o que impede uma valorização expressiva do produto. No entanto, o mercado tem mostrado uma autorregulação: quando os preços caem muito, a demanda tende a crescer, o que ajuda a equilibrar as cotações.

A Abrapa informou que a estimativa da área de lavouras ocupadas com a cultura em 2024/2025 é um pouco superior ao projetado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na safra passada, que foi de 3,70 milhões de toneladas. A confirmação de área vai depender do desempenho da produtividade esperada pelos produtores, em 1842 quilos por hectare, o que já representa 3,2% a menos do que a registrada no ciclo anterior. No momento, ocorrências de veranicos têm alertado produtores em algumas regiões de Estados como Bahia e Goiás. Os números ainda são preliminares, já que a safra em Mato Grosso, maior produtor do País, está no início. Tudo está ocorrendo dentro da normalidade até aqui, mas existem preocupações com relação ao clima, e alguns Estados já sentem os efeitos da estiagem. Mas, já choveu na Bahia, por exemplo. De todo modo, ainda é cedo para fechar as previsões. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.