05/Nov/2025
De forma voluntária ou em troca de um desconto, um cliente leva sua calça jeans usada até uma loja de roupas e deposita a peça em uma caixa. A peça é coletada, processada e vira fios de algodão para confeccionar novas peças, que voltam à loja para serem adquiridas por novos consumidores. Esse é um exemplo do chamado jeans circular, que busca aumentar a utilidade do material que seria descartado ou ficaria em desuso, inserindo novamente o tecido na cadeia produtiva. No Brasil, esse processo vem ganhando espaço, com as grandes varejistas de moda fazendo anúncios relacionados ao jeans circular, quase em sincronia. Em setembro, a Riachuelo levou às lojas a sua maior coleção de jeans reciclado, com a utilização de quase dez toneladas de aparas do tecido. No Grupo Renner, a Youcom lançou sua primeira coleção de jeans circular tingido na cor preta.
A C&A anunciou nova coleção com jeans circular nas lojas na semana passada, com um total de 50 mil peças. Uma das razões para a escolha do jeans para reciclagem está relacionada a questões técnicas. O jeans tem altíssima "reciclabilidade" para a indústria têxtil, sem perder a integridade. Em termos comparativos, a resistência da fibra é semelhante ao que o alumínio significa para a reciclagem na metalurgia. No entanto, diferentemente do metal, que conta com infraestrutura e precificação atrativas para reciclagem no Brasil, o jeans ainda tem limitações para a obtenção de volumes de tecidos, tingimento e processamento mais avançado. O processo acaba ficando mais caro e resultando na necessidade de diminuição das margens de lucro para evitar repasse dos custos para o consumidor. Mesmo assim, o jeans aparece com grande potencial em um mercado que corre para cumprir metas de sustentabilidade agressivas e reduzir o uso de tecidos de origem mais poluente.
A popularidade das peças, a mudança no comportamento do consumidor, que exige medidas de sustentabilidade de forma mandatória, e a movimentação de mercado com a recente chegada da sueca H&M, que é conhecida por ações públicas relacionadas à sustentabilidade, incluindo coleções com jeans reciclado, e que inaugurou sua terceira loja no Brasil semana passada, também são citados como impulsionadores da tendência. No processo de circularidade, o produto não vem de matéria-prima originária ou virgem, mas de um material feito com insumo processado, ressalta a Indústria Química e Têxtil do Senai (Senai CETIQT). Isso explica as limitações apontadas pelas varejistas. No caso do jeans, há duas formas de obtenção desse material: por meio das peças usadas, coletadas de consumidores, ou via processo de pré-consumo, quando se usam as aparas de tecidos virgens que sobram das peças novas durante a confecção.
O processamento é feito por um equipamento que tritura o material até obter fibra de algodão. O jeans é um material mais grosso, mais pesado; então, ele é mais fácil de passar por esse processo. E não tem uma exigência de ser um fio muito fino, muito rebuscado, como a seda, por exemplo. Apesar da resistência aos múltiplos processamentos, a fibra reciclada precisa ser adicionada ao algodão virgem para compor fios mais longos e de qualidade para uma nova peça. Os jeans que resultam daí têm qualidade bastante similar às peças feitas com 100% de algodão virgem. É um material que tem uma durabilidade muito grande. A qualidade e a durabilidade vão ser as mesmas de um jeans virgem, não se acabam por ser reciclado. E, no fim, ele ainda pode ser desfibrado e virar estopa ou barbante, no futuro. Para fazer sua maior coleção de jeans circular, composta por 42 mil peças, a Riachuelo juntou 9,4 toneladas de tecido de aparas de fábrica.
O material correspondeu a 25% dos insumos usados na linha Pool Loop. Os outros 75% do tecido tiveram acréscimo de algodão ABR virgem (Algodão Brasileiro Responsável), resultando em mais de 58 mil metros de tecido. O processo começou com um estudo em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), para entender como beneficiar os tecidos residuais de fábrica. A empresa está fazendo testes para aumentar em 50% o uso do fio reciclado. A visão é escalar tanto em volume quanto em participação do reciclado dentro da base do fio. Há, porém, barreiras estruturais. A cadeia não está pronta. Há pouco tempo de desenvolvimento industrial para a reciclagem têxtil com adaptação de maquinário e aquisição de novos equipamentos. O Brasil recicla 98% do alumínio porque a indústria já se organizou para a entrada e saída desse material ser constante. Toda uma cadeia se organizou para isso. O algodão (obtido no jeans) é o material que tem maior potencial de virar o nosso alumínio.
No mês passado, a C&A completou oito anos do Movimento ReCiclo, que disponibiliza caixas nas lojas para recolher roupas usadas e doadas voluntariamente por clientes. A maior parte das peças segue para a doação e uma parte menor é destinada para a fabricação de peças de jeans, que são colocadas à venda por ciclos. Desde 2021, 250 mil peças com materiais reciclados já foram colocadas no mercado. Desse montante, 25 mil foram às lojas em julho. Uma outra coleção, também com 25 mil peças, chega às lojas nesta semana. A Youcom, do grupo Renner, oferece uma "bonificação" aos clientes para estimular a logística circular do jeans. A empresa oferece 15% de desconto na compra de uma calça jeans a quem leva uma peça usada a uma loja, projeto chamado Jeans for Change. Dar o desconto mantém a cadeia circulando, inclusive o jeans com algodão reciclado pode voltar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.