04/Dec/2025
Da mesma madeira que abastece a indústria brasileira de papel é possível dar origem a uma das fibras têxteis especiais mais sustentáveis do mercado: o lyocell, obtido a partir da polpa solúvel da celulose extraída de árvores como o eucalipto. A matéria-prima é reconhecida por proporcionar maciez ao tecido e pelo baixo impacto ambiental em sua produção. No Brasil, ela tem sido impulsionada por marcas de moda e por investimentos bilionários de gigantes da cadeia de celulose. Além da origem florestal, um dos diferenciais que minimizam impactos da produção da fibra frente a concorrentes fósseis está no seu processamento. O insumo passa por dissolução em solvente orgânico, o NMMO (N-metilmorfolina-N-óxido), que é quase 100% reutilizado durante a produção.
A fibra resultante é biodegradável e compostável, podendo se decompor em poucos meses se descartada em ambientes favoráveis. O mercado em torno dessa fibra ganhou relevância nos últimos anos no Brasil. Uma das negociações mais recentes foi anunciada em 2024 pela brasileira Suzano. A companhia, uma gigante da celulose para papéis e embalagens, investiu € 230 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão) na compra de 15% de participação no grupo austríaco Lenzing, que lidera a produção global de celulose para a indústria têxtil e é detentora da marca Tencel (fibra de lyocell desenvolvida pela empresa). Segundo a Suzano, a aquisição fez parte da estratégia da companhia de avançar na cadeia do "downstream" (produto final para o consumidor), aproveitando o potencial de crescimento das fibras de celulose para consolidar uma posição competitiva.
Esse mercado abre a oportunidade de avançar no 'downstream', de construir uma posição competitiva em um segmento no qual a empresa entende que há um potencial muito grande de crescimento, devido à busca por fibras mais sustentáveis e que trazem ao consumidor um conforto muito maior. Existe uma tendência crescente dessa combinação de conforto e sustentabilidade, e atuar nessa cadeia é uma opção de criação de valor. De acordo com a agência Fastmarkets, os números positivos do lyocell globalmente explicam o apetite das empresas no Brasil pela fibra. As fibras celulósicas produzidas a partir de polpa de madeira cresceram a uma taxa de 6% entre 2021 e 2024, mais que o mercado têxtil como um todo. O lyocell apresentou taxa média de crescimento anual de cerca de 26% nesse período.
A Dexco, dona da Duratex, Deca e especializada em produtos de louças, revestimentos e painéis de madeira, é outra empresa brasileira que expandiu o portfólio com a produção de polpa solúvel de celulose para lyocell e outras fibras ao firmar parceria com o grupo Lenzing em 2018. Daí, resultou a criação da joint venture LD Celulose, instalada em Minas Gerais, com investimento de US$ 1,3 bilhão (cerca de R$ 7 bilhões). A expansão foi responsável por mais de 75% das receitas globais de fibras especiais da Lenzing em 2024. A Dexco explica que a negociação viabilizou a utilização de um maciço florestal de quase 54 mil hectares para outras alternativas em madeira. O negócio resulta em um produto diferenciado e com uma utilização mais próxima do consumidor, no sentido de estar fazendo uma mudança importante no uso mais sustentável de fibras e tecidos.
O acordo representou a ampliação da produção própria de madeira para a celulose solúvel, diminuindo a necessidade de compra de outros fornecedores (o grupo Lenzing comprava 50% do material antes da joint venture). Foram dez anos estudando outros mercados até que o Brasil se mostrou o local de maior potencial para a industrialização do insumo. Concorrente também nesse mercado, a Bracell mantém uma operação robusta de celulose solúvel no Brasil, com capacidade de produção anual de 2 milhões de toneladas do insumo que origina o lyocell. Suas plantas fabris ficam na Bahia e em São Paulo. Em 2024, 53,5% da celulose produzida pela Bracell na Bahia teve como destino a Ásia, para a fabricação de fibras de viscose e lyocell. Com o aumento da capacidade produtiva da Bracell e da LD Celulose, o País hoje responde por aproximadamente 20% da capacidade de produção global, segundo dados da Fastmarkets. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.