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17/Jun/2024

Governo alega especulação ao justificar importação

O arroz virou um dos assuntos em alta nas últimas semanas diante das tentativas do governo federal de importar o grão, após as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul. O Estado responde por 70% da produção nacional do cereal e já colheu 90% da área plantada nesta safra. O Brasil produz menos arroz do que consome, mas supre a demanda interna com importações e estoques de colheitas anteriores. Nesta safra, o País vai produzir 10,3 milhões de toneladas do alimento, enquanto o consumo deve ser de 11 milhões de toneladas, mostram dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Até abril, o governo estimava que o Brasil importaria 1,4 milhão de toneladas de arroz. Esse montante, somado à produção e aos estoques (excluindo as exportações), permitiria acumular um suprimento de 12,4 milhões de toneladas, contando com os efeitos da tragédia no Rio Grande do Sul, o que já conseguiria atender o consumo interno.

Contudo, desde maio, o governo aumentou a sua projeção de importação para 2,2 milhões de toneladas, colocando na conta o arroz que pretende adquirir via leilão público. Nesse cenário, o Brasil acumularia 13,1 milhões de toneladas no mercado interno. A justificativa do governo é evitar um aumento excessivo de preços, em consequência de possíveis problemas de oferta e distribuição do arroz. No auge da tragédia do Rio Grande do Sul, o bloqueio de estradas e rodovias gerou preocupação sobre a capacidade do Estado de conseguir entregar o arroz colhido para o restante do Brasil. A água baixou, porém, e a principal rodovia para escoamento do grão, a BR-101, já está normalizada, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul). Ainda não se tem uma estimativa oficial sobre quanto de arroz o Rio Grande do Sul perdeu. Relatório da Conab divulgado no dia 13 de junho apontou que as enchentes de maio geraram perdas de 100 mil toneladas na colheita de arroz no Estado, um volume pequeno perto das 7 milhões de toneladas que o Rio Grande do Sul deve produzir.

Nos armazéns, onde estava guardado o arroz que já tinha sido colhido, houve uma perda de 24 mil toneladas, o que corresponde a 15% do total armazenado, segundo dados do Instituto Riograndense do Arroz (Irga). O que o Ministério da Agricultura e a Conab têm afirmado é que a decisão de comprar 300 mil toneladas de arroz não tem a ver com abastecimento, e sim com a especulação e aumento nos preços do alimento. Em um ano, o preço do arroz subiu mais de 20% para o consumidor. Em maio, durante as enchentes no Rio Grande do Sul, a alta foi de 1,4% em relação a abril, mas algumas regiões tiveram aumentos mais expressivos, como Aracaju - SE (+8%), Porto Alegre - RS (+6%) e Vitória - ES (+5%). Nos supermercados de São Paulo, por exemplo, o arroz tem sido vendido, em média, a R$ 30,00 por pacote de 5 Kg, segundo o Procon. Há um ano, custava R$ 20,00 por pacote de 5 Kg, valor por qual o governo pretende vender o seu arroz. Segundo especialistas, a alta desse alimento tão popular está relacionada a diferentes fatores como:

- Clima ruim e aumento nos custos de produção: o que fez com que alguns produtores abandonassem o plantio de arroz e migrassem para atividades mais rentáveis, como a soja, diz Evandro Oliveira, da consultoria Safras & Mercado.

- Aumento das cotações internacionais: o preço do arroz subiu no mundo porque a Índia, que detém 35% do comércio global, parou de exportar para reduzir seus preços internos, afirma Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.

Oliveira, do Safras & Mercado, lembra que o Rio Grande do Sul passou por três anos consecutivos de La Niña (2021,2022 e 2023), o que provocou secas intensas na região, gerando perdas na produção. Depois, veio o El Niño, que atrapalhou o plantio do grão por causa de enchentes que aconteceram já no segundo semestre de 2023. Essa situação fez com que parte dos produtores migrasse para plantios mais lucrativos, como os de soja e milho. Para se ter uma ideia, o custo de produção do arroz chega a R$ 12 mil por hectare no município Uruguaiana (RS), uma das principais regiões produtoras do cereal. Já para cultivar soja, se gasta um pouco menos que a metade: cerca de R$ 5 mil por hectare em São Gabriel (RS), por exemplo. Os dados da Conab mostram ainda que os principais custos do plantio do arroz são o aluguel de terras, adubo e defensivos. Mas, este não é um fenômeno novo.

Em 16 anos, a área de plantio de arroz e feijão encolheu mais de 30%, no Brasil todo, com o avanço da soja e do milho, matérias-primas negociadas no mercado internacional e exportadas como ração para animais de criação, como bois e suínos. "O Rio Grande do Sul já teve áreas de mais de 1 milhão de hectares de arroz e, hoje, sofre para conseguir uma área de 900 mil hectares", conta Evandro. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o governo vai estimular o plantio de produtos básicos da alimentação brasileira no próximo Plano Safra, que deve ser anunciado neste mês, através de contratos de opções. No último ano, contudo, o Rio Grande do Sul expandiu em 4% a sua área plantada, de olho no aumento do preço do arroz, que subiu 37% em um ano, segundo o Cepea, mas também na expectativa de que o El Niño prejudicaria o andamento da safra.

No mundo, o preço do arroz começou a subir em julho do ano passado, quando a Índia parou de exportar o grão, no intuito de reduzir os seus preços internos. O mercado indiano responde por 35% do comércio global de arroz. "De lá para cá, o arroz asiático, que é o grande balizador de preço global, já que a Ásia tem 90% da produção, subiu 46,5% e, então, os preços no Mercosul foram na mesma direção. No caso do Paraguai, o preço subiu 71%. E, no caso do Brasil, subiu menos. Do ano passado para cá, a gente teve uma alta, no varejo, na casa dos 25%", disse Cogo. "Essa alta de 45% em dólar que houve lá fora foi repassada parcialmente para o Brasil", destaca o analista. Lá fora, as cotações continuam aquecidas e, agora, o mercado aguarda por novas decisões do governo indiano, que deve anunciar, neste mês, se vai continuar ou não bloqueando as exportações. Fonte: G1.