11/Aug/2025
Terminou no dia 6 de agosto a 1h01, no horário do Brasil, o prazo para embarques de exportações brasileiras aos Estados Unidos sem o pagamento de sobretaxa de 50% definida pelo presidente norte-americano, Donald Trump. A partir de agora, todas as mercadorias que não estão na lista de quase 700 exceções estabelecidas pelo governo norte-americano receberão o tarifaço. Um dos mais importantes itens da pauta exportadora brasileira que não conseguiram escapar das taxas, o café exemplifica bem como a estratégia americana vai trazer impactos negativos e em quanto tempo. Considerando o período de transporte marítimo do produto e o ritmo de consumo norte-americano, em no máximo um mês os consumidores norte-americanos e os exportadores brasileiros devem começar a sentir os efeitos da tarifa de 50%. O café do Brasil demora de 15 a 30 dias para chegar aos Estados Unidos, dependendo do porto de saída e de entrada nos dois países. Em média, são mais de 20 dias de transporte.
A maior parte dos embarques fica por volta desse tempo no mar até chegar, se forem direcionados para a Costa Leste norte-americana. Produtos que vão até a Costa Oeste podem demorar cerca de um mês até o desembarque, mas representam menores volumes. O café que está em trânsito para os Estados Unidos não sofrerá tarifa. Somente o que for embarcado a partir de agora. Então, existe um prazo de, no máximo, um mês para que os consumidores norte-americanos comecem a sentir o peso do aumento dos preços. Os produtos enviados até o dia 5 de agosto, pagarão apenas os 10% definidos anteriormente, as chamadas tarifas recíprocas. Com 40% a mais de tarifas, o produto brasileiro encarece bastante. A cotação do café do tipo arábica em São Paulo estava em R$ 1.799,43 por saca de 60 Kg, no dia 6 de agosto. Apesar da alta do preço para o consumidor, tendência que já vem desde o ano passado, com quebras da safra no Brasil e Vietnã, não há expectativas de diminuição do consumo nos Estados Unidos.
O país é o maior consumidor de café do mundo e, por ter uma renda alta, não se espera que preços maiores causem grandes mudanças na demanda. O que deve acontecer é uma adaptação da mistura tomada pelos norte-americanos e compras menores do Brasil, sem que aconteça uma substituição completa da produção nacional. Os Estados Unidos consomem 25 milhões de sacas de 60 Kg de café por ano, e importam entre 7,5 milhões e 8 milhões de sacas de 60 Kg do Brasil. A produção brasileira é em sua maior parte de arábica. O Brasil é o grande produtor desse tipo e grão, com um volume ao redor de 40 milhões a 45 milhões de sacas de 60 Kg por safra. Outros grandes produtores de arábica são a Colômbia, Indonésia, Etiópia e Honduras, mas com volumes que variam entre 6 milhões e 13 milhões de sacas de 60 Kg. Portanto, alguma parte do café brasileiro que vai aos Estados Unidos pode passar a ser originado em outros países que estão com tarifas menores que as brasileiras.
O importador e o varejista do café até podem absorver parte do aumento dos preços por curto período de tempo, na expectativa que negociações entre os dois países estendam as exceções das tarifas de 50% também para esse produto. Mas, em algumas semanas, os impactos de preços podem levar a aumentos para o consumidor norte-americano. E consequentemente as compras para o Brasil devem diminuir. Segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o produto brasileiro representa mais de 30% do total consumido nos Estados Unidos. Então, não se espera que as compras sejam completamente interrompidas, tanto pela capacidade de produção brasileira que não se encontra em outros países, como também por que alguns concorrentes trabalham com outras categorias de café. O Vietnã é um exemplo. Ele é o maior produtor global do tipo conilon. Normalmente, o consumo nos Estados Unidos é feito de uma mistura (blend) entre o arábica, que é mais suave, e o robusta ou o similar conilon (duas variedades da espécie Coffea canephora).
Os cafés mais suaves e vendidos como premium contêm mais arábica no mix. O conilon (ou robusta) é mais forte, mas teve aumento de demanda nos últimos anos com a popularização das cápsulas de café. Com o impacto do tarifaço e o aumento de preços para o arábica vindo do Brasil, a tendência é a indústria norte-americana compor um mix de forma a minimizar a alta que viria totalmente do café brasileiro. Uma outra forma de minimizar a alta é via mistura entre o robusta e o arábica, já que os preços do robusta estão em queda mais forte este ano devido à regularização da safra do Brasil e do Vietnã. No ano passado, por exemplo, os blends foram mais voltados ao arábica porque o preço do conilon disparou por conta de quebra da safra do Vietnã e com problemas também no Brasil, que é o segundo maior produtor desta espécie. Como o preço do conilon recuou forte este ano, este é um fator a mais para redução de custo via blend (diminuindo a quantidade de arábica do Brasil).
Uma esperança dos negociadores brasileiros é que o aumento de preços leve a uma pressão junto ao governo norte-americano, que possa rever as tarifas para o produto brasileiro. Segundo dados levantados pela MB Agro, o consumo residencial de café responde por 1,75% da inflação de alimentos no domicílio nos Estados Unidos. Até junho deste ano, o indicador de inflação (CPI) do café no domicílio já teve alta de 10,2%. Se as negociações falharem, a forma de minimizar as perdas para os produtores brasileiros será a busca de novos mercados para o excedente que deixar de ser vendido nos Estados Unidos. No curto prazo, será difícil direcionar a outros mercados o que os Estados Unidos deixarão de adquirir do Brasil, mas, em médio e longo prazos, existem mercados crescentes, como os da Ásia, que podem absorver parte disso. A China habilitou 183 novas empresas brasileiras de café a exportar o produto para o país na semana passada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.