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10/Oct/2025

Carro Elétrico: adoção lenta ameaça meta climática

Estudo publicado pelo Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT), uma organização que defende mundialmente a eletrificação dos automóveis, aponta que a demora na adoção dos carros elétricos coloca em risco as metas climáticas do Brasil, assim como pode levar a um mercado de automóveis "dominado" por tecnologias defasadas. O trabalho, que é uma nota de política pública, compara o progresso das montadoras na eletrificação de veículos no Brasil com os avanços delas em outros seis mercados: China, Europa, Estados Unidos, Japão, Índia e Coreia. A conclusão é de que, em vez dos carros puramente elétricos, apontados como uma opção mais eficiente à redução das emissões, as montadoras priorizam no Brasil os híbridos flex, nos quais um motor elétrico funciona com outro movido a etanol ou gasolina, e a continuidade dos automóveis tradicionais a combustão interna. Na avaliação dos pesquisadores do ICCT, a introdução dos carros elétricos não é mais rápida pela ausência de políticas públicas e regulamentações que favoreçam os veículos de zero emissão.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) observou que, assim como nota o estudo, os fabricantes de carros não tiveram no Brasil os grandes incentivos governamentais oferecidos no exterior para acelerar a adoção dos automóveis elétricos. A entidade defende, porém, que o cálculo das emissões da indústria seja mais abrangente, considerando a pegada de carbono desde a produção dos insumos, incluindo as baterias dos elétricos, cuja fabricação na China tem impacto ambiental, até o descarte. O conceito escolhido pelo ICCT leva em conta o ciclo de vida do poço à roda, ou seja, da extração do petróleo à queima do combustível pelos veículos. Somente a avaliação a partir dessa ótica pode levar a um diagnóstico real das rotas de descarbonização ideais para cada país, diz a Anfavea. Após ressaltar que as tecnologias que mais recebem investimentos das montadoras brasileiras não asseguram a mitigação de gases suficiente às metas climáticas do Brasil, o estudo do ICCT frisa que o setor de transporte pode colocar em risco a meta de neutralidade das emissões de carbono do País até 2050.

O entendimento é de que o Mover, programa lançado pelo governo para apoiar, com benefícios tributários, a transição energética das montadoras, estabeleceu uma meta de redução do consumo de energia (12% até 2027), menos ambiciosa do que a de outros mercados. O ICCT defende, assim, que a segunda fase do Mover, de 2028 a 2032, cobre das montadoras metas de emissões mais duras, de modo a acelerar a introdução dos carros elétricos. Ao tratar do mecanismo tributário definido no programa automotivo, no qual carros que poluem mais pagam mais imposto, essa tributação poderia ser neutra em arrecadação para o governo. Com isso, os impostos cobrados dos veículos de altas emissões financiariam maiores subsídios aos veículos elétricos. As vendas de carros elétricos no Brasil, aponta o estudo com base em dados de 2023, são altamente concentradas em três marcas chinesas: BYD, que inaugurou oficialmente nesta quinta-feira (09/10) uma fábrica em Camaçari, na Bahia, Geely e GWM, cuja fábrica em Iracemápolis, no interior de São Paulo, também entrou em operação neste ano.

Por sua vez, as montadoras tradicionais vendem proporcionalmente menos carros elétricos no Brasil do que no resto dos principais mercados do mundo, sendo que algumas sinalizaram uma ênfase dos investimentos nos motores a combustão. Ainda que o motor bicombustível dos carros produzidos no Brasil permita menos emissões do que os movidos exclusivamente a gasolina, sua mitigação de gases de efeito estufa depende da escolha do etanol como combustível, que por sua vez está condicionada aos preços dos combustíveis. Embora tenha a ambição de atingir a neutralidade de carbono até 2050, o Brasil não definiu metas específicas ao setor de transportes nem estabeleceu prazos para a eliminação gradual dos carros a combustão interna. Muitas montadoras tradicionais, conforme resultados do estudo, tampouco estabeleceram metas específicas para o Brasil, ou têm metas globais que podem ser aplicadas ao País, porém com menor ambição do que em outros grandes mercados.

Considerando o potencial limitado dos híbridos flex para reduzir as emissões, a contínua ausência de ações regulatórias voltadas à descarbonização da frota nacional pode resultar em um mercado dominado por tecnologias veiculares defasadas, além de representar um desafio significativo para o Brasil alcançar as metas do Acordo de Paris. Segundo a Anfavea, as estratégias usadas pelos fabricantes de veículos variam de acordo com a realidade econômica de cada país, e o uso do biocombustível é uma solução eficiente de descarbonização a curto prazo, já sendo avaliada, inclusive, em mercados citados no estudo do ICCT, como Índia e Japão. A associação das montadoras salienta que políticas voltadas ao setor, como o Mover, já reduziram em 35% as emissões de carbono dos veículos brasileiros nos últimos 13 anos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.