30/Oct/2025
Em troca da revisão do tarifaço dos Estados Unidos, o Brasil deve ceder e indicar uma redução na alíquota de 18% cobrada sobre as importações de etanol norte-americano. A medida gera preocupação aos produtores de biocombustível da Região Nordeste, que são contra essa facilitação no comércio com os Estados Unidos. A melhoria nas condições para exportação de etanol esteve no topo das prioridades norte-americanas desde o início das negociações com o Brasil na área agrícola. Recentemente, o Ministério da Agricultura e a diplomacia brasileira haviam recebido sinais de que o tema seria colocado sobre a mesa. Posteriormente, representantes das usinas brasileiras de etanol fizeram contato com o ministro Carlos Fávaro e enviaram ofício com pedidos ao governo para não ceder nessa área nas tratativas com os Estados Unidos. Deve haver nova pressão dos Estados Unidos pela redução tarifária do etanol, mas o setor produtivo brasileiro será ouvido e consultado antes de o ‘martelo ser batido’ na negociação.
Recentemente, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) e a Bioenergia Brasil negaram a existência de qualquer negociação com o governo federal para redução da tarifa de importação do etanol norte-americano. As entidades disseram que mantêm confiança na condução responsável e equilibrada do governo federal nas discussões comerciais com os Estados Unidos e reforçaram que qualquer debate sobre política tarifária deve preservar a segurança energética, a estabilidade das regras e a credibilidade do Brasil como líder na transição energética de baixo carbono. Para o setor, o etanol brasileiro é um ativo estratégico de soberania nacional e não pode ser tratado como “moeda de troca em negociações comerciais”. A tarifa de 18% é aplicada desde 2023, após um período de isenção. O Brasil condiciona a redução na taxa a uma expansão do acesso ao mercado de açúcar nos Estados Unidos, atualmente limitado a uma cota de 155 mil toneladas distribuída entre usinas da Região Nordeste ou a cobrança de alíquotas acima de 64% após o “tarifaço”.
Do lado brasileiro, há reclamações de que o etanol norte-americano, produzido à base de milho, recebe subsídios e gera concorrência desleal com a produção nacional, ainda liderada pelo uso de cana-de-açúcar como matéria-prima. Por isso, as negociações vinculam qualquer recuo nas tarifas sobre o biocombustível à melhoria de acesso para o açúcar brasileiro. Os produtores brasileiros argumentam, também, que a cadeia nacional é mais sustentável. Mesmo com as tarifas, os Estados Unidos exportaram 111,5 mil toneladas de etanol entre janeiro e setembro de 2025, com faturamento de US$ 68,4 milhões. Os números superam o desempenho de todo o ano passado, quando os norte-americanos venderam 86,2 mil toneladas; negócios que renderam US$ 50,1 milhões. Em setembro, o segundo mês com a vigência do “tarifaço”, os Estados Unidos reduziram em 52,8% as importações de café do Brasil na comparação com setembro de 2024, segundo o Conselhos dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Foram adquiridas 332,8 mil sacas de 60 Kg do grão. Com isso, os Estados Unidos caíram para o terceiro lugar no ranking mensal de importadores. Historicamente, o Brasil é o principal fornecedor de café dos Estados Unidos, com cerca de 30% do mercado. Em 2024, os produtores brasileiros exportaram 471 mil toneladas para os norte-americanos, com faturamento superior a US$ 2 bilhões. Com a queda nas vendas por conta do “tarifaço”, os embarques ao país estão em 249,5 mil toneladas até setembro, com renda de US$ 1,6 bilhão. Ao todo, foram embarcadas 2,8 milhões de toneladas de café no ano passado a destinos do mundo todo. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, confirmou que o café estará na mesa de negociação e que existem duas estratégias: tentar uma suspensão imediata de todas as tarifas para o produto enquanto os governos trabalham para concluir um acordo comercial bilateral ou incluir o café na lista de isenção produto a produto, medida que pode garantir recuo, ao menos, da aplicação da tarifa adicional de 40%.
No caso da carne bovina, o Brasil estava ampliando as exportações gradualmente para os Estados Unidos, onde o produto nacional é usado como ingrediente para a fabricação de hambúrgueres, principal forma de consumo da proteína animal pela população norte-americana. Em 2024, foram 229,5 mil toneladas. O ritmo estava mais acelerado em 2025, com 218 mil toneladas até agora. Mesmo com retração nos embarques aos Estados Unidos nos dois meses de vigência do tarifaço (9,3 mil toneladas em agosto e 9,9 mil toneladas em setembro), as vendas continuam apoiadas na competitividade do produto nacional, diz a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). No acumulado do ano, os embarques de carne bovina aos Estados Unidos aumentaram 64,6% em volume e 53,8% em valor em relação a 2024. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.