23/Mai/2019
Febre nos Estados Unidos, hambúrgueres feitos com vegetais, mas que imitam carne bovina em aparência, textura, aroma e sabor estão prontos para chegar à mesa dos brasileiros. Criados com tempero tecnológico para dar a soja, ervilha e outros grãos e vegetais características de carnes, os alimentos já estão no portfólio de pelo menos quatro empresas nacionais. Além da prateleira dos mercados, também surgem nas lanchonetes. A meta é atender os 30 milhões de vegetarianos do País, segundo o Ibope, e diversificar o consumo da “carne” no Brasil. Quem chegou primeiro ao mercado nacional foi a startup Fazenda Futuro. O Futuro Burger entrou no cardápio de uma rede lanchonetes e o desempenho foi acima das expectativas: na noite de estreia, foram vendidos 400 hambúrgueres, contra 150 estimados para o dia. Nas próximas semanas, os discos de carne vegetal da empresa também chegarão ao Pão de Açúcar e ao St. Marché. A bandeja, com duas unidades, custará R$ 17,00. No segundo semestre, a startup também pretende fornecer carne moída e polpetone vegetal para a rede Spoleto.
Para imitar um hambúrguer bovino, a empresa estudou por dois anos o mercado de carnes até criar sua fórmula. Chegou a “hackear” máquinas de frigoríficos. Na composição, proteína de soja, grão de bico, ervilha, aromatizantes e temperos naturais, além de beterraba, usada para imitar “o sangue” da carne. A Fazenda Futuro pretende melhorar o produto com ajuda de inteligência artificial e feedback dos usuários. Não é uma indústria convencional que lança produtos a cada um ou dois anos, mas sim uma empresa que atualiza o ‘sistema operacional’ segundo demandas dos usuários. O mercado não é só o vegetariano: os concorrentes são os frigoríficos. Outra startup desse mercado é a Behind the Foods. Sua receita leva batata, proteína de soja isolada, jaca, beterraba e “temperos secretos”. Seus produtos, porém, irão parar apenas em lanchonetes. Para os próximos meses, o plano é lançar novos cortes, com produtos que imitem picanha ou maminha, por exemplo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), a carne vegetal deve diversificar o consumo no País.
É a prova de que há uma nova demanda sendo atendida pelo setor. As gigantes da proteína animal estão de olho nesse mercado: a Seara, do grupo JBS, lança nos supermercados em 1º de junho o seu Incrível Burger, que levará soja, trigo, beterraba e gorduras vegetais. A empresa levou dois anos para desenvolver sua fórmula própria. O objetivo é fornecer opções para quem não quer comer carne de origem animal. Quem também entrará no setor é a Superbom, com um produto que imita carne, mas é feito à base de proteína de ervilha, óleo de coco e temperos. Difícil é saber, porém, qual o grau de tecnologia usado nessas receitas. Segundo o Centro de Tecnologia de Carnes do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), as carnes vegetais brasileiras se assemelham à proposta da startup americana Beyond Meat. Fundada em 2009, a empresa usa uma combinação de ingredientes vegetais conhecidos para fazer hambúrguer e até linguiças. Nos Estados Unidos, a receita deu certo, ao menos na bolsa.
No início do mês, a Beyond Meat abriu seu capital com valorização de 163%. As empresas brasileiras estão longe do nível de inovação de outra norte-americana, a Impossible Foods. Criada por um professor de bioquímica da Universidade Stanford, a empresa conseguiu fazer “soja que sangra” ao isolar a molécula da hemoglobina e inseri-la no grão em quantidades massivas, mudando sua genética. O salto tecnológico é brutal, mas também são necessárias aprovações regulatórias. Nos Estados Unidos, a Impossible Foods recebeu aprovação, mas os estudos ainda não foram finalizados. Já os hambúrgueres feitos com soja e ervilha são menos sujeitos à regulação, uma vez que só combinam ingredientes que já existem. Ainda assim, há dúvidas sobre como os alimentos modificados podem afetar a saúde. Há tendência de transformar a carne bovina em vilã, mas não se pode negar que as carnes vegetais podem ser boa opção ambiental. Também é complicado entender o real impacto que os hambúrgueres vegetais podem ter no planeta, em questões como consumo de água ou emissão de gases para a atmosfera. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.