03/Jul/2024
Cientistas que acompanham a propagação da gripe aviária estão cada vez mais preocupados com o fato de que lacunas na vigilância possam deixá-los vários passos atrás de uma nova pandemia. Muitos deles têm monitorado o novo subtipo de gripe aviária H5N1 em aves migratórias desde 2020. Mas, a propagação do vírus a 129 rebanhos leiteiros em 12 estados dos Estados Unidos sinaliza uma mudança que poderá torná-lo transmissível entre humanos. Infecções também foram encontradas em outros mamíferos, desde alpacas até gatos domésticos. Para a Universidade da Pensilvânia, a percepção é de que uma pandemia se desenrolando em “câmera lenta”. Por ora, a ameaça é baixa, mas isso pode mudar de repente. Quanto mais cedo for o alerta de um salto para humanos, mais cedo as autoridades de saúde globais poderão tomar medidas para proteger as pessoas, iniciando o desenvolvimento de vacinas, adotando testes em larga escala e tomando medidas de contenção.
A vigilância federal em torno das vacas leiteiras dos Estados Unidos está, no momento, limitada a testes de rebanhos antes de cruzarem as fronteiras estaduais. Os esforços por testes em nível estadual são inconsistentes, enquanto os testes de pessoas expostas a bovinos doentes são escassos. É preciso saber quais são as explorações positivas, quantas vacas são positivas, com que facilidade o vírus se dissemina, durante quanto tempo as vacas permanecem infecciosas, e a via exata de transmissão, ressalta o Erasmus Medical Center, de Roterdã. O Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, lamenta que a vigilância em humanos permaneça “muito limitada”. A rede de vigilância da gripe humana dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) é descrita como um mecanismo passivo de notificação e apresentação de dados. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) é mais proativo nos testes de vacas, mas não divulga quais fazendas são afetadas.
Vários especialistas afirmam que abordagens diferentes de agências de saúde animal e humana podem dificultar uma resposta mais rápida. Segundo o Centro de Segurança Sanitária Johns Hopkins, se fosse projetar o sistema do zero, teria um órgão centralizador. Este não é o único exemplo em que há problemas ambientais ou animais causadores de doenças em humanos. O USDA menciona que está trabalhando “24 horas por dia” com o CDC e outros parceiros em busca de uma resposta única de todo o governo, acrescentando que pesquisas em andamento mostram que o abastecimento de alimentos dos Estados Unidos permanece seguro. As vacas doentes geralmente se recuperam após algumas semanas e o risco para a saúde humana permanece baixo. O CDC afirma que o USDA e os departamentos de saúde estaduais e locais de todo o país vêm se preparando para o surgimento de um novo vírus influenza há quase duas décadas e monitoram continuamente até mesmo as menores mudanças no vírus. Mas, algumas pandemias, incluindo a Covid-19, chegam sem aviso prévio.
Na última pandemia de gripe, causada pelo H1N1 em 2009, o vírus e os seus antecessores espalharam-se pela primeira vez entre animais durante vários anos. Mas, uma vigilância maior teria ajudado as autoridades de saúde a se prepararem. Três pessoas nos Estados Unidos testaram positivo para gripe aviária H5N1 desde o final de março após contato com vacas, apresentando sintomas leves. Uma pessoa no México foi infectada com uma cepa H5 diferente, não vista anteriormente em humanos, e sem exposição conhecida a animais. Outros casos foram relatados na Índia, China e Austrália, causados também por cepas diferentes da H5N1. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o risco do H5N1 para os seres humanos é baixo porque não há evidências de transmissão humana. Algumas ferramentas estão disponíveis se isso mudar, incluindo quantidades limitadas da vacina H5N1 existente e medicamentos antivirais como o Tamiflu. Se necessário, existem mecanismos para iniciar a produção em larga escala de testes, tratamentos e vacinas, afirma a Organização das Nações Unidas (ONU).
Outros especialistas afirmam que há motivos suficientes para começar a se preparar para uma potencial disseminação em humanos, embora os gatilhos para tomar medidas sejam diferentes dependendo do papel desempenhado na resposta, segundo a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI). A CEPI agiu cedo no financiamento do desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 e agora está em negociações com parceiros de pesquisa sobre o H5N1. O CEPI pretende criar uma biblioteca de protótipos de vacinas para patógenos com potencial pandêmico. Isso ajudaria os fabricantes de medicamentos a iniciarem a produção em larga escala e distribuir vacinas quando necessário em, no máximo, 100 dias após o surgimento de um surto. Alguns países estão adotando medidas para proteger as pessoas contra o H5N1. Os Estados Unidos e a Europa atuam para garantir doses de vacina contra a gripe “pré-pandêmica” que poderiam ser utilizadas em grupos de alto risco, incluindo trabalhadores agrícolas ou de laboratório.
Espera-se que a Finlândia se torne o primeiro país a inocular trabalhadores de explorações de peles e aves, bem como os profissionais em saúde animal. Expandir o acesso às vacinas também é complexo, disse a OMS. Os potenciais fabricantes de vacinas contra a gripe pandêmica são produtores de vacinas contra a gripe sazonal e não estão em condições de produzir as duas ao mesmo tempo. Como a maioria das vacinas contra a gripe é elaborada com vírus cultivados em ovos, pode levar até seis meses para produzir vacinas contra a pandemia. Os Estados Unidos negociam com a Moderna o uso de sua tecnologia de mRNA mais rápida para vacinas contra a gripe pandêmica. Todos os especialistas reconheceram a necessidade de uma ação rápida, mas equilibrada, para evitar a ameaça de uma reação exagerada. Segundo a University College de Londres, a ideia é emitir um sinal de cautela, mas sem dizer que o mundo está prestes a acabar. Fonte: Reuters. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.