23/Aug/2024
Um projeto recém-lançado por pecuaristas de Mato Grosso reconhecidos por adotarem práticas sustentáveis pretende gerar créditos de carbono em um novo modelo: não só pelo que os criadores conservam ou restauram de vegetação, a forma mais comum de geração de créditos de carbono, mas também pela produção em si. Com a iniciativa, o grupo de produtores, situados entre Cerrado e Amazônia, biomas que sofrem forte pressão por desmatamento, busca aprimorar e implementar técnicas de conservação do solo, de manejo de bovinos, de intensificação pecuária e do uso de insumos biológicos, entre muitas outras possibilidades, para garantir a conservação e o sequestro de carbono, transformando esses benefícios em créditos no mercado voluntário global. Terão também aumento da produtividade, um boi baixo carbono e renda extra gerada pelos créditos, além de reduzir a necessidade de desmatamento, mesmo o permitido por lei.
A Liga do Araguaia, que completou dez anos este ano e conta com 75 fazendas pecuárias em 12 municípios do Vale do Araguaia, leste de Mato Grosso, está à frente da iniciativa, juntamente com a Ambipar Environment, um braço da Ambipar. Segundo a Liga do Araguaia, a grande vantagem para os produtores será o estímulo à adoção de práticas sustentáveis, e de uma maneira mais rápida, contando com assistência técnica para tornar a atividade sustentável. Muito além da possibilidade de renda extra com a geração dos créditos de carbono, haverá ganhos ambientais e de produtividade. Segundo a Ambipar Environment, o projeto vai partir, em cada propriedade, de uma "linha de base". Ou seja, as condições que forem encontradas dentro dos critérios analisados naquele momento serão o "marco zero". "As melhorias feitas a partir de então, avaliadas ao longo do tempo e que efetivamente contribuírem para mitigar ou impedir emissões de gases do efeito estufa, poderão ser transformadas em créditos de carbono.
A participação dos pecuaristas no novo projeto será voluntária, mas houve forte adesão a iniciativas anteriores. Ao longo de dez anos, o grupo se engajou a planos lançados pela Liga do Araguaia, como Carbono Araguaia, Campos do Araguaia, Garantia Araguaia, Rebanho Araguaia, Conserv no Araguaia e Araguaia Sustentável. Nesse período, pelo menos 73 fazendas pecuárias participaram de algum projeto da Liga do Araguaia, o que equivale a 388,24 mil hectares e 138 mil cabeças de gado. Apesar de o grupo já ter uma pegada ambiental e partir de uma "linha de base" alta para gerar créditos de carbono, ainda há muitas oportunidades para que a pecuária da região seja ainda mais sustentável. Além de técnicas de intensificação de pastagem, como a terminação intensiva a pasto (TIP), prática em rápida expansão na região, há também o avanço do uso de insumos biológicos e de biocombustíveis, entre muitas outras.
No dia 19 de agosto, quando a iniciativa foi anunciada durante dia de campo promovido pela Liga do Araguaia, pelo menos 15 pecuaristas demonstraram interesse. A Ambipar Environment afirma que a expectativa para o primeiro ano é contar com pelo menos 10 mil hectares no projeto, que terá duração de 30 anos. Mas, a área potencial é de até 200 mil hectares nos primeiros dez anos. Em geração de créditos de carbono, que serão comercializados no mercado voluntário, a expectativa é de 100 mil toneladas de CO2 equivalente por ano. Ao fim dos 30 anos, pode alcançar 3 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Em relação ao crescimento esperado do projeto, inicialmente as fazendas podem destinar ao projeto apenas uma parte da área disponível. Quando a propriedade rural entra numa 'dieta de carbono' não necessariamente precisa inserir toda a fazenda. Na área destinada, o participante estabelece os controles adequados, treina equipes, implementa ou modifica práticas de manejo, etc.
Também há pecuaristas que não vão entrar no primeiro ano, mas no segundo, terceiro, quarto anos e assim por diante. Outro ponto a justificar adesão mais "cautelosa" ao projeto em um primeiro momento são os possíveis resultados. A primeira pergunta do produtor é "quanto eu vou ganhar com isso? A Ambipar Environment tenta deixar claro que não é o crédito de carbono que será uma agregação importante de renda para a propriedade. Mas, os projetos como esse favorecem o pecuarista a adotar novas práticas, além de aumentar a produtividade e agregar valor e liquidez a um produto de baixo carbono, que é o que os frigoríficos procuram cada vez mais. O projeto desenvolvido pela empresa e feito em parceria com a Liga do Araguaia será registrado na plataforma Verra, a principal certificadora global ligada a projetos de carbono e que conta com auditoria independente. O investimento ainda não foi divulgado porque a parceria ainda está sendo negociada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.