26/Aug/2024
A região do Mar Vermelho se destaca como uma das mais importantes para a logística global de navios cargueiros devido à sua localização geográfica crucial. Ela conecta o Mar Mediterrâneo ao Oceano Índico através do Canal de Suez, que é uma das rotas marítimas mais relevantes para o comércio internacional. Além da importância no transporte de petróleo e gás natural, a região também se destaca no transporte de produtos industriais e alimentícios, incluindo grãos e até mesmo derivados lácteos. Desde meados de 2022, a região vem sendo marcada por diversas instabilidades, podendo se dizer que o ponta pé inicial se deu pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, que iniciou em fevereiro deste mesmo ano.
Desde então, a região passou por bloqueios de portos, destruição de infraestrutura, restrições de navegação, piora na segurança marítima e geração de necessidade de desvios de rotas, tendo como uma consequência de todos esses fatores o aumento no custo logístico de diversas cadeias, como energia, automobilísticos, alimentícios e outros. Mais recentemente a instabilidade da região voltou à tona devido aos ataques dos Houthis a alguns navios que passavam pelo canal. Os Houthis constituem um movimento político que controla a maior parte do território iemenita, e segundo declarações do grupo, os ataques continuarão enquanto durar a guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. Os Houthis têm afirmado que os seus ataques visam navios ligados a Israel, aos Estados Unidos ou à Grã-Bretanha, no entanto, muitos dos navios atacados têm pouca ou nenhuma ligação com a guerra Israel-Hamas.
Desde novembro de 2023, o grupo apoderou-se de um navio e afundaram outros dois. Diante dessa dificuldade na região, grandes países importadores têm procurado outros parceiros comerciais para manter seus abastecimentos e evitar a rota em questão. No caso dos lácteos é o que tem ocorrido com países do Oriente Médio e Norte da África, como a Argélia, que é um importante importador de lácteos, com a região do Mar Vermelho dificultando, ou até mesmo em alguns períodos impossibilitando, a chegada de lácteos de um dos seus principais fornecedores mundiais, a Nova Zelândia. Dessa forma, é possível observar a Argélia voltando a aumentar suas compras de leite em pó integral (LPI) industrial de países como Argentina e Uruguai.
Apesar de o Brasil seguir pagando valores acima dos resultados dos leilões GDT para os lácteos desses países, e, portanto, seguir sendo uma preferência nas vendas argentinas e uruguaias, essa movimentação cria um sinal de alerta, onde a Argentina e Uruguai podem acabar fortalecendo suas relações comerciais com os países fora do Mercosul que têm procurado mais pelos seus derivados lácteos. Nesse cenário, fica o questionamento de até quando os principais fornecedores brasileiros de lácteos (Argentina e Uruguai) recuarão seus preços para continuar vendendo ao Brasil, visto que outros compradores podem se mostrar mais competitivos no futuro, algo que possivelmente mudaria o cenário das importações brasileiras e dos preços praticados aqui no Brasil. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.