ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

18/Mar/2025

Carnes: China pode restringir importação dos EUA

Centenas de frigoríficos dos Estados Unidos que obtiveram acesso à China em um acordo comercial estabelecido na “Fase 1” de Donald Trump (2020) perderam a acessibilidade no domingo (16/03), o que, em meio a uma nova guerra comercial, põe em jogo cerca de US$ 5 bilhões em vendas ao maior mercado de carne do mundo. Perder o acesso à China representaria um novo golpe para a agropecuária norte-americana depois que a China impôs, no início deste mês, tarifas retaliatórias sobre cerca de US$ 21 bilhões em produtos agrícolas norte-americanos, incluindo taxas de 10% sobre as importações de carne suína, bovina e laticínios dos Estados Unidos. A China exige que exportadores de alimentos se registrem na alfândega para vender na China. O status de registro de plantas de carne suína, bovina e de aves dos Estados Unidos, incluindo algumas de propriedade de grandes empresas como Tyson Foods, Smithfield Packaged Meats e Cargill Meat Solutions, foi alterado de “efetivo” para “expirado”, de acordo com o site da Administração Geral de Alfândegas da China (GACC).

A China não respondeu aos repetidos pedidos de agências do governo dos Estados Unidos para renovar os registros de plantas, informou o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em um relatório na semana passada, o que violaria normas estabelecidas no acordo da Fase 1. Os registros de cerca de 84 plantas expiraram em fevereiro e, embora as remessas das plantas afetadas continuem passando pela alfândega, a indústria não sabe por quanto tempo a China permitirá as importações. Segundo a Federação de Exportação de Carne dos Estados Unidos, o risco envolvido no envio de produtos com data de validade próxima é alto. A situação certamente é terrível se os registros para essas plantas não forem renovados. A ocorrência tem a atenção de todos os exportadores. O USDA tornou as expirações uma questão prioritária nas discussões com a China. O Porto de Xangai também impôs inspeções e documentação mais rigorosas para cargas de carne dos Estados Unidos, com alguns contêineres sujeitos a desembalagem e inspeção completas, aumentando o tempo de processamento e taxas adicionais.

À primeira vista, não há sinais que sugiram que a China esteja em vias de impor uma proibição geral. Centenas de plantas tiveram seus registros renovados até 2028 ou 2029, de acordo com um diplomata sênior baseado em Pequim. Os Estados Unidos foram o terceiro maior fornecedor de carne da China no ano passado, depois do Brasil e da Argentina, respondendo por 590.000 toneladas ou 9% do total das importações. O Brasil lidera na exportação de carne à China com mais de US$ 8,3 bilhões em exportações, seguido pelos Estados Unidos, com US% 2,5 bilhões, e Argentina, Austrália e Nova Zelândia, cada um contribuindo com mais de US$ 1,3 bilhão. O acordo comercial “Fase 1”, assinado em 2020, encerrou a primeira guerra comercial EUA-China com uma promessa do governo chinês de aumentar suas compras de bens e serviços dos Estados Unidos, incluindo carne, em US$ 200 bilhões ao longo de dois anos. A China não atingiu a meta, acordada pouco antes do surgimento da pandemia.

Naquele ano, 1.124 plantas de processamento de carne bovina, de aves e de suínos ou instalações logísticas foram registradas na alfândega chinesa para exportação, de acordo com o USDA, obtendo acesso ao maior importador de carne do mundo. Há 1.842 instalações certificadas hoje, mas pouco menos da metade permanecerá se o lote de registros que expirou no domingo (17/03) não for renovado. A China é obrigada, sob o acordo da Fase 1, a revisar sua lista de plantas aprovadas dentro de 20 dias após receber listas atualizadas do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do USDA, de acordo com o Meat Institute, um grupo industrial para processadores de carne dos Estados Unidos. Não está claro se os atrasos atuais constituem uma violação do acordo. O impacto potencial de licenças expiradas pode chegar a US$ 4,13 bilhões para a indústria de carne bovina e US$ 1,3 bilhão para a carne suína, disse a Federação de Exportação de Carne dos Estados Unidos. A perda de acesso à China seria um golpe especialmente duro para exportadores de partes como pés de frango e miúdos de suíno, que são menos consumidos internamente.

De fato, os frigoríficos dos Estados Unidos correm o risco de perder suas licenças para exportações de carnes para a China e, se esta hipótese for confirmada, deixarão uma lacuna no mercado que pode ser suprida por outros fornecedores, como Brasil e Canadá. Todo ano há uma renovação das permissões de exportação das plantas habilitadas pela China e há rumores de que a China pode não renovar as permissões das plantas norte-americanas devido à guerra comercial. Na última semana, circularam rumores no mercado de que a China estaria cancelando contratos dos Estados Unidos, mas não houve nenhuma confirmação de que isso aconteceu. No entanto, há frigoríficos norte-americanos que não estão ofertando produtos com embarque previsto para sair do país depois da data limite de renovação das licenças da China. Caso as permissões realmente não sejam renovadas, gigantes do setor como JBS USA, Tyson Foods, Cargill e Smithfield Foods podem ser afetadas.

Na outra ponta, a expectativa do mercado é que não só o Brasil e Canadá, mas também Argentina, Uruguai e Nova Zelândia seriam beneficiados com alguma demanda adicional vinda de China, em detrimento da carne dos Estados Unidos. Tradicionalmente, os Estados Unidos fornecem cortes traseiros, de maior valor agregado, para a China. Estes produtos são diferentes dos que a China costuma comprar do Brasil, que são os cortes dianteiros e mais baratos. Desta forma, a China poderia passar a demandar produtos deste outro nicho ao Brasil ou buscar nos demais países que também vendem cortes nobres. Os Estados Unidos ficaram na sexta posição na lista dos principais fornecedores de carne bovina para a China em 2024, atrás de Brasil, Argentina, Uruguai, Nova Zelândia e Austrália. Os Estados Unidos são o país que fornece a preços mais altos para a China entre os grandes exportadores. O preço médio foi de US$ 10.276,00 por tonelada, 122% a mais que o preço médio da carne bovina brasileira exportada para China em 2024. Se a China oficializar essa restrição, vai ser muito bom para o Brasil. Fontes: Reuters e Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.