02/Apr/2025
O rodízio de ovo é a atração principal do tradicional Tropeiro do Zezé, aberto na década de 1970 em Contagem (MG). Por dia, são servidos de 1,5 mil a 2 mil ovos fritos no restaurante. Por R$ 35,00 por pessoa (ou R$ 40,00 aos fins de semana), o cliente tem direito a um feijão tropeiro e pode comer quantos ovos quiser. Garçons passam com bandejas enormes com ovos fritos ao ponto, mal ou bem passados. Desde o começo do ano, esse rodízio ficou 25,88% mais custoso para o restaurante. O rodízio foi reajustado em janeiro e a saída agora foi diminuir a margem de lucro para não perder o movimento. Só em março, o ovo subiu 19,44%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). O restaurante está gastando em média quase R$ 200,00 a mais por dia, em relação a dezembro de 2024. Os comerciantes têm usado algumas estratégias para tentar contornar ou amenizar os efeitos dessa alta de preços. Em São Paulo (SP), a doceria Fioca também não escapou dos aumentos. Até o ano passado, só usava ovos orgânicos e caipiras de um fornecedor do interior.
Esses ovos subiram, mas menos do que os ovos comuns. Mas o uso é de cerca de 400 ovos por semana e cada ovo orgânico agora custa R$ 2,09. Foi preciso compensar o aumento não só do ovo, mas também do café, trocando parte dos orgânicos por ovos comuns em preparos em que essa mudança não influi muito no resultado, sem fazer repasses para os clientes. Calor extremo, aumento da cotação do milho e menor oferta por conta de exportações maiores explicam a variação de preço. Com a gripe aviária nos Estados Unidos, mais de 40 milhões de aves precisaram ser abatidas, o que abriu espaço para o produto brasileiro. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o primeiro fator é a alta do preço do milho, que acumula mais de 30% de aumento desde julho passado. Outro ponto é o calor extremo. Há relatos de granjas com reduções de produtividade em torno de 10%, frente aos impactos do calor nas aves. Apesar da disparada dos preços, a entidade não registrou nenhuma queda nas vendas de ovos no País este ano. Em 2024, elas subiram para 57,6 bilhões de unidades, de um total de 52,4 em 2023.
Quanto às exportações brasileiras de ovos (incluindo produtos in natura e processados), os embarques aumentaram 57,5% em fevereiro (dado mais recente). Ao todo, foram exportadas 2.527 toneladas no segundo mês deste ano, contra 1.604 toneladas no mesmo período do ano passado. Em receita, os embarques totalizaram US$ 4,936 milhões (R$ 28,4 milhões), 63,2% a mais do que no mesmo período do ano passado, com US$ 3,024 milhões (R$ 17,4 milhões ao câmbio da última sexta-feira). No entanto, a ABPA diz que o Brasil deverá produzir este ano 3,6 milhões de toneladas de ovos, enquanto a exportação esperada é de apenas 35 mil toneladas, ou seja, menos de 1% sobre o total produzido, o que seria insuficiente para provocar impacto na oferta doméstica. Para a Associação Brasileira da Avicultura Alternativa (Aval), no entanto, as exportações criaram uma oferta menor de ovo no mercado nacional. A associação representa os pequenos produtores de ovos caipiras.
Em meio à crise do ovo, há produtores de orgânicos planejando dobrar as vendas este ano. Segundo a Raiar, uma das maiores produtoras de ovos orgânicos do País, como a alimentação das galinhas que produzem ovos orgânicos é diferente, não teve tanta variação de preços como aconteceu com o ovo comum, que depende muito mais do milho. O aumento no preço do ovo orgânico acabou ficando abaixo de 5% este ano. E isso diminuiu a diferença de preço em relação aos ovos tradicionais. Nos supermercados, uma caixa de dez ovos orgânicos custa em torno de R$ 17,50. A mesma quantidade de ovo comum fica R$ 2,00 a menos. Essa diferença já chegou a ser de 100%. Então, se é para pagar mais caro, muitos consumidores estão preferindo levar um produto melhor. Em janeiro e fevereiro deste ano, a Raiar vendeu 9,2 milhões de ovos, o dobro dos 4,5 milhões dos dois primeiros meses de 2024. Para este ano, a meta é chegar 72,1 milhões de ovos orgânicos vendidos, bem mais que os 39,7 milhões de 2024.
A tendência, de acordo com a ABPA, é de que os preços dos ovos se estabilizem nos próximos meses, se o calor der uma trégua, como já tem acontecido neste início de outono. Mas, não há, até aqui, sinal de alívio. Nos supermercados de São Paulo, o ovo não sai a menos R$ 15,00 por dúzia. Quem escapou dessa disparada dos preços dos ovos foi a indústria, e por um motivo simples: grandes fabricantes de molhos, massas e outros alimentos não usam o ovo “in natura”, mas o ovo em pó, que tem validade de, pelo menos, um ano. Há também o ovo inteiro, a clara ou só a gema pasteurizados, em embalagens acartonadas, com validade de até 120 dias. Segundo a Strumpf, que fabrica ketchup, mostarda, maioneses e molhos, como usa essas alternativas, o estoque fez a indústria escapar ou, ao menos, contornar a alta de preços. A indústria não usa ovo in natura por causa da salmonella (bactéria que causa infecção alimentar) e porque o ovo em pó ou o embalado conferem mais estabilidade ao produto. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.