07/May/2025
Grandes navios cargueiros costumam transportar carros, celulares, brinquedos e todos os tipos de dispositivos tecnológicos para dentro e fora dos Estados Unidos. As exportações e importações de alimentos fazem parte desse movimento e são extremamente importantes para a economia do país. Em 2024, o setor de agricultura e alimentos representou 5,6% do PIB total, contribuiu com aproximadamente US$ 1,53 trilhão (R$ 8,6 trilhões na cotação atual) para a economia dos Estados Unidos e sustentou mais de 24 milhões de empregos norte-americanos. A dinâmica do comércio global de alimentos tem gerado um déficit contínuo na balança comercial dos Estados Unidos. Em 2024, o valor das exportações agrícolas foi de US$ 191 bilhões (R$ 1 trilhão), enquanto as importações atingiram o recorde de US$ 263 bilhões (R$ 1,4 trilhão), revelando o maior déficit comercial da história nesse setor. Os dados levam ao cerne desta história.
Um produto alimentar criticamente importante, considerado uma iguaria na China, historicamente tem sido um grande sucesso de exportação dos Estados Unidos, e agora está se tornando símbolo do estado fragilizado da política norte-americana de importação e exportação agrícola. Trata-se dos pés de galinha. Não ter um plano para lidar com o excedente de pés de galinha é uma situação lamentável, principalmente depois de virar as costas para mais de 1,4 bilhão de consumidores chineses. Essa enorme oportunidade de mercado global não deveria ser ignorada. A situação vem se desenrolando ao longo dos últimos anos. Os Estados Unidos exportaram aproximadamente 133,7 mil toneladas de pés de galinha para a China em 2022, gerando cerca de US$ 550,4 milhões (R$ 3,1 bilhões) em receita. Mas, até meados de 2023, as exportações caíram para cerca de 65,2 mil toneladas, avaliadas em US$ 358,3 milhões (R$ 2 bilhões), uma queda de 51% no volume e de 35% no valor em comparação com o mesmo período de 2022.
A redução levou a perdas substanciais de receita para os produtores de carne de frango que exportam essa iguaria (de baixa demanda no mercado doméstico) para a China. Empresas como a Tyson Foods, líder na produção de carne bovina, suína e, principalmente, de frango nos Estados Unidos, e a Pilgrim’s Pride, uma das maiores produtoras de carne de frango do mundo, controlada pela brasileira JBS, se beneficiavam ao vender pés de galinha por preços premium para consumidores chineses satisfeitos. Agora não mais. Pés de galinha (também chamados de “paws”, em inglês) são altamente valorizados na China. A indústria avícola dos Estados Unidos pode faturar de US$ 0,80 a US$ 1,00 por libra (R$ 9,96 a R$ 12,42 por Kg) ao exportar pés de galinha para a China. Em contraste, quando vendidos para empresas de reciclagem animal no mercado doméstico, os preços podem cair para apenas US$ 0,05 a US$ 0,10 por libra (R$ 0,62 a R$ 1,24 por Kg), uma queda de 90% no valor. Para empresas que processam milhões de aves por semana, esse é um choque enorme no resultado financeiro.
A Tyson exporta centenas de milhões de libras de pés por ano. Uma perda de US$ 0,50 por ave, considerando 500 milhões de aves, representa um prejuízo anual de US$ 250 milhões (R$ 1,4 bilhão). Além dos impactos financeiros, empresas fornecedoras da cadeia da indústria avícola também foram negativamente afetadas, como as usinas de reciclagem animal. Esse processo transforma subprodutos de origem animal, como restos de carne e gordura e pés de galinha, em materiais utilizáveis, como ração animal, combustíveis e outros produtos industriais. Essas usinas estão sendo sobrecarregadas com o excedente de pés de galinha, o que aumenta o desperdício e a pressão operacional. Nos Estados Unidos, pés de alta qualidade são rebaixados de grau alimentício para grau de ração, e todo o valor que poderiam ter no mercado chinês vira apenas mais um sonho avícola não realizado. A queda nas exportações de pés de galinha para a China certamente exige ações imediatas por parte dos consumidores norte-americanos que comem frango. Neste caso, eles precisam comer mais frango.
Uma pesquisa realizada em fevereiro de 2024 pela Associação Nacional de Pecuaristas dos Estados Unidos (National Cattlemen’s Beef Association), principal entidade de pecuaristas do país que representa mais de um milhão de produtores de gado de corte e criadores em todo território, indicou que 83% dos consumidores consomem carne de frango pelo menos uma vez por semana, seguida pela carne bovina (70%), suína (46%), peixe (41%) e alternativas vegetais (25%). A expectativa é que o consumo de frango continue crescendo até 2033. Em 2022, os norte-americanos consumiram, em média, 44,9 quilos de frango por pessoa. A projeção é de que esse número chegue a 48,7 quilos por pessoa até 2033. O frango continua sendo a carne mais consumida nos Estados Unidos por causa do preço mais acessível, versatilidade e aos benefícios percebidos para a saúde. Se os pés de galinha não voltarem para o mercado chinês, caberá aos consumidores dos Estados Unidos resolverem o déficit das exportações internamente. Fonte: Forbes. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.