19/May/2025
Relatório Executivo – Impacto da Gripe Aviária nas Exportações Brasileiras de Carne de Frango
Contexto Atual
O Brasil é o 3º maior produtor de carne de frango do mundo e lidera o mercado global de exportação, sendo responsável por 36% do comércio internacional da proteína. Em 2025, o cenário vinha sendo bastante favorável, com alta demanda mundial impulsionada pela redução de oferta em países afetados pela gripe aviária. No entanto, a confirmação do primeiro caso da doença em uma granja comercial localizada no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, alterou significativamente essa conjuntura. Como consequência, diversos países suspenderam temporariamente as importações de carne de frango brasileira, seguindo os protocolos sanitários acordados previamente com o Brasil.
O Que é Gripe Aviária?
Cientificamente denominada como Influenza Aviária, é uma doença viral que afeta especialmente as aves. Podem alcançar aves silvestres (terrestres e aquáticas), aves domésticas ou de produção, e também, mamíferos. Nas aves, o vírus da Influenza Aviária é eliminado nas fezes e nas secreções respiratórias. Assim, podem ser transmitidos entre os animais através do contato direto com secreções de aves infectadas, especialmente através de fezes ou através de alimentos e água contaminados. As infecções por influenza em aves são divididas em dois grupos com base em sua patogenicidade:
● Influenza aviária altamente patogênica (HPAI): é disseminada rapidamente, causando doença grave com alta mortalidade nas aves (até 100% em 48 horas).
● Influenza aviária de baixa patogenicidade (LPAI): é geralmente uma doença leve, geralmente sem impactos severos ao animal.
A contaminação por humanos é extremamente rara. Quando acontece, geralmente está relacionada ao contato direto com as aves infectadas. Isto é atestado por todos os órgãos internacionais de saúde animal e humana, como OMS, FAO, USDA, OMSA e outros. É totalmente seguro o consumo da carne de aves e ovos manipulados e preparados apropriadamente como em qualquer situação. Também é preciso esclarecer que apesar de não apresentar riscos ao consumidor, qualquer ave infectada já é descartada ainda na granja - conforme estabelecido pelas normas de saúde animal vigentes.
Estimativas de Impacto Econômico
O Ministério da Agricultura estima que o Brasil pode deixar de exportar entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões em carne de frango e derivados apenas em um mês, devido às suspensões. Esse montante corresponde a uma possível redução de 50 mil a 100 mil toneladas, considerando o preço médio internacional de US$ 2 mil por tonelada. A média mensal de exportações em 2025 tem girado em torno de 465 mil toneladas. Assim, projeta-se uma possível queda entre 10% e 20% no volume exportado no curto prazo, a depender do número de países que manterão os embargos e da duração dessas restrições.
Regionalização e Protocolos Sanitários
O impacto nas exportações varia conforme os protocolos sanitários estabelecidos com cada país. Alguns importadores optam pela suspensão total dos embarques do Brasil, enquanto outros adotam o critério de regionalização, permitindo a continuidade das compras de regiões não afetadas. A duração do embargo regionalizado depende do encerramento do foco da doença e de um período subsequente de 28 dias após a desinfecção do local.
Status Atual das Exportações
Até o momento, as exportações brasileiras de carne de aves e subprodutos estão suspensas para alguns dos principais destinos, com destaque para China, União Europeia, Argentina, Uruguai e Chile. Outros países, como Coreia do Sul, México, África do Sul e Rússia, podem adotar medidas semelhantes nas próximas semanas. Por outro lado, acordos com nações como Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Filipinas permitem a continuidade das exportações, desde que não sejam oriundas do município ou estado afetado.
A China é a maior importadora do Brasil, mas sua participação se limita a pouco mais de 10% de todo o volume vendido ao exterior. A União Europeia comprou, em 2024, 5%; os países do Oriente Médio, em conjunto, respondem por 30% das exportações de carne de frango.
Perspectivas de Normalização
A expectativa é que a regionalização das restrições seja adotada progressivamente, como já ocorreu em casos anteriores de outras doenças, o que pode mitigar os impactos econômicos. A atuação rápida das autoridades sanitárias brasileiras e a cooperação diplomática são essenciais para restabelecer a confiança dos mercados e reverter os embargos no menor prazo possível.
Efeitos em Outros Segmentos
Além da avicultura, o impacto pode se estender para os mercados de carne suína e bovina, bem como para a cadeia de insumos, especialmente grãos como o milho, utilizado na alimentação animal. Esses desdobramentos ainda estão sendo avaliados, dada a recente ocorrência do caso. Até então, o mercado interno de frango vinha com preços firmes ao produtor e no atacado da carne, com boa liquidez nas últimas semanas. O escoamento proporcionado pela exportação tem grande influência sobre o equilíbrio doméstico dos preços.
Considerações Finais
O cenário atual exige atenção contínua às medidas de controle sanitário e aos desdobramentos diplomáticos. A eficácia na contenção do foco e a capacidade de negociação com os países parceiros serão determinantes para a retomada plena das exportações. Apesar do risco imediato, o setor tem histórico de resposta eficiente a crises sanitárias e dispõe de protocolos robustos para reverter a situação com celeridade.
Fontes: MAPA, ABPA, centros de pesquisa em agronegócio e veículos de imprensa especializados.
Elaboração: Cogo Inteligência em Agronegócio.