21/May/2025
Em algumas casas, ou no que restou delas, ainda é possível ver marcas da enchente histórica que afetou o município de Montenegro, há exatamente um ano, quando o Rio Caí ultrapassou 10 metros de altura. Agora a cidade, localizada na região metropolitana de Porto Alegre, enfrenta um inimigo invisível: a gripe aviária. Na quinta-feira (15/05), a prefeitura da cidade se preparava para noticiar a abertura da colheita de citros, já que a citricultura, especialmente a bergamota, é um dos destaques da agricultura na região. Mas, da noite para o dia, a avicultura virou pauta nacional, quando o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou a detecção do vírus da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), causada pelo vírus H5N1, em uma granja de reprodução, na zona rural da região, na localidade de Bom Jardim do Caí. Foi o primeiro caso registrado no Brasil.
Desde então, chegaram à cidade 85 servidores da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul, 50 membros da patrulha ambiental da Brigada Militar, 5 bombeiros e 4 servidores do Ministério da Agricultura. No dia 16 de maio, foram sacrificadas as aves restantes na granja: a maior parte das 17 mil aves já havia morrido por causa do vírus. No sábado (17/05), foram iniciadas as vistorias das 540 propriedades rurais no raio de até 10 Km do foco de Influenza Aviária. Até segunda-feira (19/05), 84% dos locais haviam sido vistoriados. A partir desta terça-feira (20/05), as equipes vão revisitar as propriedades rurais com a presença de aves, seguindo as ações previstas no Plano Nacional de Contingência de Influenza Aviária. Também estão sendo feitas barreiras 24 horas por dia, uma de bloqueio perto da granja afetada e seis barreiras sanitárias num raio de até 10 Km para desinfecção de veículos específicos (como os que transportam material orgânico, como animais, ração, ovos, leite).
Uma das exceções é na entrada do Centro de Treinamento da Emater (Cetam), que está funcionando como base da Seapi no município, onde cada motorista que chega deve desinfectar seu veículo. O Estado pretende, nos próximos dias, demonstrar à comunidade internacional que a nossa capacidade de ação ao foco é satisfatória o suficiente para não ter todos os embargos, inclusive os previstos em acordos internacionais, como é o caso do Japão, que teve uma restrição muito pontual, sendo que o restante do Estado continua habilitado à exportação. O contato com aves migratórias/silvestres é um dos principais fatores de transmissão da Influenza Aviária. Na semana passada, um foco de gripe aviária em animais silvestres foi detectado no Zoológico de Sapucaia do Sul (RS), a 49 Km de Montenegro. Uma análise de sequenciamento genético foi feita para ver se há relação entre os dois focos.
Enquanto os resultados não chegam, o clima é de preocupação entre os produtores rurais. O setor aviário é um dos mais importantes da cidade, que tem um frigorífico de aves que exporta para o mundo inteiro, que é o segundo arrecadador de ICMS para o município. Isso vai acarretar reflexos financeiros locais e para o mercado nacional, mas ainda não dá para mensurar. Montenegro é um dos municípios pioneiros na produção avícola. Começou na década de 70 com a Frangosul, e hoje tem empresas como JBS e Vibra Foods. O setor avícola é de vital importância e envolve uma cadeia expressiva, dinâmica e complexa. As aves produzem 24 horas por dia, e qualquer alteração nesta cadeia de produção afeta diretamente toda a economia e muitas pessoas: empregados diretos em fábricas, em centros de distribuição, frigoríficos, os produtores integrados, os transportadores. Isso preocupa bastante.
São 30 aviários no município: 27 de frango e 3 de ovos. No ano passado, a produção foi de 1,9 milhão de aves, gerando R$ 64 milhões ao município. Na média, para cada morador, foram produzidos 29 frangos na cidade que fica no Vale do Caí e tem 64.322 habitantes, de acordo com o Censo do IBGE de 2022. Os moradores da cidade mostram uma certa apreensão com os desdobramentos do caso. Além da agropecuária, a cidade também se destaca no cultivo de citros, sendo que existe até mesmo um tipo de tangerina, chamada de “bergamota montenegrina”, variedade cultivada e descoberta na região, em 1940. Não é possível prever o que virá, mas é possível constatar que Montenegro venceu com resiliência vários desafios nos anos passados: pandemia em 2020 e 2021, enchentes em 2023, a catástrofe ambiental de 2024, quando praticamente 5 mil imóveis foram atingidos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.