26/May/2025
A JBS obteve na sexta-feira (23/05) a aprovação dos acionistas para dar continuidade à sua reestruturação societária, que resultará na dupla listagem de suas ações nas bolsas do Brasil (B3) e dos Estados Unidos, na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse). A operação, que envolve a criação da holding JBS N.V., sediada na Holanda, marca um dos maiores movimentos de internacionalização de uma empresa brasileira de capital aberto. As ações da JBS subiam 0,47% após o aval dos acionistas para a dupla listagem. A proposta foi aprovada em assembleia geral extraordinária da companhia e da JBS Participações. A estrutura permitirá à nova holding deter o controle indireto da JBS S.A., enquanto seus papéis de classe A passarão a ser negociados como BDRs na B3 e ações na NYSE. Com a aprovação da assembleia, a expectativa é que a estreia da JBS na Nyse ocorra em 12 de junho.
Os BDRs, por sua vez, devem começar a ser negociados em 9 de junho. As ações da JBS na B3 serão negociadas pela última vez em 6 de junho, conforme o cronograma previsto. A listagem no mercado de ações primário dos Estados Unidos deve ocorrer após várias postergações e em meio à continuidade de questionamentos políticos e ambientais no exterior. A pressão aumentou após o detalhamento da reestruturação internacional que a JBS realizará para se listar na Bolsa de Nova York, com a mudança de sua sede para a Holanda. A senadora democrata Elizabeth Warren enviou uma carta aos CEOs da JBS USA, Wesley Batista Filho, e da Pilgrim's Pride, Fabio Sandri, na semana passada. No documento, ela manifesta preocupação com a possibilidade de empresas terem feito grandes doações à posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em um esforço para influenciar decisões durante seu governo.
A Pilgrim’s Pride doou US$ 5 milhões (o maior valor individual ao Comitê Inaugural Trump-Vance), superando o montante conjunto de gigantes da tecnologia como Apple, Amazon, Meta e Google. "A decisão da SEC, tomada poucos meses após a doação da Pilgrim's Pride, levanta questões sobre influência indevida", acusa Warren. As consultorias de governança corporativa Institutional Shareholder Services (ISS) e Glass, Lewis & Co., duas das maiores do mundo, recomendaram que os acionistas da JBS votassem contra a reestruturação da empresa, alegando problemas na estrutura proposta. Em resposta, o fundo Mason Capital Management, acionista minoritário da companhia, defendeu a operação e solicitou à SEC, na semana passada, uma investigação sobre os pareceres das consultorias, os quais considera equivocados.
Segundo a carta do Mason, a dupla listagem representa uma oportunidade de criação de valor multibilionária para os minoritários da JBS, com base nos múltiplos de negociação de empresas pares listadas nos Estados Unidos. Além disso, o processo elevaria o nível de escrutínio regulatório sobre a companhia. Dias antes do prazo final para a votação, a pressão ambiental também aumentou. O Greenpeace instou os acionistas da JBS a votarem contra a listagem, em anúncio publicado no britânico Financial Times. A organização alertou que a reestruturação representa ameaças ao meio ambiente, mas também destacou que o caso é um "excelente exemplo de aquisição bilionária". No ano passado, um grupo de 15 senadores expressou ‘profunda preocupação’ com o pedido de dupla listagem da JBS e instou a SEC a investigar questões relacionadas a direitos humanos, práticas trabalhistas, precificação e impactos ambientais.
Durante a mais recente divulgação de resultados, analistas questionaram a JBS sobre o apoio internacional à dupla listagem. A companhia afirmou que a presença de investidores estrangeiros na base acionária da empresa subiu para mais de 80%, ante 65% anteriormente. Isso demonstra o apoio de investidores estrangeiros que estão comprando ações, preparando-se para a listagem nos Estados Unidos. A empresa também se ampara nas valorizações que sua ação teve no Brasil a cada passo da dupla listagem, com destaque para a alta de 18% quando o BDESPar se absteve de votar. Instituições como Bank of America, Goldman Sachs e Citi, além de casas brasileiras como a XP, projetam que a listagem pode destravar valor para os papéis da JBS.
O JPMorgan também vê potencial de valorização, mas sugere cautela: recomenda que investidores façam hedge contra uma eventual queda das ações, que acumulam perdas de quase 5% em maio, após o parecer da ISS.A expectativa é de apenas uma alta moderada para a ação. Essas dúvidas externas têm como contraponto as perspectivas mais otimistas vindas do Brasil, como no caso do Bradesco BBI, que citou recentemente um potencial de valorização das ações da JBS pode variar entre 50% e 149%, a partir de comparações coa a avaliação de mercado de pares internacionais, caso da Tyson. Apesar das pressões políticas, ambientais e de governança, o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, disse que a listagem será um novo capítulo para a empresa.
"Acreditamos que esta listagem dupla aumentará nossa visibilidade internacional, atrairá novos investidores e fortalecerá ainda mais nossa posição como líder global em alimentos", afirmou ele. Após a listagem na Nyse, a JBS será imediatamente incluída no índice Russell 1000, e poderá se tornar elegível ao S&P 500 após 12 meses. Para ingressar no principal índice dos Estados Unidos, a empresa precisa atender a critérios como sede no país, valor de mercado mínimo de US$ 20,5 bilhões e liquidez adequada. Embora a JBS já cumpra parte dos requisitos, a decisão final é do Comitê do Índice, que também avalia fatores qualitativos, como a representatividade setorial. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.