12/Jun/2025
É quase inverno, e os termômetros em Limoeiro do Norte, no interior do Ceará, marcam mais de 31ºC às 10h. Mesmo com o calor, as vacas seguem tranquilas no galpão que Arinilson Macena inaugurou no início do ano. O espaço conta com um sistema com ventilação e aspersores de água que mantém a temperatura em 25ºC, e a produção de leite não para de crescer. O caso de Macena é parte de uma transformação que vem acontecendo no sertão nordestino. Segundo o IBGE, em 2024 a captação de leite na região cresceu 6%, ritmo superior à média nacional, de 3%. Segundo a Alvoar Lácteos, líder em vendas na região, o Nordeste é, com certeza, a ‘bola da vez’ no crescimento da produção de leite.
Na região, há projetos muito grandes, com produção de 20 mil litros por dia indo para 30 mil litros, 40 mil litros. No caso de Macena, a mudança foi expressiva, a produção passou de 18 litros por vaca ao dia para 30,9 litros por vaca ao dia. O produtor também trocou as vacas girolando, mais resistentes ao calor, mas de menor produtividade, pelas da raça holandesa, que têm potencial produtivo maior, mas exigem melhores condições de conforto térmico. A grande vantagem do girolando no Ceará, em termos de produção de leite, era a resistência. Agora, com o conforto, não é preciso resistência. Chegar até esse patamar, no entanto, não foi fácil.
Macena, que tem uma empresa especializada em projetos de infraestrutura para pecuária, já havia montado três sistemas semelhantes no Ceará antes de construir o seu próprio. O investimento foi alto, R$ 2,5 milhões de recursos próprios e dois anos de dedicação. O principal desafio para que essa transformação ganhe escala no sertão ainda é o acesso ao crédito. Para enfrentar essa barreira, a Alvoar Lácteos distribuiu, no ano passado, R$ 85 milhões para financiar a modernização e ampliação da produção entre produtores de leite. A empresa busca viabilizar fontes de investimento. O Banco do Nordeste, principal financiador rural da região, também vem puxando o movimento.
A carteira de crédito voltada para a pecuária leiteira já soma R$ 7,25 bilhões. Apenas em 2024, foram liberados R$ 2,6 bilhões, um aumento de 29% em relação ao ano anterior. Esse crescimento foi impulsionado, principalmente, pela ampliação dos limites de crédito para a agricultura familiar no último Plano Safra. O teto de financiamento, que era de R$ 6 mil por família, subiu para até R$ 36 mil. Hoje, cerca de 83 mil pessoas vivem, ou ao menos garantem parte da renda, com a pecuária leiteira, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec). A maioria deles integra a agricultura familiar, que agora encontra, no conforto das vacas no acesso ao crédito, novos caminhos para crescer no sertão. Fonte: O Globo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.