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13/Jun/2025

Leite: revolução das fazendas leiteiras conectadas

A cadeia do leite, historicamente marcada por uma rotina intensiva e dependente da observação humana, vive uma transformação silenciosa, mas profunda, impulsionada pela automação, internet das coisas (IoT) e gestão baseada em dados. Essa nova fronteira tecnológica permite tomadas de decisão mais precisas, redução de perdas, bem-estar animal e maior rentabilidade para o produtor. O que antes era uma visão futurista hoje é realidade em centenas de propriedades no Brasil e no mundo, impulsionando o surgimento da chamada “pecuária leiteira 4.0”. A digitalização da produção leiteira se apoia em três grandes pilares tecnológicos:

- Sensores e IoT (Internet das Coisas):

Dispositivos conectados à internet monitoram em tempo real variáveis como temperatura corporal, ruminação, deslocamento, ingestão de água e leite das vacas. Também são usados para medir a produção leiteira individual por ordenha e identificar mastite antes dos sintomas clínicos.

- Softwares de Gestão Integrada:

Plataformas que integram dados zootécnicos, reprodutivos, sanitários e financeiros, oferecendo painéis de controle e alertas automatizados para que o produtor tome decisões com base em indicadores confiáveis.

- Automação Operacional:

Sistemas de ordenha robotizada, alimentação automatizada, raspadores de esterco e controle climático contribuem para padronização de rotinas, redução de mão de obra e melhoria no bem-estar animal.

A seguir, alguns dos avanços mais relevantes e aplicáveis às fazendas leiteiras brasileiras, com foco em retorno técnico e econômico:

- Colares Inteligentes e Brincos Eletrônicos

Empresas do setor têm desenvolvido sensores que monitoram atividade, ruminação, cio e saúde metabólica dos animais. Um estudo de uma universidade norte-americana em 2022 mostrou que o uso de colares inteligentes aumentou em até 25% a taxa de detecção de cio e reduziu em 40% os casos graves de distúrbios metabólicos.

- Ordenhadeiras Robóticas

Fabricantes especializados já operam com sucesso em propriedades médias e grandes. Apesar do alto investimento inicial, proporcionam aumento na frequência de ordenha, melhor higiene, rastreabilidade e ganho de produção por animal. Em sistemas bem manejados, o retorno sobre o investimento pode ocorrer em até 5 anos, segundo estudo de uma instituição de pesquisa agropecuária brasileira.

- Softwares com Inteligência Artificial

Tanto plataformas internacionais quanto soluções desenvolvidas por startups brasileiras cruzam milhares de dados por animal e geram modelos preditivos de desempenho, saúde e reprodução. Isso permite atuar preventivamente, com base em dados confiáveis e atualizados.

- Modelos Climáticos e Ambientais

Sensores ambientais integrados a plataformas climáticas permitem ajustar ventilação, sombreamento e alimentação, reduzindo o estresse térmico — uma das causas ocultas da perda de produtividade no Brasil. Segundo estudos de instituições de pesquisa nacionais, o estresse térmico pode reduzir em até 15% a produção de leite em regiões tropicais.

Uma fazenda localizada no interior de São Paulo é um exemplo nacional de uso intensivo de tecnologias digitais. Com mais de 3 mil vacas em lactação, a propriedade implantou um sistema integrado com: colares com sensores multivariáveis, conectados via Wi-Fi rural; rastreabilidade completa do leite, desde o animal até o caminhão; robôs de alimentação e automação de raspagem; plataforma própria com dashboards em tempo real para cada área (nutrição, sanidade, reprodução e custos). O resultado é uma produtividade média acima de 40 litros/vaca/dia, redução significativa nos casos de mastite clínica e eficiência alimentar superior a 1,7 Kg de leite por Kg de matéria seca ingerida.

A propriedade transformou dados em vantagem competitiva, e mostra que tecnologia é uma estratégia de gestão moderna. Embora promissoras, essas tecnologias enfrentam desafios como: conectividade rural limitada em algumas regiões; capacitação técnica para interpretação e uso dos dados; custo inicial de investimento, que exige planejamento e visão de longo prazo. Para as cooperativas e associações, há espaço para oferecer soluções compartilhadas, treinamento e integração de dados, atuando como hubs de transformação digital no campo.

A automação e a digitalização das fazendas leiteiras representam uma mudança de paradigma na produção animal, com impactos diretos na produtividade, sustentabilidade e bem-estar animal. Mais do que máquinas ou sensores, trata-se de adotar um novo modelo mental de gestão orientada por dados, capaz de transformar a forma como o leite é produzido, valorizando cada litro desde a origem. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.