01/Sep/2025
A Marfrig Global Foods anunciou na sexta-feira (29/08), em fato relevante, ter rescindido o contrato de venda de 3 unidades de abate de bovinos e ovinos no Uruguai para a Minerva. O acordo, assinado em agosto de 2023, previa a alienação dos ativos dentro de um prazo de até 24 meses. Segundo a Marfrig, as condições suspensivas aplicáveis à operação não foram satisfeitas até a data-limite e, portanto, o Contrato Uruguai foi resolvido de pleno direito. A companhia informou ainda que as três unidades, objetos da transação, continuam operando plenamente e reiterou que seguirá mantendo seus acionistas informados sobre novos desdobramentos. A Minerva, no entanto, contestou a decisão. Também em fato relevante, afirmou que discorda da alegação da Marfrig e entende que o contrato permanece em vigor.
A empresa destacou que a operação segue pendente de aprovação da Comissão para a Promoção e Defesa da Concorrência (Coprodec), autoridade concorrencial uruguaia. A aquisição dos 3 frigoríficos no Uruguai faz parte da negociação de ativos anunciado em 2023, que incluiu ainda 11 plantas no Brasil, 1 na Argentina e 1 no Chile, por R$ 7,5 bilhões. Todas essas operações já foram concluídas, mas a negociação no Uruguai ficou travada após negativas iniciais do Coprodec. A transação pelas unidades uruguaias havia sido acertada em R$ 675 milhões, mais correções por juros. Para tentar viabilizar a aprovação, a Minerva anunciou em junho a venda de uma das plantas adquiridas no país ao grupo indiano Allana. O órgão uruguaio, contudo, ainda não apresentou resposta ao recurso da companhia.
O cancelamento da venda de três frigoríficos da Marfrig no Uruguai para a Minerva, em acordo anteriormente fechado por R$ 675 milhões, abre um novo cenário para o setor de proteína animal no país sul-americano em meio à disputa entre as companhias. Embora não haja previsão de multa no contrato, o novo acontecimento pode favorecer a Marfrig, que continua com suas unidades em operação no Uruguai e pode aproveitar um cenário internacional mais favorável à sua operação por lá. No entanto, não está descartada a possibilidade de continuidade do imbróglio judicial. O ponto central da disputa e que impediu a conclusão da transação está na Comissão para a Promoção e Defesa da Concorrência (Coprodec) do Uruguai.
O órgão antitruste já rejeitou a operação em um primeiro momento, sob o argumento de que a Minerva teria concentração excessiva no abate de gado (mais de 40% do total do Uruguai caso a negociação fosse concluída). A empresa, que já possui quatro plantas no país, passaria a controlar sete. Como remédio, se comprometeu a vender uma das novas unidades, mas ainda não recebeu uma resposta do Coprodec. Mantendo as plantas sob sua administração, a Marfrig pode ver o Uruguai ganhar relevância em sua pauta exportadora, sobretudo pela possibilidade de exportação de carne bovina para os Estados Unidos, em situação mais favorável diante do tarifaço que incide sobre o Brasil. Mas, em comentário sobre os últimos passos da transação, a XP Investimentos ponderou sobre os desafios da operação no Uruguai. As margens no Uruguai não atenderam às expectativas, em parte devido aos preços mais altos do gado em comparação com o Brasil e ao custo estruturalmente mais elevado da mão de obra.
Enquanto a Marfrig indica que o negócio está desfeito, a Minerva insiste que a operação permanece sujeita à aprovação da autoridade concorrencial uruguaia e continua engajada no processo no Coprodec. Assim, se a autoridade decidir favoravelmente à Minerva, a disputa pode ganhar novos capítulos no campo jurídico, caso a companhia tenha interesse em concluir de fato a aquisição. No mercado financeiro, a notícia foi recebida de forma distinta. As ações da Marfrig subiam 5,37% no pregão de sexta-feira (29/08), a R$ 24,93, enquanto os papéis da Minerva tinham alta de 0,17%, a R$ 6,03. Por ora, o resultado prático é que a Marfrig continuará como a maior indústria de carne bovina do Uruguai, com quatro unidades, e a Minerva seguirá sem ampliar sua presença no país. A ‘novela’, no entanto, pode se prolongar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.