02/Sep/2025
Facções criminosas como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) têm usado barcos com cargas de pirarucu e outros peixes para transportar grandes quantidades de cocaína e skank, a “supermaconha”, pelos rios da Amazônia. Os pacotes são colocados nos cascos dos barcos e em caixas de isopor, com gelo e peixe. O cheiro camufla a droga dos cães farejadores. A atividade criminosa fez com que fosse suspensa a iniciativa do governo federal de apoio ao manejo do pirarucu na região de Tabatinga (AM), tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, segundo o Ministério da Justiça. O governo ia trabalhar com um incentivo à cadeia do pirarucu, mas deu um passo atrás justamente pela vulnerabilidade das pessoas que estavam ali e que tinham inclusive medo de se envolver nessa cadeia por causa do crime organizado.
O governo federal agora discute investir em novas cadeias produtivas na região, perto de onde foram assassinados em 2022 o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira após conflitos com um grupo que estaria envolvido em pesca ilegal no Vale do Javari. Autoridades apontam ainda queda drástica no turismo nos últimos anos, o que elevou o desafio de criar alternativas de renda à população. Alguns municípios, como Atalaia do Norte, têm índices de desenvolvimento humano (IDH) bem abaixo da média do Estado. No Alto Rio Solimões) há forte convergência de tráfico de drogas com a cadeia do pirarucu, tem vários casos do peixe sendo transportado com droga dentro. As facções agem até em comunidades indígenas e quilombolas. O avanço do tráfico de drogas na Amazônia contribui ainda para impulsionar a degradação ambiental na floresta, com alta do desmatamento e do garimpo em áreas protegidas.
Em julho, a Polícia Militar do Amazonas apreendeu 23 quilos de droga, entre cocaína e skank, em meio ao peixe em um barco em Coari, no Médio Solimões. O prejuízo foi de R$ 268,9 mil. A embarcação havia saído de Tefé com destino a Manaus. A origem geralmente é o Peru ou a Colômbia. O transporte é feito por grupos não necessariamente de faccionados. O destino é a África e a Europa. Há dois anos, a Polícia Civil apreendeu 1,5 tonelada de cocaína no Estreito de Óbidos, oeste do Pará. A droga estava escondida embaixo de uma carga de 12 toneladas de pirarucu. Além de misturar entorpecentes na carga de peixe, é usada a “caletagem” para transportar quantidades maiores: os pacotes são acoplados no fundo dos barcos. Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Amazonas, quando é muita droga, trazem no porão.
O governo do Amazonas tem quatro bases distribuídas em pontos estratégicos da malha fluvial, como no Solimões. Nos rios do Pará, são outras duas, além de uma terceira em fase final de construção. No mês passado, na base de Coari, policiais encontraram, em meio a 300 quilos de pirarucu, cerca de oito quilos de skank. Três suspeitos foram presos. Em 2024, foram apreendidas 43,25 toneladas de cocaína e maconha no Estado. Trata-se do recorde da série histórica, com alta de 50% ante 2023. Em 2025, de janeiro a julho, foram apreendidas quase 25 toneladas de droga, o que aponta para uma tendência de novo recorde até o fim do ano. No mesmo período de 2025, o Pará apreendeu quase dez toneladas de cocaína e maconha, aumento de 37,7% ante 2024. O Estado havia registrado recorde nas apreensões no ano passado: 13 toneladas de droga.
Um desafio é facilitar a denúncia de irregularidades em territórios indígenas e preservar a integridade física dos povos. Além de lançar o centro de acesso a direitos em Tabatinga, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad) planeja uma espécie de índice para medir a presença de organizações criminosas em territórios indígenas, com previsão de lançamento na Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), em novembro, em Belém. É preciso proteger e fortalecer as comunidades locais para evitar o aliciamento, evitar a colaboração com o crime. Em Atalaia do Norte, perto de Tabatinga, no Vale do Javari, comunidades indígenas trabalham há quase uma década com o manejo do pirarucu. Os projetos focam não só na pesca, mas na aproximação entre comunidades ribeirinhas e indígenas para fortalecimento e proteção dos territórios. São cerca de 69 aldeias indígenas e 17 comunidades ribeirinhas só na Terra Indígena Vale do Javari e arredores, diz a prefeitura, que lançou há quatro anos uma iniciativa de manejo.
Ela consiste em financiar expedições para que comunidades indígenas atuem na pesca manejada do pirarucu. Os lucros ficam para as comunidades e povos tradicionais. Parte das lideranças comunitárias critica o projeto, por não ver apoio às comunidades e à proteção ambiental. A complexidade logística também é um entrave. O investimento ao longo dos três primeiros anos foi de ao menos R$ 900 mil. Balanço da Secretaria de Governo e Comunicação Social de Atalaia diz que o projeto-piloto já beneficiou quase 350 de 1,6 mil famílias indígenas do Vale do Javari. A meta é que todas sejam atendidas até 2028. Conforme o município, o projeto tem apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Coordenação de Proteção Etnoambiental e Desenvolvimento Sustentável Kanamari (Copeaka). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.