05/Nov/2021
Assinado da COP26, em Glasgow, o Acordo do Metano, que estabeleceu o compromisso de cortar em 30% as emissões do gás poluente até 2030, gera para a cadeia produtiva brasileira desafios que só não são maiores do que os problemas causados pelo gás. Esses desafios mantinham ministérios como o da Agricultura, do Meio Ambiente e das Relações Exteriores resistentes ao acordo, mas mesmo assim representantes do governo brasileiro na COP26 negaram que houve pressão dos Estados Unidos para que o País aderisse. De acordo com um representante do governo que participou das negociações, não houve pressão, pois o Brasil tem todo o interesse de participar e houve um chamado à adesão. Não tem o mínimo sentido ficar fora desse acordo. Uma das considerações feitas pelo Brasil, que ao aderir ao acordo foi ter acesso aos recursos financeiros para incentivar práticas despoluentes. A participação também evita a exposição a “boicotes” e imposição de barreiras não tarifárias por parte de países importadores como os europeus.
O tema estava “adormecido” nas instâncias técnicas dos países, mas houve um chamado do presidente norte-americano Joe Biden. Há incompreensão e ignorância sobre o impacto da agropecuária nas emissões de metano. A adesão ao acordo vai fortalecer mecanismos nacionais de incentivo à pecuária de baixa emissão de gases, como a adoção de integração com lavoura e floresta, terminação intensiva e o melhoramento genético, para enfrentar os problemas com “desassombro” e inovação. Antes de falar sobre a agropecuária, é preciso falar nas emissões de setores como o de extração de óleo e gás, dos lixões e dos resíduos nas usinas. Se o Brasil não assinasse esse acordo, ficaria como pária ambiental do mundo. Para a fonte, o País não irá diminuir o tamanho do rebanho bovino e o consumo de carne para mitigar emissões de metano. O Brasil espera que a COP26 proporcione avanços nas discussões sobre as metodologias de balanço das emissões e remoções de gases. Além de se falar no quanto a pecuária emite, é preciso falar sobre o quanto ela remove também.
É necessário ter o balanço entre o que é emitido e removido pelo setor, melhorando a metodologia, pois justamente as remoções estão fora do balanço. Em comunicado oficial divulgado na quarta-feira (03/11), o governo federal reforçou que o compromisso global para a redução das emissões de metano e a declaração de florestas e uso da terra já fazem parte de iniciativas assumidas pelo país no âmbito do Compromisso Nacional Determinado (NDC) de mitigação de gases de efeito estufa, que inclui o fim do desmatamento ilegal. Em nota conjunta, os ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e das Relações Exteriores reafirmaram que o Brasil é “parte da solução” para o enfrentamento das mudanças climáticas, mas não apresentaram números nem propostas para alcançar as metas individuais assumidas na conferência. O documento ressalta que a adesão ao Acordo do Metano, demonstra que o País já possui programas que tratam do tema.
O governo destacou dois programas nessa área. O Plano ABC+, que tem como meta a redução da emissão de gases de efeito estufa, entre eles o metano. O objetivo é mitigar o lançamento na atmosfera de 1,1 bilhão de toneladas equivalentes no setor agropecuário até 2030. Na área urbana, foram destacadas a Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Programa Nacional Lixão Zero, que já contribuiu para o encerramento de 20% dos lixões desde 2019. Embora tratada com naturalidade pelo governo, a adesão do Brasil ao Acordo de Metano reforça a urgência da materialização dos fundos de financiamentos internacionais para apoiar a ampliação do uso de tecnologias no campo, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Sem ter sido consultada previamente pelo governo sobre o tema, a entidade disse que a decisão deverá ser cumprida pelos pecuaristas, mas que vai atuar na formatação das metas individuais e setoriais para não sobrecarregar os produtores. Não há surpresa ou não com a adesão. A visão do setor é de que é necessário atender e cumprir esse esforço adicional.
Mas, para que haja o alcance, será fundamental o aporte de recursos financeiros e ferramentas de monitoramento. Para a Embrapa Gado de Corte (CiCarne), de fato o Brasil precisará desenvolver, a partir do Acordo do Metano, uma pecuária mais intensiva e eficiente, de ciclo mais curto para abate, para reduzir emissões, e as novas exigências podem antecipar a exclusão de pecuaristas da atividade. Responsável por um terço do gás poluente liberado na atmosfera, a agropecuária deverá adotar mais tecnologia e capacidade de gestão para alcançar as metas impostas pelo acordo assinado em Glasgow. A exigência de uma maior intensificação, aumento de produtividade e redução de ciclos produtivos irá impor uma maior necessidade de gestão e inteligência no negócio pecuário, talvez antecipando a tendência de exclusão de uma parcela significativa de pecuaristas que até 2040 não conseguirão acompanhar os avanços e as exigências socioambientais.
Haverá um forte impacto nos sistemas produtivos, pois as emissões provenientes de esterco e liberações gastroentéricas do gado são responsáveis por uma parcela considerável das emissões de metano das atividades econômicas, algo em torno de um terço. Nesse caso, não dá para apelar para o carbono compensando no solo. Entre as megatendências apontadas pelo CiCarne para 2040, já estava a saída de produtores da atividade pecuária com impacto social relevante. Por outro lado, a existência de um portfólio de tecnologias disponíveis aos pecuaristas para atender tais demandas, como os sistemas integrados de produção, o melhoramento genético animal, o manejo e a recuperação de pastagens degradadas, os confinamentos e os aditivos. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.