ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

31/Jul/2023

Argentina: ‘dólar milho’ prejudica setor de proteínas

Produtores argentinos de carne bovina, suína e de aves, além de lácteos, alertaram sobre o impacto que o novo ‘dólar agro’ terá no setor, já que utilizam o milho como um dos principais grãos que compõem a dieta dos animais. Enquanto o governo promete recursos para compensar o impacto da nova taxa de câmbio, os diversos setores alertam que haverá um forte aumento de custos, que serão repassados aos consumidores. O preço da tonelada de milho já subiu 25% desde a implementação da medida do ‘dólar milho’, por meio da qual o governo poderia arrecadar cerca de US$ 1,5 bilhão até 31 de agosto. Se todos os outros produtos incluídos no dólar agrícola de 340 pesos por dólar forem levados em conta, a receita poderia ficar em torno de US$ 2 bilhões.

Mas, assim como a medida tem um efeito positivo para os produtores de cereais e para o governo, tem também um lado negativo: a pressão sobre os custos de vários alimentos e o seu eventual repasse para os preços. Aliás, antes não era feito justamente por esse efeito colateral no mercado interno. No Decreto 378, que criou o regime do Programa de Aumento de Exportações com o novo preço (340,00 pesos por dólar) e incorporou o milho, o governo incluiu a possibilidade de trabalhar compensações para determinados setores. O Ministério da Agricultura da Argentina trabalha neste sentido com o objetivo de evitar impactos nos preços dos alimentos. Em princípio, o objetivo é montar um esquema de repasse de recursos para os setores de aves e suínos. Mas, ainda não há nada de concreto.

O que é dado real é que os custos para esses quatro setores aumentaram entre 10% e 20% e que, na medida do possível, se o mercado validar, eles vão repassar para os preços. Segundo o Centro das Empresas Processadoras de Frango (Cepa), a alta do milho vai impactar no custo entre 9% e 11%, e é inevitável repassar. Porque, além disso, nas experiências anteriores com o ‘dólar soja’, o preço subiu 30% e depois caiu apenas 10%. Sobre as compensações, a entidade confirmou que está mantendo diálogo com o governo, que vai consultar o setor. Hoje o consumo de frango permanece constante, entre 46 e 47 quilos por habitante por ano na Argentina. No caso do setor de suínos, os cálculos feitos pelas empresas até agora indicam que o aumento que terão nos custos da ração balanceada será de 20%, afirmou a Federação Argentina de Carne Suína (FPA).

O acréscimo o suíno precisa depois desse aumento de custos, ao qual se soma o imposto PAIS para produtos importados dos centros alimentares, é elevado. O impacto é tão grave que o setor não sabe se as importações de carne suína congelada do Brasil ficarão isentas desse imposto ou não. Sobre possíveis indenizações, elas foram cobradas com atraso, então as empresas também vão buscar vender a produção por um valor maior. Segundo a Câmara Argentina de Confinamento (CAF), hoje, o preço da carne bovina acumula um atraso entre 40% e 50% em relação à inflação, mas pode subir na primavera. Esta medida ocorre em um momento muito complexo da atividade devido ao aumento da invernada e ao atraso no preço do rancho entre 40% e 50% em relação à inflação.

Até agora, havia uma margem bruta neutra e essa medição levará a uma perda. É um impacto entre 20% e 25% de todos os insumos alimentares, o que leva a aumentos médios de custo de 15%. A dinâmica de preços do setor é gerida por oferta e demanda, portanto os produtores não têm margem para repassar esse aumento de custos para o preço da fazenda. A expectativa é que até a primavera a oferta seja retirada porque os produtores devem manter mais bois no campo para engordar no pasto, mas a CAF observou que a recomposição de preços ocorrida entre janeiro e fevereiro não compensou o atraso que tinha o valor da carne. Hoje, há um nível significativo de ocupação nos currais.

São cerca de 2 milhões de cabeças confinadas e haverá um suprimento de cabeças leves nos próximos meses; o que vai faltar são os bovinos pesados, mas não se sabe como esses preços vão se movimentar. Por isso, muitos produtores estão interrompendo as compras de inverno e há boitéis cujos clientes estão restringindo a entrada de bovinos. Ou seja, embora hoje o preço esteja estável, esse cenário desestimula a produção, o que pressionaria os valores da carne no futuro. A Câmara de Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da Argentina (Ciccra), considerou que o preço da carne vai aumentar bastante quando chover muito, pois os pecuaristas não têm pastos. Será preciso esperar uma chuva forte para que, 40 dias depois, tenha capim. Quando isso acontecer, entre agosto e setembro, a carne pode subir 40%. Fonte: Diario Cuarto Poder. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.