ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

25/Jul/2023

Cacau: produtores da BA apostam na linha premium

Após perder a liderança para o Pará, o sul da Bahia quer retomar o protagonismo na produção de cacau no Brasil. No fim da década de 80, a chamada vassoura-de-bruxa, doença causada por um fungo que atinge os cacaueiros, devastou as plantações na região e levou vários produtores à derrocada. Para virar o jogo, a quantidade deu lugar à qualidade. Os produtores decidiram desenvolver novas formas para plantar o fruto e agora começam a colher os bônus dessa escolha, que tem trazido novos negócios e movimentado a economia local. A região se tornou berço para uma série de marcas de chocolate desde 2017, ano em que teve início o salto de qualidade do cacau produzido na região. Com isso, várias marcas nasceram nos últimos anos, como Dengo, Ju Arléo, Acalanto, Nusca, Caos, Aya, Nakau, Kalapa, Benevides e Monjolo.

No caso da Dengo, um dos mais emblemáticos negócios que surgiram com essa nova era do cacau da Bahia, a aposta é em chocolates com alta concentração do fruto. A empresa chega a pagar até 245% mais do que o preço da matéria-prima na Bolsa norte-americana, o que resulta numa melhor remuneração aos produtores familiares, que são maioria. Segundo a Dengo, a categoria de chocolates é muito sensível a preços. As marcas que competem por volume não se sentem tão assediadas a assumir posicionamentos mais premium. O segundo elemento é que essas marcas precisam ter uma mudança de formulação e qualidade de ingredientes que é quase um outro negócio. A média do chocolate brasileiro é de um produto com muito açúcar refinado, com concentração de mais de 50%.

No Brasil e no mundo, o que se consume é mais um doce do que um chocolate de verdade. A marca Ju Arléo Chocolates é outro destaque regional. O chocolate feito por Julianna Torres, fundadora da empresa, com o cacau de sua pequena produção familiar, ficou em segundo lugar no concurso da Academy of Chocolate, em Londres, no ano passado. O produto é um chocolate 70% que se diferencia por ser feito com mel de abelha uruçu, nativa do sul da Bahia. Tudo começou em 2020, em meio à pandemia. Com o aumento da demanda, a empresa planeja ampliar a produção com aquisição de novas máquinas ainda neste ano, além de lançar mais produtos no mercado. Outra empresa que apostou na produção de alta qualidade é a Benevides Chocolates, fundada por Leilane Benevides, em julho de 2018.

Movida pelo desejo de unir sua paixão pela confeitaria com seu trabalho como bancária, ela também começou a produzir chocolates em casa. Hoje, os produtos de maior sucesso de vendas são os sabores regionais, como o chocolate branco Canjica Baiana e o chocolate 55% cacau com jaca. A Benevides Chocolates compra cacau diretamente de cacauicultores do sul da Bahia, assim como outros insumos de produtores locais, como frutas desidratadas e itens de artesanato utilizados nos kits com seus chocolates. Para 2024, a Benevides Chocolates planeja expandir para o turismo de experiência, oferecendo aos visitantes uma vivência completa, desde a plantação do cacau até a produção do chocolate.

A indústria cacaueira brasileira busca inspiração na indústria do café, que trilhou um caminho que levou à criação de variantes de maior qualidade ou de sabores diferentes, aumentando as possibilidades de venda para fabricantes. A expectativa é de que a demanda pelo cacau brasileiro para produção de chocolates no exterior aumente nos próximos anos, afirma o Instituto Arapyaú, criado pelo fundador da Natura, Guilherme Leal. A abertura da primeira loja da Dengo em Paris pode ajudar nesse caminho. Outras marcas percebem que é possível produzir chocolate de qualidade com o cacau brasileiro. O Brasil hoje é o sétimo maior produtor de cacau do mundo, mas já chegou a ser o segundo nos anos 1980. O que derrubou o País no ranking global foi a vassoura-de-bruxa, que afetou os cacaueiros e quase dizimou as plantações.

Hoje, os agricultores já têm práticas para evitar que o fungo afete os frutos, como o enxerto de variantes mais resilientes, mas ela ainda persiste e atinge, em menor escala do que antes, parte da colheita. Apesar dos esforços de aumento da qualidade do cacau brasileiro, ainda há desafios pelo caminho. O Insper afirma que o cacau de alta qualidade produzido de forma sustentável atrai grandes empresas com estratégias ESG (meio ambiente, social e governança). Por isso, essa parcela de mercado tende a estar disposta a pagar mais por esse tipo de produto. Mas, a alta qualidade é uma vantagem temporária. Daqui a alguns anos, se todos os produtores não forem assim, não vão conseguir vender cacau para ninguém. Todos terão o mesmo produto. A partir de então, a vantagem passa a ser a consistência da alta qualidade, como já é comum observar em plantações de café. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.