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18/Sep/2024

Cacau: COP30 acende alerta para monilíase no PA

A pouco mais de um ano do início da COP30, em Belém, no Pará, uma preocupação começou a tirar o sono dos produtores de cacau do Estado: eles temem que o grande afluxo de pessoas para a conferência do clima possa levar à região a monilíase, uma doença devastadora para a cultura, e que já afetou lavouras em países que enviarão representantes ao encontro. A enfermidade já destruiu plantações de cacau em países latino-americanos, como Equador e Peru. E acendeu o alerta entre autoridades sanitárias e produtores no Brasil após a confirmação de dois focos no País, o primeiro em Cruzeiro do Sul, no Acre, em julho de 2021, e o segundo no Amazonas, na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, em outubro de 2022. Acre e Amazonas, porém, não cultivam a amêndoa. A monilíase pode ser introduzida por transporte e plantio de material vegetal infestado e até por sacarias, equipamentos e roupas utilizados em plantações onde a enfermidade existe.

Por isso, o deslocamento de pessoas oriundas de áreas com ocorrência da monilíase para aquelas sem a presença da doença pode disseminar a praga, com o transporte involuntário dos esporos do fungo. Para impedir a chegada da monilíase em seu território, o Pará gastou cerca de R$ 2 milhões em medidas de contenção em 2023. Parte do recurso foi destinada também a ações no Amazonas e no Acre, segundo o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura no Pará (Procacau), vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca do Pará (SEDAP). Há dois meses, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará solicitou, junto ao Ministério da Agricultura R$ 6 milhões para o combate à doença. Mas, o dinheiro ainda não foi repassado. O Ministério da Agricultura tem a obrigação por lei, mas o Estado está tomando a frente das ações porque a praga não espera. Neste momento, a doença é considerada controlada no Acre e Amazonas.

Os custos de fiscalização são elevados em função da vigilância ativa na divisa do Pará com o Amazonas com balsas, escritórios flutuantes no rio, técnicos e policiais. São realizadas apreensões de amêndoas vindas do Amazonas, há postos fixos nas divisas, mas isso requer muito recurso. O combustível dos barcos custa muito, por exemplo. No início de 2022, o governo federal enviou R$ 1,7 milhão para o Acre combater a monilíase, com um contrato vigente até fevereiro de 2025. Em agosto deste ano, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Acre (Idaf) solicitou a prorrogação do contrato e mais R$ 3,4 milhões. Mas, ainda não obteve resposta do governo federal. O Acre não consegue bancar as ações de contenção, já que o custo de deslocamento e hospedagem dos profissionais é alto. Cruzeiro do Sul fica a 640 Km da capital Rio Branco. O Estado precisa do aporte. Fora do convênio, o Estado gasta entre R$ 500 mil e R$ 700 mil por ano com as medidas.

O Pará e a Bahia são responsáveis por quase 94% da produção de cacau do Brasil, empatados cada um com uma produção de cerca de 140 mil toneladas em 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, 80% de toda a produção nacional é processada na Bahia. Um foco no Pará poderia levar ao impedimento do transporte do cacau entre os Estados, e as amêndoas não chegariam às indústrias processadoras concentradas no sul da Bahia. Segundo a Cooperativa Agrícola Mista De Tomé-Açu (CAMTA), as autoridades da Bahia automaticamente vão fechar as barreiras e não vão receber mais as amêndoas do Pará. A preocupação é o que fazer com a amêndoa, já que o Estado não tem indústrias para absorver a produção local. A cerca de 190 Km de Belém, a preocupação na CAMTA é sobre qual barreira será imposta para visitantes durante a conferência. Se não tomarem nenhuma medida, a chance de essa doença chegar ao Estado é grande. Isso preocupa muito.

Segundo o Procacau, o Pará tem fiscalização nos aeroportos de voos oriundos de áreas que têm foco da doença, sobretudo do Amazonas e Acre. Durante a COP30, vai haver uma intensificação dessa vigilância. O assunto preocupa o governo. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, deve participar de uma reunião com secretários de Agricultura dos Estados da Amazônia para tratar da questão. A Pasta está centralizando esforços e recursos para o combate à monilíase em quase toda Região Norte. São ações de monitoramento de ocorrência da praga. Quando há identificação, é feita poda e manejo com ureia. O governo já gastou mais do que os R$ 6 milhões para controlar o foco do Acre, e a COP30 é um ponto de atenção, “mas nada fora do normal”. A previsão é preocupante. Como a monilíase já ocorre em todos os países da América do Sul é inevitável a ocorrência no Brasil, só não é possível estimar quando. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.