24/Oct/2024
Vinícius Biagi Antonelli tem agro no sobrenome, mas resolveu trilhar um caminho diferente daquele que virou uma espécie de sinônimo de sua família. Neto de Maurílio Biagi, ex-controlador da Usina Santa Elisa, um dos nomes mais importantes da indústria brasileira de açúcar e etanol, o empresário decidiu mergulhar no mundo da agricultura regenerativa. Sua inspiração é o agricultor suíço Ernst Göstch, o papa da agricultura “sintrópica”, um sistema de cultivo que busca replicar a dinâmica de ecossistemas “virgens”, em que não houve interferência humana. Foi com essa ideia que Vinícius e o casal de investidores Romanna Remor e Gileno Marcelino criaram a Viva Regenera há quatro anos, uma iniciativa que ganha novo impulso agora que a empresa recebeu o sinal verde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar o produto que é sua principal aposta. O item em questão é o chá de guayusa, uma planta com propriedades medicinais encontrada na floresta amazônica.
“Parente” da erva-mate, ela tem mais cafeína do que o próprio café. O objetivo é resgatar o conhecimento tradicional dos povos indígenas, que utilizam ervas de infusões há séculos. A empresa instalou uma fábrica na fazenda Painal, em Cravinhos (SP), e, atualmente, comercializa mais de 20 itens, feitos à base de alimentos como gengibre, cúrcuma, cacau e maca peruana. Para a fabricação, a Viva Regenera utiliza produtos que ela cultiva em quatro propriedades próprias no estado de São Paulo ou compra de pequenos produtores de Amazonas, Mato Grosso e Pará. Vinícius pôs os pés na agricultura sintrópica e regenerativa depois de assistir a vídeos de Ernst Göstch, agricultor que segue a filosofia de “conectar saúde do solo e bem-estar humano”. A proposta do suíço não segue fórmulas prontas, e, seja como for, Vinícius diz ter misturado bem os ensinamentos de Göstch com a influência que sua família teve sobre ele. Desde o início de suas operações, a Viva Regenera já recebeu R$ 3,5 milhões em investimentos.
Desse total, Vinícius fez um aporte de R$ 1,8 milhão por meio de sua holding, a Carbisa, e R$ 1,7 milhão saíram da Angatu Venture, holding que pertence aos três sócios da empresa. Neste ano, a companhia deverá faturar R$ 3 milhões. O montante ainda é inferior aos investimentos que fizeram no negócio, mas, para 2025, a previsão de receita é de R$ 5 milhões. Esse crescimento já será reflexo dos desembolsos que os sócios fizeram para quintuplicar a capacidade produtiva da estrutura da fazenda Painal. A escolha do local para a instalação da fábrica, ainda no início do projeto, não foi casual: a fazenda, que hoje dedica-se à produção regenerativa e é adornada por paisagismo agroflorestal, já foi um antigo cultivo de cana-de-açúcar. A fábrica e seu entorno simbolizam a mudança que a empresa busca promover no setor agrícola e de alimentos. A ideia é aliar a produção sustentável e a responsabilidade socioambiental. Na unidade, são processados alimentos de produção própria, como cúrcuma, gengibre, maca peruana e cacau.
A empresa também produz misturas em pó para preparação de bebidas (ou “shots”) à base de itens cultivados por parceiros, como cogumelos, babaçu, capim-limão, beterraba, puxuri e guaraná. Com a ampliação da fábrica, o portfólio deve ganhar uma nova marca de chás, à base de guayusa. A aprovação da Anvisa permite à empresa comercializar a guayusa para o preparo de infusões no Brasil, o que abre caminho para o desenvolvimento de outros produtos que tenham a erva como matéria-prima. A fábrica também será responsável pelo envase de alimentos como o Guaraná de Maués e as farinhas da linha Culinária Brasileiríssima. Para além disso, no primeiro semestre de 2025, a empresa quer começar a produzir duas novas linhas de alimentos que exigem cozinha industrial. A empresa quer construir uma marca que permita honrar o legado valoroso da família Biagi para a agricultura brasileira.
A empresa representa a materialização da missão e dos valores dos sócios, com a produção de alimentos nutritivos e de alta qualidade, que contribuem para a saúde das pessoas e do planeta. A holding Angatu Venture tem sob seu guarda-chuva outros negócios além da Viva. Uma das apostas é a plataforma digital Viva Floresta, um marketplace dedicado a produtos naturais e orgânicos que oferece produtos próprios e de outras 50 marcas. A Regenera Venture, outro braço da holding, investe, acelera e conduz negócios em estágio inicial. Iniciativas inovadoras interessam. A opção foi por ajudar a desenvolver negócios que estejam alinhados com os ideais de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, ao mesmo em que promovam a saúde. As demais empresas sob a Angatu Venture são Viva Plantopia e Viva Floresta (que comercializam cosméticos e produtos alimentícios de base natural), Cookoa Chocolates, Regenera Global (distribuidora de produtos naturais), Selva & Paz (alimentos agroflorestais orgânicos) e Agroforestry Carbon, startup que desenvolve projetos de agrofloresta para compensação voluntária de carbono. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.